Cantora de “Tecnomacumba” lamenta veto a show e diz que decisão fomenta o ódio

Elverson Cardozo

Proibida de se apresentar em Campo Grande, na Quinta Gospel, a cantora Rita Ribeiro, ou Rita Benneditto, como passou a ser chamada em 2012, ficou sabendo da polêmica em torno do veto ao seu show, batizado de “Tecnomacumba”, pelo Lado B.

Em entrevista exclusiva ao canal, concedida por telefone, ela lamentou o ocorrido. Disse que a decisão da Fundac (Fundação Municipal de Cultura), além de equivocada, fomenta o ódio. “É lamentável que irmãos de fé, seja de qual for a religião, estejam se pegando por uma questão dessa. Respeite. Isso só fomenta mais ódio e a discórdia. E nenhum segmento religioso quer isso. Quer união, amor e paz”, diz.

A artista, que tem 27 anos de carreira e uma história elogiada e consolidada na música brasileira, conta que nunca havia passado por isso antes, mas, apesar da surpresa, não quer entrar no que chama de “briga religiosa”.

“Não vejo motivo de briga. Vejo motivo de se fazer valer a lei. Se a lei respalda o cidadão e diz que ele tem direito ao usufruto do espaço público que lhe é concedido, e fundação de cultura tem, por obrigação, fomentar a cultura dentro do seu estado, as pessoas tem que respeitar a lei e fazer valer o direito de uns e de outros”.

Rita não quer “brigar”, mas questiona a aplicabilidade de um lei clara que, pelo jeito, não foi compreendida pela diretora-presidente da Fundação, Juliana Zorzo, evangélica declarada. A cantora, ao contrario de Zorzo, sabe a tradução correta da palavra gospel, mas faz questão de ressaltar que, apesar disso, o nome “está diretamente relacionado ao segmento religioso do evangelismo protestante”.

Ela não discute isso. Releva, inclusive, o desconhecimento em torno de um erro que já virou regra, mas questiona a atuação de um órgão que deveria prezar pela isonomia.

“Uma fundação não pode, de maneira alguma, dar prioridade a determinados grupos religiosos e a outros não, porque a sociedade brasileira se constitui de um estado laico de direito, ou seja, tem direito a todas as suas crenças. Isso são pontos que tem que ser levantados. É isso o que vale”, diz.

Vale dizer, também, ela prossegue, que “religiosidade é particularidade do indivíduo” e as pessoas precisam entender isso. “Eu rogo a Olorum, Deus, Jeová, Jah, Oxalá, a todos os deuses, que ilumine a cabeça das pessoas para que elas passam a dar mais importância a outras coisas no mundo do que ficar se preocupando se fulano vai a um templo, uma sinagoga ou terreiro de umbanda. Repeite o indivíduo e suas escolhas. É isso que eu gostaria que existisse”.

Cantora em apresentação. (Foto: Divulgação)
Cantora em apresentação. (Foto: Divulgação)

Sobre o CD “Tecnomacumba”, que causou tanta discórdia, Rita esclarece que se trata de um projeto premiado, que completa, em 2014, 12 anos de existência e sucesso.

“Não é um projeto religioso. É cultural. Eu não sou uma cantora só de macumba. Eu sou uma cantora brasileira, que trabalha a cultura popular e reverencia, com isso, a cultura africana, especialmente sua religiosidade. […] Minha música é de transformação. É de amor, devoção e respeito ao outro. Eu não tenho interesse em entrar em nenhuma briga religiosa porque eu não faço só música de macumba”, declara, agradecendo o presidente da Tenda de Umbanda Pai Joaquim de Angola, Elson Borges dos Santos, que tentou trazê-la para a Capital.

“Quero ir à Campo Grande para ontem, mas quero ser bem recebida. Não quero invadir o espaço de ninguém e muito menos entrar nessa questão porque não vejo fundamento em brigas religiosas, porque nós temos o nosso direito garantido por lei de exercer nossa crença”, conclui.
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Fonte: Campo Granden News

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