Campeonatos de poesias faladas ganham espaços nas periferias e centro de SP

Participantes recitam versos sobre problemas sociais; competição chegou no Brasil em 2008

Do R7

Jovens negros da periferia se reúnem no CCM (Centro de Cidadania da Mulher), próximo onde a maioria deles mora, no Grajaú, periferia da zona sul de São Paulo. No espaço que lembra uma quadra esportiva de escola, artistas e público se acomodam no chão, em um semicírculo, bem próximos um ao outro. Durante o encontro, algumas poesias são recitadas, cinco jurados escolhidos aleatoriamente no público dão notas de zero a dez e, no final da noite, um poeta sai vencedor.

O encontro se chama Slam do Grajaú e acontece na segunda sexta-feira de cada mês. No dia 9 de junho foi realizada a terceira edição. A disputa no Grajaú faz parte da onda de crescimento do campeonato de poesia falada que acontece em diversos bairros de São Paulo. As regras seguem um padrão nos slams: cada poeta tem três minutos para recitar versos autorais, sem acompanhamento de instrumento musical. A maior e a menor nota recebidas são descartadas e as outras três são somadas. Os que fizerem mais pontos se classificam para fase seguinte.

Nas regras do Slam do Grajaú, a disputa deve iniciar com 15 poetas. A segunda bateria conta com 10 competidores e cinco chegam à terceira e última fase, quando sai o vencedor. No entanto, como a terceira edição do evento contou com oito poetas inscritos, cinco passaram para a segunda fase e três disputaram a bateria final.

Antes das batalhas, conhecidas como “Grajão”, acontece o “Grajinha” (momento para os poetas recitarem, em tempo livre, poesias próprias ou de terceiros). Além disso, dentre os destaques do evento no Grajaú, segundo Leandro Mendes, um dos organizadores, está a realização de exposições e apresentações antes e durante as poesias. Na terceira edição aconteceu a exposição “Sou Minha”, da fotógrafa Alessa Melo, e uma apresentação teatral da Cia Malucômicos.

Enquanto aconteciam as apresentações poéticas no CCM, outro evento de Hip Hop era realizado ao lado, em frente ao Centro Cultural Palhaço Carequinha, influenciando no desenrolar nos poetas. “Houve um conflito de agenda e o som da hora que vem do lado vai atrapalhar um pouco nossas intervenções aqui”, explicou Luiz Semblantes, organizador que conduzia a animação do evento. Os dois grupos tentaram negociar para juntar os eventos, mas o público decidiu tentar seguir separadamente.

Durante as três baterias do Slam do Grajaú, as poesias falaram sobre o machismo, racismo, desigualdade social, o Nordeste, entre outros assuntos. Quanto mais combativo fosse a poesia, maior era o engajamento do público. Por isso, quando a vencedora da noite Cinthya Santos, a Kimani, recitava sobre “a minoria preta e feminina” as dezenas de pessoas vibravam com os versos.

Jurados escolhidos aleatoriamente avaliam poesiasKaique Dalapola/R7

No Brasil

O modelo de poesias faladas como acontece nos slams começou na década de 1980 nos Estados Unidos e ganhou popularidade em países europeus como França e Alemanha no início dos anos 2000.

Há nove anos, o estilo chegou ao Brasil e começou a ganhar muitos adeptos e espaços para serem disputados em São Paulo nos últimos três anos. De acordo com a poeta Roberta Estrela D’Alva, pioneira do movimento no Brasil, o slam é um motivo para reunir pessoas para escutarem o que outras têm a falar.

Os vencedores de diversas batalhas locais também garantem vaga no Slam BR (campeonato brasileiro de poesia) que acontece em dezembro. Na edição de 2016, a disputa nacional contou com participantes de 29 slams, de cinco estados. O vencedor do Slam BR garante vaga no campeonato mundial de Slam, que acontece em maio, na França.

Onde encontrar

Para Mayara Vaz, atual vencedora do Slam Resistência (que acontece toda primeira segunda do mês na Praça Roosevelt, centro de São Paulo), “nasce slam a toda semana”. Ela explica que está sendo feito um trabalho para mapear os locais fixos que acontecem as batalhas de poesias.

R7 separou alguns slams em várias regiões da cidade de São Paulo. Veja:

Centro. Slam Resistência
Onde: Praça Roosevelt, escadaria da Rua Augusta
Quando: Primeira segunda-feira do mês

Zona Leste. Slam da Guilhermina
Onde: Praça da Estação do Metrô Guilhermina-Esperança
Quando: Última sexta-feira do mês

Zona Leste. Slam da Ponte
Onde: Zona Leste. Slam da Guilhermina (Conj. Res. Jose Bonifacio)
Quando: Primeira sexta-feira do mês

Zona Sul. Slam do 13
Onde: Dentro do Terminal Santo Amaro
Quando: Última segunda-feira do mês

Zona Sul. Slam do Grito
Onde: Rua Nova Louzã, 66 (Estação do Metrô Santos-Imigrantes)
Quando: Penúltima quarta-feira do mês

Zona Norte. Slam da Norte
Onde: Não tem local fixo (Ver na página do Facebook)
Quando: Segunda sexta-feira do mês

+ sobre o tema

Vida e arte de Basquiat vão se transformar em um musical na Broadway

Apesar de muita gente torcer o nariz para musicais,...

Ondjaki fala sobre a sua escrita e a literatura africana

Convidado para a Fliporto, o autor angolano vem comentar...

‘Muita bravura e teimosia’, diz Vovô do Ilê sobre 45 anos do bloco

Ilê Aiyê celebra aniversário nesta quinta-feira (1º) com Daniela...

Primeiro Terreiro de Candomblé de São Paulo será reaberto sábado, dia 13, na Vila Brasilândia

Terreiro de Candomblé de Santa Bárbara como Patrimônio Imaterial...

para lembrar

Publicitário cria super-heróis contra problemas da África

Os problemas enfrentados pelo continente africano são tão graves...

Joburg Ballet, o outro sonho de Mandela

Durante o ‘apartheid’, o balé era só de brancos...

Bloco Rolezinho das Crioulas ocupa Vila Madalena

Em sua terceira edição, bloco leva cultura negra para...

Ellen Oléria estreia na tevê no programa ‘Estação plural’

A atração da TV Brasil celebra a diversidade e...
spot_imgspot_img

Casa onde viveu Lélia Gonzalez recebe placa em sua homenagem

Neste sábado (30), a prefeitura do Rio de Janeiro e o Projeto Negro Muro lançam projeto relacionado à cultura da população negra. Imóveis de...

No Maranhão, o Bumba meu boi é brincadeira afro-indígena

O Bumba Meu Boi é uma das expressões culturais populares brasileiras mais conhecidas no território nacional. No Maranhão, esta manifestação cultural ganha grandes proporções...

As injustiças climáticas atingem as mulheres negras e periféricas

A ideia, propagada durante a pandemia de covid-19, de que "não estamos todos no mesmo barco", se aplica perfeitamente à noção daquilo que advogamos...
-+=