Cantando a resistência negra

Maurício Tizumba lança no domingo o disco “Galanga Chico Rei”, que celebra sua parceria com Paulo César Pinheiro

Por LUCAS BUZATTI, do O Tempo 

“Galanga foi um vencedor que representa a força da resistência negra. Claro que é difícil desvencilhar o sofrimento das vitórias do povo negro, mas precisamos mostrar que existiram essas figuras vitoriosas”. A frase de Maurício Tizumba evidencia que o resgate histórico e a luta pelo protagonismo negro estão entre os objetivos de seu novo trabalho – o disco “Galanga Chico Rei”, que será lançado neste domingo, em show gratuito no Teatro Oi Futuro Klauss Vianna.

Sexto trabalho de estúdio da carreira, o álbum surgiu da trilha sonora do espetáculo musical de mesmo nome, que tem texto e músicas do compositor carioca Paulo César Pinheiro. “O espetáculo fala sobre a vida desse herói que foi Chico Rei e a trilha fala das manifestações religiosas de matriz africana, que também dizem muito sobre a resistência negra”, explica Tizumba sobre a peça. “Foi uma oportunidade que tivemos de registrar um pouco da história afro-brasileira”, afirma o mineiro.

Nascido no Congo, Galanga foi um monarca guerreiro capturado por portugueses traficantes de escravos e levado para o Brasil, onde foi rebatizado Francisco e enviado para Vila Rica (antiga Ouro Preto). Lá, trabalhando como escravo, ele conseguiu comprar sua liberdade e a de seu filho. Ao conquistar poder aquisitivo, libertou também centenas de compatriotas, que o reverenciavam como “rei” – título que viria a ter oficialmente mais uma vez, no século XVIII, quando virou monarca em Ouro Preto, com a anuência do conde de Bobadela. A Chico Rei também se atribui a vinda do congado para o Brasil.

“Chico Rei foi um homem político, mas muito diferente dos políticos de hoje. Era um cara digno, honesto, que trabalhava e agia em prol do povo”, sublinha Tizumba. “Ele foi um vencedor simplesmente porque não morreu esquartejado. Pelo contrário, teve uma história de ascensão e superação, que mostra como o poder econômico proporciona melhor qualidade de vida”, pondera o artista mineiro, lembrando que, somente depois de ter ouro, Chico Rei conseguiu libertar escravos, construir igrejas e criar a Irmandade dos Homens Pretos.

Mas o disco vai além da homenagem a Chico Rei: ele também celebra a profícua parceria entre Tizumba e Paulo César Pinheiro. São 11 faixas, todas compostas pelo carioca, sendo três delas em parceria com o cantor, violonista e produtor musical mineiro Sergio Santos e duas com o próprio Tizumba. “O Paulo César é o maior compositor brasileiro vivo da atualidade, com quem tenho a honra de trabalhar já há dez anos. Foi ele quem me entregou as músicas e disse: ‘Pode gravar um disco com elas’”, conta Tizumba. “Ele e incrível. Compõe brasileiramente, pensa de uma forma brasileira. E é um cara que continua compondo coisas boas, com uma fertilidade criativa e inteligência admiráveis”.

Tizumba celebra o time que gravou o álbum, que tem Sergio Santos à frente da direção musical. “O Sergio é um grande músico, de uma qualidade acima do nível. Ele conseguiu pensar numa forma de fazer o disco que não desmanchasse minha personalidade. E fez isso com muita maestria, criando lindos arranjos”, ressalta. “E os músicos também são todos acima da média. Tem o Sérgio Silva na percussão, os vocais de Júlia Dias e Bia Ferreira, a marimba de Antonio Loureiro, o contrabaixo acústico de Beto Lopes. Só gente que toca para valer”, destaca o artista.

No show de domingo, que terá participação de Sergio Santos e da Trupe Negra do Tambor, Tizumba vai apresentar o disco na íntegra, além de duas ou três canções de seus outros álbuns. “Ainda não defini, mas vão ser músicas manjadas. A julgar pelo sucesso do espetáculo, acho que o povo vai gostar muito”, adianta.

+ sobre o tema

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o...

para lembrar

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o...
spot_imgspot_img

Feira do Livro Periférico 2025 acontece no Sesc Consolação com programação gratuita e diversa

A literatura das bordas e favelas toma o centro da cidade. De 03 a 07 de setembro de 2025, o Sesc Consolação recebe a Feira do Livro Periférico,...

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros ou que tenham protagonistas negros é a proposta da OJU-Roda Sesc de Cinemas Negros, que chega...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o Brasil teria abolido a escravidão oito anos antes da Lei Áurea, de 13 de maio de...