A jovem, que não é descendente de chineses, diz que ficou completamente travada na hora e chorou muito depois de sair do vagão
Por FELIPE CARVALHO, da Marie Claire
A estudante de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro Marie Okabayashi compartilhou em sua conta do Twitter um episódio de racismo sofrido na última sexta-feira (31) enquanto viajava no metrô do Rio de Janeiro e o caso viralizou na internet. Em conversa com a Marie Claire, ela diz que escuta este tipo de comentário a todo momento, ainda que não seja, necessariamente, direcionado a ela ou ditos aos berros, como no caso de uma senhora que a chamou de “chinesa porca” no transporte público.
Ela lembra que já presenciou pessoas fazendo afirmações deste tipo em ambientes de trabalho, na faculdade, no transporte público e até mesmo em rodas de amigos, muitas vezes, mascarado em forma de “piada”
“Quantas vezes a gente não escuta que chineses são porcos, sujos e maus? Essas fake news sobre sopa de morcego e afins, criaram com o único objetivo de diminuir uma cultura e disseminar o ódio. Ou que asiático ‘é tudo igual’? Dizem que amarelos não têm empatia, expressão, fetichizam e pintam as mulheres amarelas como submissas e os homens como emasculados. O Ocidente é visto como desenvolvido e o Oriente como bárbaro”, descreve..
Marie, que não tem ascendência alguma com o povo chinês, declara que isso prova que este caso é racismo e explica que seu pai era descendente de brancos e negros enquanto que a mãe de amarelos, somente japoneses.
“E muito provavelmente sou tão brasileira quanto essa senhora, visto que integro a terceira geração da minha família nascida no Brasil. Então, fui xingada na frente de todos única e exclusivamente pela minha raça. Ninguém saberia diferenciar, fisicamente, um francês de um italiano, que são pessoas geralmente brancas, mas adoram falar que japoneses, chineses e coreanos são idênticos. E olha que a Ásia abarca quase três quintos da população mundial. Muita gente para enxergarmos de forma tão generalista e rasa. A mesma coisa ocorre com pessoas negras: enxergam a África, praticamente, como um país e não um continente”, brada.
Ela ressalta que ninguém ousaria dizer que franceses são a “mesma coisa” que italianos porque todos reconhecem que eles têm culturas e características independentes. A estudante ainda destaca que uma das principais táticas racistas é o esvaziamento cultural e identitário: “retiram nossa identidade e nossas gigantes diferenças culturais, nos colocando num ‘bolo só'”.
“Por que isso acontece somente com populações não-brancas? E, como mencionado, o assunto sobre racismo, orientalismo e sinofobia está começando a ser amplamente discutido. Minha recomendação é que leiam! Leiam Bell Hooks, Angela Davis, Sueli Carneiro, Djamila Ribeiro, Conceição Evaristo, entre tantas, além de pessoas que falam especificamente do assunto, como Kemi Shimabuko, Hugo Katsuo, Cecilia Inamura, Marcia Takeuchi”, enumera.
Ofensas no metrô
Em sua conta na rede social, a jovem descreveu que uma senhora sentada dentro do vagão percebeu sua presença e seus traços orientais e começou a proferir palavras ofensivas. Ela contou que antes de xingar na frente de todos, a idosa teceu várias ofensas supondo que ela fosse chinesa e correlacionando-a com o coronavírus que tem assustado o mundo todo.
“Me senti completamente impotente. Eu estou no 7º período em Direito na UFRJ – portanto, já sei muito sobre meus direitos e sobre como deveria ter agido na hora – e leio muito destas autoras que citei, enfim, diversas delas que fazem críticas importantes sobre questões raciais, no entanto, nada disso me impediu de travar completamente na hora e chorar muito depois. Claro que penso, agora, com distanciamento, em mil e uma atitudes que poderia ter tomado! Só que nada prepara você para coisas assim”, lembra.
Por fim, Marie avisa que já descobriu a identidade da mulher que a ofendeu e pretende tomar medidas judiciais.
“Já identifiquei a senhora, graças a todos os compartilhamentos, e a medidas judiciais cabíveis já estão sendo tomadas”, pontua.
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