Campina Grande conquista recorde de maior roda de capoeira estudantil do Brasil

No mês em que se celebra o Dia Nacional da Consciência Negra, Campina Grande entra para a história de uma das expressões da cultura afrobrasileira, com a formação da maior roda de capoeira estudantil do Brasil.

 

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O recorde foi confirmado pela empresa Ranking Brasil – Recordes Brasileiros, na manhã desta quinta-feira, 06, durante aulão coletivo no Parque do Povo, realizado com os alunos da rede municipal integrantes do projeto “Capoeira nas Escolas”. O recorde foi registrado com a marca de 2.807 crianças praticantes da capoeira no universo escolar.

Para a secretária de Educação de Campina Grande, professora Iolanda Barbosa, atingir essa marca tem uma importância estratégica em favor do projeto político-pedagógico plural e comprometido com o cumprimento da lei 10.639, que determina para o currículo da educação básica a inclusão da história e cultura afrobrasileira.

“A presença da capoeira na escola se torna prioritária porque ela está dentro de um recorte de um projeto político-pedagógico multicultural que compreende a educação como produto da cultura humana e das várias culturas. Lembrando que a cultura letrada é mais uma, mas ela precisa ter dentro dela todas as matrizes culturais que constituem o povo que é construtor dessa cultura”, argumentou.

Desenvolver essa relação de pertencimento junto às crianças por meio do projeto “Capoeira nas Escolas” tem gerado resultados, como a redução da evasão escolar.

“Quando começamos tínhamos a ideia de reduzir o racismo e, com o passar do tempo, percebemos a diminuição da violência e da evasão”, contou o coordenador do projeto, professor Rosemberg Pequeno, também chamado de Mestre Pequeno.

A avaliação do coordenador do projeto é compartilhada por outros professores e também pelas crianças. “Os meninos adoram e as meninas também participam sempre. Ainda tivemos redução da violência”, disse a professora de Educação Física Catarina Maria de Almeida.

A ideia do respeito ao outro e ao diferente é uma das bases do projeto, o que vem sendo internalizado pelas crianças. “Aprendi a não entrar no mundo do crime e que o racismo não faz sentido porque se você cortar um negro ele vai ter o mesmo sangue do branco”, comentou o estudante do 4º ano da Escola Municipal Drª Helena Henriques, da Palmeira, Jonatan de Sousa, de 10 anos.

Atualmente, o projeto “Capoeira nas Escolas” está nas 120 unidades escolares da rede na área urbana e rural e também em 7 creches, envolvendo 32 profissionais de 9 grupos diferentes de capoeira. “As crianças se transformam e têm a oportunidade de conhecer a cultura afrobrasileira. Isso é gratificante”, avalia a professora de capoeira Luciene da Silva, que ministra aula em quatro escolas.

Apoiado pelo Instituto Alpargatas com a logística do fardamento e do transporte, o projeto atende, segundo o coordenador, 3.600 crianças da pré-escola ao quinto ano do Ensino Fundamental.

Apesar dos benefícios, o Mestre Pequeno diz que ainda encontra resistência e preconceito contra a capoeira, especialmente por parte de alguns pais que associam a modalidade à religião de matriz africana. Entretanto, boa parte dos pais apóia o projeto. “É um esporte que ajuda na educação”, destaca Adelma dos Santos, mãe de aluno.

Projeto pode ser modelo nacional

O objetivo do Município em atingir o recorde no aulão de capoeira está relacionado com a visibilidade, projeção nacional e fortalecimento do projeto.

A secretária de Educação de Campina Grande, Iolanda Barbosa, esteve esta semana em Brasília reunida com representantes da Secretaria de Promoção da Igualdade e da Secretaria de Inclusão e Diversidade, pactuando que o programa “Capoeira nas Escolas” vai ganhar dimensão nacional e financiamento próprio.

Iolanda revelou que trouxe de Brasília material didático pedagógico para trabalhar na formação dos professores para que eles se tornem multiplicadores do enfrentamento direto do racismo na escola.

“A capoeira já está presente, mas ainda não é suficiente. A educação racial é extremante importante para sedimentar uma educação fundada nos direitos humanos e no patrimônio nacional”, argumentou.

Iolanda destacou os ganhos que a rede municipal já conquistou com o projeto. “Nós percebemos maior tolerância com relação às diferenças, o entendimento da diferença como algo constituinte do humano, a redução do preconceito e do bulling na escola. Isso porque as crianças estão compreendendo essa diversidade da qual elas também fazem parte”, afirmou.

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