Rogério Magrini, o “Zezinho Atrapalhado”,
presidente da Câmara (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)
Presidente diz que decreto foi criado após pressão de outros vereadores.
ONG contra discriminação considerou atitude ‘preconceituosa’ e ‘inadmissível’.
por Felipe Turioni no G1
A Câmara de Vereadores de Sertãozinho (SP) decretou ponto facultativo nesta sexta-feira (21) em homenagem à ‘Consciência Branca’. O decreto foi assinado pelo presidente Rogério Magrini dos Santos (PTB) no dia 17 de novembro ao estabelecer também ponto facultativo pelo Dia da Consciência Negra, celebrado na quinta-feira (20). Na cidade não é feriado.
Uma ONG que atua na cidade contra a discriminação racial considerou a atitude “inaceitável”.
Segundo o vereador e chefe do Legislativo, conhecido como Zezinho Atrapalhado, o ponto facultativo pós-feriado da Consciência Negra foi motivado por pressão dos outros vereadores. “Quando eu quis fazer o decreto pelo Dia da Consciência Negra, os vereadores foram contra e começaram a me cobrar: ‘e a Consciência Branca?’. Achei que seria uma boa ideia, fui lá e fiz”, afirma Magrini.
Além disso, o presidente da Câmara justificou a “homenagem” porque um primo se diz vítima de preconceito por ter pele de cor branca. “Tenho um primo que chamam de maisena, de tão branco que ele é, e ele mesmo me cobrou, se tem pelos negros também deveria existir dos brancos, porque existe preconceito contra branco também”, diz.
O vereador nega que a atitude de fazer a “homenagem à Consciência Branca” seja racista e diz que decretou o ponto facultativo pelo Dia da Consciência Negra a pedido de Organizações Não Governamentais (ONGs) que lutam contra a discriminação racial.
“É a primeira vez que fazemos esse ponto facultativo e fui cobrado por ONGs, como a Cabeça Di Nego, a pedir para o prefeito que crie um projeto de lei que estabeleça o feriado na cidade inteira no ano que vem, e o prefeito prometeu que fará isso”, comenta Magrini.
‘Absurdo’
Procurado pela reportagem do G1, o presidente da ONG Cabeça Di Nego, Luís Onório, confirmou o pedido pelo feriado do Dia da Consciência Negra, mas considerou “absurda” o decreto pela ‘Consciência Branca’. “É preconceituosa e inadmissível, não há porque ter, por conta do que fizeram contra os negros no Brasil, não houve nenhuma reparação ainda”, diz.
Onório afirma que vai procurar a Câmara na segunda-feira (24) para conversar com o presidente. “Ainda não sabemos de fato o que houve, mas é preconceito e os envolvidos devem ser afastados”, comenta. Ele considera entrar no Ministério Público contra o decreto.