Câncer: racismo aumenta mortes entre população negra, indica estudo

Risco de morrer câncer de colo de útero no Brasil é 27% maior para as mulheres negras

Dados do Ministério da Saúde, levantados por pesquisadores do Rio de Janeiro e divulgados em abril último, demonstram que o acesso ao diagnóstico e tratamento dos diferentes tipos de câncer é bastante desigual entre os brasileiros.

Embora a doença acometa toda a população, mulheres e homens negros acabam apresentando maiores índices de mortalidade. Entre as causas, apontam os especialistas, está o racismo e seus múltiplos reflexos, como a dificuldade em obter saneamento básico, moradias em condições precárias e até mesmo ausência de informações que auxiliem na prevenção e assistência.

De acordo com o levantamento, o risco de morrer câncer de colo de útero no Brasil é 27% maior para as mulheres negras, por exemplo. No caso do câncer de mama, não é diferente. Um estudo publicado nos Cadernos de Saúde Pública em 2018 mostra que, no Brasil, mulheres negras com câncer de mama têm uma sobrevida 25% menor do que as brancas.

Ainda, conforme informado pelo Portal Verdade, em 2019, de 45.790 mulheres entrevistadas com 18 anos ou mais, 13.565 nunca tinham realizado exame clínico de mamas. Entre estas últimas, 9.199 eram negras e 4.366 brancas.

Isto quer dizer que, o total de mulheres negras com mais de 18 anos que nunca fizeram mamografia – exame radiológico de alta resolução, responsável por fornecer imagens detalhadas capazes de identificar precocemente o câncer de mama, antes mesmo que a mulher tenha sintomas – é 70% maior que o de mulheres brancas.

Chama atenção também a incidência mais alta de casos de sarcoma de Kaposi, um tipo câncer de pele, entre a população negra. Em geral, a enfermidade atinge pessoas com sistema imunológico debilitado.

A assistente social Nayara Pires chama atenção para necessidade de garantir atendimento universal aos serviços de saúde. Para a pesquisadora, a falta de assistência médica é uma das formas de violência perpetradas através da discriminação racial.

“É dever e direito constitucional que todas as pessoas indistintamente tenham acesso à saúde. Contudo, sabemos que segmentos mais marginalizados da sociedade, como a população negra, enfrentam maiores dificuldades de receber atendimento. O racismo estrutural afeta esta camada da sociedade brasileira, que apesar de majoritária ainda apresenta índices mais baixos de escolarização, renda ao mesmo tempo que são mais atingidos por violência, entre outros processos de exclusão”, adverte.

“Os dados permitem uma radiografia da situação de saúde da população negra brasileira, embora haja indícios que a pandemia da Covid-19 tenha agravado essa situação e acentuado as desigualdades raciais em saúde. Estes dados evidenciam que o racismo sistêmico está também na saúde, assim como nos outros campos da vida”, evidencia.

Com outras doenças, cenário se repete

A segunda edição do Boletim Epidemiológico Saúde da População Negra, publicizado no final de 2023, ratificou os impactos do racismo. De acordo com a investigação, mais de 60% dos casos de HIV, tuberculose e sífilis afetam pessoas negras.

No recorte de uma década, de 2011 a 2021, o Ministério da Saúde detectou que houve aumento nos casos de HIV registrados em gestantes negras, que passou de 62,4% para 67,7% – nas grávidas de 15 a 29 anos, o índice chegou a 69,6%.

Na análise da população negra em geral, foi constatado um aumento dos diagnósticos positivos para o vírus, com salto de 50,3% para 62,3%.

Em relação à tuberculose, o cenário foi semelhante. No período de 2010 a 2022, cerca de 60% os casos de tuberculose estavam concentrados nesse grupo. No ano passado, quando foi registrado recorde de notificações, das 78 mil pessoas diagnosticadas, 49.381 eram negras, o que corresponde a 63,3% dos registros.

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