Carta ao PSTU sobre posicionamento racista e silenciador de sua militante

A internet é um importante espaço para discussões políticas e militância de diversos grupos sociais, principalmente no Brasil, segundo país que tem a maior audiência da blogosfera mundial e grande parcela na presença em mídias sociais. Sendo assim, a disputa ideológica neste espaço virtual tem se mostrado cada vez mais acirrada e declarações que façam apologia ao racismo por membres de partidos políticos de esquerda devem ser questionadas, visto a sua importância dentro da rede.

No Festival Marginal 

Na última semana, no dia 20 de dezembro de 2014, uma discussão que desembocou em racismo e silenciamento provocada pelo compartilhamento de uma montagem no perfil de uma militante negra acabou repercutindo no Facebook. Em meio a calorosa discussão, declarações de uma militante branca da Juventude do PSTU chamou atenção devido ao seu distanciamento da realidade. “Quero matar a mulher preta burguesa porque as mulheres pretas trabalhadoras tão morrendo por causa dela”, escreveu a militante. Por questionar o recorte de raça na percepção do marxismo revolucionário, as falas da universitária foram alvo de intenso debate e críticas.

A montagem contava com a foto de homens brancos trabalhando numa lavoura enquanto um homem negro os chicoteava e, ao céu, a imagem do líder afro americano Martin L. King, assistindo a cena com um olhar de contentamento. A possível perspectiva de inversão incitada pela imagem, isto é, racismo inverso, expõe ao ridículo o quanto o argumento de que possíveis minorias tem o poder de reverter quadros de opressões através de suas lutas, da mesma forma como acontece com o discurso de “misandria” em relação às feministas, ou de “heterofobia” em relação aos homossexuais, lésbicas e bissexuais. No entanto, tal militante do PSTU (muito bem acomodada em seus privilégios de raça e de classe), se incomodou com a imagem, e logo traçou a leitura rasa e simplista que concebe as opressões de raça e de gênero como secundárias em relação à luta de classes.

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O fato da imagem conter um teor humorístico não impede seu questionamento. No entanto, a polêmica da montagem em detrimento de uma escravidão branca deveria ser discutida  no âmbito da negritude, se isso a fere ou não. Uma vez que foi a população negra explorada e as reais vítimas da escravidão, entretanto, este debate se tornou secundário.

Quando militantes de partidos de esquerda levantam a bandeira da morte dentro da revolução na atualidade, em especial de mulheres negras e transexuais, fazendo isso em nome de um partido isso é algo a ser revisto. Que estratégia política de esquerda está sendo construída em que a morte de mulheres negras e trans, supostamente burguesas, é colocada em primeiro plano? Dizemos supostamente, pois essa leitura à partir da existência de mulheres negras trans burguesas é descolada da realidade, pois 90% das transexuais e travestis no Brasil estão na prostituição. A condição de burguesa para a mulher negra e trans está longe de ser uma parcela representativa para este grupo social num país como o Brasil, campeão mundial de crimes transfóbicos. A mulher negra e trans já é morta diariamente, e desejar a morte dela, mesmo que seja na condição de burguesa é consentir não só com o racismo, mas também com a transfobia. Uma vez que em defesa da militante que fez declarações racistas, outra militante do mesmo partido declarou que deseja matar com uma peixeira mulher negras trans e burguesas. Essa declaração é simbólica, pois diversos assassinatos de mulheres trans e negras são realizados com o uso de uma peixeira. A luta das mulheres trans e negras não é só contra o sistema de classes, mas contra a violência e a marginalização presente no dia a dia dessas mulheres. A minoria que ascendeu socialmente e se tornou burguesa não deveria ser o foco da raiva de militantes socialistas, mas sim os crimes de ódio cometidos contra mulheres trans, mesmo que sejam burguesas. Porque não debatemos a estratégia política para tirarmos essas mulheres da marginalidade e da condição de vulnerabilidade em vez de discutirmos a degolação de trans negras?

Ainda, diferentemente das concepções espalhadas por seus militantes, não entendemos que as opressões, seja de gênero, de raça etc devem ser lidas de maneira “setorializada”, isto é, submetidas à opressão de classe. Entendemos que tais opressões tidas por secundárias se interpenetram e interseccionam nas questões de classe. Portanto, para mulheres negras periféricas é impossível abstrair o recorte de raça e de gênero em prol da leitura classista, é necessário que levemos em consideração as demais forças opressoras que nos constitui enquanto sujeitos.

Compreendemos os processos históricos revolucionários socialistas em que a morte de inimigos foi utilizada como método e, sem ela, a revolução nunca teria ocorrido de fato. Entretanto é inviável exportar esses mesmos processos revolucionários para Brasil na época em que vivemos hoje. “Na revolução vai ter isso, na revolução vai ter aquilo”, muitos setores da esquerda se perguntam, entretanto: que revolução tão evocada é essa que não nos inclui?

