A cantora Preta Ferreira usou seu perfil no Instagram nesta quarta-feira para denunciar um caso de racismo contra a companhia aérea Gol. De acordo com ela, funcionários desconfiaram do pagamento de sua passagem para Salvador, feito por um cartão da empresária que agencia sua carreira, enquanto ela tentava fazer o check-in em Congonhas.
Por Louise Queiroga, do Extra
— Foi um constrangimento ver todos que passavam me olhando ali parada, foi mais um dos choques de todos os dias ver que maioria branca ali não sofreu nenhum tipo de questionamento, não teve nenhum tipo de retaliação e a negra estava sendo questionada por que está ocupando aquele espaço. Isso é muito estrutural no Brasil, mas não me desanima me dá mais força eu mostrar que eu vou continuar ocupando estes espaços, seja no débito ou no crédito e com o suor do meu trabalho — relatou ao EXTRA.
Preta disse que foi impedida de concluir o procedimento e embarcar. Ela então explicou que, para não faltar seus compromissos agendados na capital baiana, que envolvem shows e palestra, acabou comprando à vista outro bilhete.
Procurada pela reportagem, a Gol ressaltou, em nota, que “não compactua com quaisquer atitudes discriminatórias e preza pelo respeito e pela valorização das pessoas” e que a prática realizada pelos funcionários “não tem qualquer ligação com atos de racismo”.
“Nesta quarta-feira (5/2), a Cliente não pôde fazer o check-in, no aeroporto de Congonhas (São Paulo), antes da verificação dos documentos fornecidos na compra do bilhete, pelo fato de nenhum dos nomes envolvidos ser titular do cartão de crédito utilizado. Com isso, foi exigido o acionamento de procedimentos de checagem de informações, descritos no contrato de transporte aéreo, explicitados no artigo 1.3, item XIII”, afirmou a companhia.
“Reforçamos que a prática não tem qualquer ligação com atos de racismo, sendo uma política de segurança aplicada em casos em que a compra é efetuada com cartão de crédito de terceiros. Esse procedimento é normal no ambiente de e-commerce, visando a proteção do portador do cartão de crédito”.
A cantora, porém, teve uma percepção diferente sobre o tratamento que recebeu e chamou atenção:
— Perguntaram quem havia comprado novamente, como se eu não fosse capaz de ter uma produtora, alguém que trabalhasse pra mim, ali eu não era uma cliente, mas uma possível suspeita. Eu respondi que era minha produtora, que eu sou cantora que estava indo agora para trabalho, então me pediram para sair da fila. Fiquei mais de duas horas esperando, eu ofereci de pagar no débito, eu precisava muito cumprir com meus compromissos profissionais — acrescentou. — Eu quis inclusive mostrar para a Gol que eu não sou uma fraude, que eles irão ter que se acostumar com mulheres negras sendo bem sucedidas pagando no débito, no crédito e também porque se eu não agisse, meu check-in ainda estaria bloqueado pela Gol.
Preta explicou que a empresária mora na Europa e utiliza um cartão internacional, que teria originado as suspeitas contra ela.
— Quando solicitaram a passagem, recebemos um e-mail pedindo para aguardar a autorização do emissor, logo conseguiram e autorizaram a passagem enviando o e-mail com a reserva e transação confirmada — contou. — Nesse momento eu estou Salvador, nos próximos dias estarei no Rio, mas eu com certeza vou atrás dos meus direitos, sei que a compra de passagens por empresários, para políticos nunca são feitas por cartões deles mesmos, queria saber as estatísticas de quantos foram parados e impedidos de fazerem check-in como eu, uma mulher negra que pra ele antes de tudo é culpada.
“A minha viagem foi paga e confirmada pelo emissor do cartão. O cartão é Internacional da plataforma de música que me agencia, a @amplificamusic agenciada pela @thata_amplifica e comprada pela @marinalemospiotto minha produtora”, relatou a artista no Instagram.
“Acontece que mulher Preta não pode ter agente, não pode viajar de avião pra ir fazer show ou dar palestra. Eu tive que pagar mais uma passagem @voegoloficial mas paguei no Débito e com o meu cartão! Sabe pq? Para vocês se acostumarem, pois mulher preta vai ser empresária, vai ser artista, vai ter agente e não vai tolerar racismo. Eu quero que vocês me reembolsem! E EU VOU PROCESSAR!!!!! #GOLRACISTA”, conclui no post.