Precisamos entender as nuances das revoluções que são também transformações de sistemas. Porém, será o método ideal a nomeação de sujeitos que já são vítimas de diversas opressões para serem exterminados? A morte de negres faz parte de uma tática de limpeza étnica no nosso país, e quando se faz uma fala alegando o desejo pela morte de mais negres, compactua-se com essa mesma tática. Diante da carga histórica do Brasil em relação aos negres, o comportamento da militante é gravíssimo, pois se configura como racismo e incitação ao ódio, uma vez que o debate sobre o racismo é negado e colocado como secundário. A pessoa negra que ascende socialmente, nesta fala, torna-se inimiga, sob qual perspectiva e lugar de fala?

Visto que a fala da militante não foi uma fala única, já que outras militantes se posicionaram favoráveis, pedimos para que o PSTU se posicione a respeito. Compreendemos que, apesar da concepção centralizadora do partido, há a possibilidade de existir opiniões divergentes dentro da organização, mas enquanto o silêncio permanecer a postura de militantes como a citada acima abrirá brechas para interpretações diversas. Enquanto a esquerda não compreender que é preciso incluir os recortes de gênero, sexualidade e raça, continuaremos a questionar onde ela almeja chegar.

As feministas negras interseccionais assinam essa carta:

Aline Ramos

Aline Alves Joaquim

Bianca Gonçalves

Stephanie Ribeiro

Andreza Delgado

Lilly Martins

Flávia Oliveira

Joselia Oliveira

Réveny Cristina

Ítala Cortes

Paula Ditho Soares

Adriana Rodrigues

Renee Valentim

Iara Maria

Dira Goes

Calí de Moraes

Carol Damiá

Heloisa Lima

Vitória Medeiro

Lamya Rocha

Tamires Gomes Sampaio

Thatiane Lima Gomes

Mayara Custódio

Sys Souza

Isabela Sena

Mariana Barbosa

Dara Ribeiro

Gabi Porfírio

Ana Carolina Souza

Renata Sotero

Jéssica Santos da Silva

Carina Castro

Dandara Melina

Rafaela Miranda de Oliveira

Luana Fonseca

Potirà Aborisá

Letícia Abreu

Luana Protazio

Jacqueline Maia dos Santos

Joice Zentner

Alyne Mayra Rufino dos Santos

Elaine Alves de Abreu Joaquim

Renatinha Pedreira

Beatriz Benedito

Djamila Ribeiro

Sueli Feliziani

Margo Cruz

Carol Moraes

Luara Vieira

Gleicy Souza

Larissa Emy

Carla Miranda

Consuelo Neves

Cléo Silva

Lilian Valéria Cunha do Rosário

Lília Rose

Joice Berth

Luana Nayhara

Juliana Molás

Nuala Lobo Cambará

Priscila Santos

Natália Santos

Rafaela Giffone

Delliana Ricelli

Renata da Hora

Melina Moura

Bonytha Martins

Keytyane Medeiros

Ligyane Tavares dos Reis

Rafaela Cavalcante

Dandara Albuquerque

Maria Clara Araújo

Clara Serra

Larissa Emy

Dandara Albuquerque

Alice Carvalho

Isabella Dias

Mariana Silva

Roberta Lima

Iara Geni Brito

Laura Astrolabio

Gleide Fraga

Rafinha Nascimento

Mithai Mali Triches Lourenço

Rhaiza Lima

Luma De Lima

Bruna de Paula

Suzane Jardim

Priscila da Costa

Tatiana Henrique

Ana Paula Lizi

Suellen Gomes

Consuelo Neves

Dayana Pinto

Carla Jesus

Glaucia Tavares

Miriam Alves

Grace Nascimento

Gabriela Moura

Jéssica Dandara

Aline Rodrigues

Gabriela Ribeiro

Scarlett Binti Jua

Aline Cruz

Ully Zizo

Réveny Cristina

Line Pereira

Rayane Maurell

Thatiane Lima Gomes

Rita Nascimento

Anny Cristina

Daniela Luciana

Larissa Santiago

Sthefany Ribeiro

Agatha Tavares

Doris Faustino

Victória Pinheiro

Silmara Vasconcelos

Daniella Monteiro

Juliete Vitorino dos Santos

Julia Igreja

Carolina Paes

Carolina Pereira

Cristiane de Sousa Cunha

Yndrid Suellen

Suellen Martins

Ana Luiza Marciano

Wichelli Oliveira

Stéphanie de Araújo

Sea Lo

Soraya Amaro Alves

Camila Adebayo Do Nascimento

Thaís Santos

Maria Caroline Lima

Verônica Chutzki

Veronica Martz

Winnie de Campos Bueno

Kassiele Nascimento

 

Coletivos:

Pagufunk

Coletivo Feminista Não me Kahlo

Coletivo Trans*a USP

Bloco das Pretas

Coletivo teatral TOMN – Teatro da Oprimida Mulheres Negras

Grupo Negritude Interseccional

Núcleo Marias Marias

Coletivo Unegro Paraná

Coletivo 4P – Poder para o Povo Preto de Santa Catarina

Coletivo Latino Americano

Coletivo Feminista Géologa Dinalva

Coletivo Feminista Claudia Maria

Coletivo LGBTI Libertar

Marcha Jundiaí

Coletivo EPPEN Negra

Coletivo Jandira

Coletivo Vozes UFABC

Coletivo Jandira

Setorial de Negros e Negras APS/SP

Blogs e páginas:

 

Página “Moçe, você é racista”

Página “Opressão nossa de cada dia”

Blog “Que nega é essa?”

Blog “The black Cupcake”

Blog “Mina explosiva”

Página “Fiu Fiu Unifesp”

Blog Imprensa Feminista

Blog “Festival Marginal”

Blog “Entre Luma e Frida”

Página “Esquerdomacho Desnecessário”

Página “Sinhá Rad”

Coluna Enegrecendo

Página “Tv Relaxa”

Página “Mulheres Escritoras”

Página “Pagufunk”

Blog “Nada sob controle”

 

Apoiam essa carta:

Luís Antônio Joaquim

Vinícius Alves Joaquim

Daniela Andrade

Henderson Oliveira

Victor Souza

Marcos Valentim

Ramon Rodrigues

Pedro Borges

Luis Felipe Marquez Ferreira

Vivian Veloso

Rodrigo Diniz Cotta

Camila Miranda

Vinicios Pereira

Igor Andrade

Lucas Duarte

Simone Evangelista

Hanna Roehe

Ana Lu Sanches

Olavo Souza

Julie Ruiz

Tuka Ferrari

Aline Brancacci

Mandy Mazza

Ana Laura

Jéssi Ca Stency

Thalita Braga Martins de Paiva

Arthur Romeu

Gleidson Correia

Pedro Camargo

Lila Camaleão

Uirá Eiras

Andy Addams

Vitor Bardella

Bianca Laurenzano

Cassia Maria

Ana Lúcia Rodrigues

Thaysa Malaquias

Priscila Barros

Izabella De Lima

Bruna Ghirardello Oliveira

Larissa Cristina Amaral

Hugo Vergnano

Joyce Tambosi

Isabela Concilio

Alan De Barros

Clarissa Misiara

Carolina Maria

Olivia Almgren

Henrique Oliveira

Inaiara Cardoso

Aline Rocha

Thiago Brandão

Mayara Ramos

Isis Rangel

Matheus Nascimento

Tel Guarda

Mari Botelho

Melca Medeiros

Vaneli Figueiredo

Bianca Berti

Carolina Gerassi

Guilherme Giuliano Nicolau

Flávia Merighi Valenciano

Rodrigo Dante

Larissa C. Carvalho Silas Teixeira de Souza

Fábio Bart

Germanno Santos

Augusto Fracari

Larissa C. Carvalho

Marcos Ferreira

Jhuli Mielke

Laiza Almeida Dutra

Priscila Da Costa

André Macedo

André Rossi

Rodrigo Reis

Gustavo Meira Menino

André Junior

Joeb Andrade

Dandara Cristina

Pamela Rodrigues

Fabíola Mika Tanabe

Laura Calasans

Flavia Esmeralda

Tamirys Rodrigues

Elton Hudson

Leonardo Reis

Marcelo Barbosa

Lilian Hudson

Jennifer Brazz

Eduarda Ribeiro

Mariana Quintas Soares

Helena Barbosa Carvalho Batista

Adeline Vassaitis

Daniela Lima


Neste domingo (28), o PSTU respondeu à carta via Direção Nacional da Juventude e Secretaria Nacional de Negros e Negras do PSTU:

Nos últimos dias surgiu uma intensa discussão no Facebook sobre o tema do combate às opressões e a relação que esse debate guarda com a discussão do classismo ou da combinação do combate contra a opressão com a luta contra exploração para superação de toda forma de opressão. Achamos necessário nos retratar sobre declarações que foram dadas por uma militante de nossa organização que abrem margens para interpretações distintas do programa que defendemos e reproduzimos abaixo a auto-crítica pessoal de nossa companheira pela declaração.

“Lamento por ter colocado minha posição política de forma tão insensível, assertiva e equivocada por abrir margem para uma interpretação de que estaríamos a favor de lançar mão de racismo na luta contra a exploração. Além disso, tive pouco reflexo de minha condição de privilegiada na sociedade e do impacto que minhas palavras teriam para tantas mulheres negras, que, na realidade, são majoritariamente Cláudias, e não Marinas ou Condolezzas. Debates como esse, que não são de hoje e são muito polêmicos, exigem cuidado e reflexo, e me retrato aqui publicamente por ter causado esse mal-estar entre os que o acompanharam, especialmente as mulheres negras.

Espero que tudo isso sirva para que todos nós, que, cansados de uma sociedade como essa, queremos transformá-la, tenhamos cada vez mais consciência sobre a questão racial, ainda mais num país como o Brasil, erguido com o sangue e suor dos negros e negras escravizados, e sustentado por um proletariado majoritariamente negro e duramente explorado e oprimido. Um país que cultiva o mito da democracia racial, enquanto discrimina a maioria de sua população.  E também que aprofundemos as discussões sobre como superar tanta opressão reafirmando uma estratégia revolucionária e socialista como única forma de libertar a humanidade de toda forma de opressão e exploração”.

 

O debate sobre a necessidade do classismo ou da combinação e vinculação da luta contra a opressão à luta contra a exploração não é novo, mas vêm gerando intensos debates no seio do movimento negro, feminista e LGBT e que se intensificaram em um período que tomamos as ruas. Viemos de um ano de mobilizações intensas dos setores oprimidos em defesa de seus direitos e contra os desmandos dos governos, seja pelo direito à sobrevivência na luta contra o genocídio do povo pobre e negro relembrando os massacres a Cláudia, Amarildo, DG, recentemente os casos de Mike e Eric nos EUA, e tantos outros negros da periferia em todo o mundo, que estão sob o julgo de um verdadeiro genocídio; ou a luta contra o feminicídio que atinge por meio da violência machista e doméstica milhares de mulheres, e prioritariamente mulheres negras, cerca de 60% de todas as vítimas de violência domésticas; além da luta contra Feliciano e pela criminalização da homofobia e toda forma de LGBTfobia.

Na polêmica em questão, uma companheira utilizou-se de formas equivocadas para sustentar uma concepção classista de luta contra opressão, que acreditamos ser a melhor estratégia no combate às opressões e a exploração. A companheira cometeu o erro de utilizar-se de um exagero polêmico sem levar em consideração a agressividade que a imagem representaria para as (os) negras e negros que leram seu post e de uma imagem histórica hipotética pouco provável que não contribui para o debate nesse momento. Por isso, ainda que tenha tido valor simbólico, a imagem utilizada, refletiu insensibilidade e superficialidade com os abusos cotidianos e históricos sofridos por nós, negras (os) e trans* em nosso país e no mundo e não deveria ter sido colocada. Queremos nos retratar com todos que se sentiram ofendidos com essa declaração, em especial com as negras, negros e trans*.

A expressão colocada também abre margem para uma leitura formal da relação de classe frente à discussão da opressão, uma vez que desconsidera, na sua argumentação, que tanto na classe trabalhadora como na burguesia as opressões se fazem presentes, ainda que sentidas de formas distintas pelos diferentes vieses de classe que as acompanham, elas seguem existindo.

Nós não defendemos de maneira nenhuma o uso da opressão e do racismo para “fins revolucionários” ou para combater a exploração, porque não há nada de revolucionário nisso, porque não é revolucionário “socialismo com opressão”. A opressão serve exatamente para dividir a classe trabalhadora e fortalecer um sistema político desigual e injusto, governado pela burguesia, que é majoritariamente branca, heterossexual e masculina, que se apropria das diferenças, transforma-as em desigualdades para melhor seguir oprimindo e explorando a classe trabalhadora e a juventude. Não é possível uma sociedade livre se utilizamos desses meios.

Somos oposição ao governo Dilma, não por ser uma mulher, mas por governar, em nossa opinião, contra as mulheres e os homens trabalhadores. Nós somos oposicão ao governo de Obama, não por ele ser negro, mas por toda a sua política imperialista, que condena centenas de milhares de negros (as) e também brancos da classe trabalhadora a miséria em todo mundo e se cala frente ao evidente racismo policial no EUA.

A política estalinista durante muitos anos sustentou que o combate às opressões dividia a classe trabalhadora e pregou então que apenas depois que os trabalhadores estivessem no poder tal questão se colocaria e, mais, automaticamente se resolveria. O PSTU discorda dessa posição porque a luta contra a exploração deve se combinar e ser indissociável da luta contra as opressões, inclusive para atingir o objetivo de unir a classe trabalhadora é preciso combater as opressões e preconceitos que a dividem. De maneira que tal luta se dará antes, durante e depois da revolução socialista. Porque esta luta é fundamental para que os oprimidos possam lutar ao lado dos explorados por uma sociedade sem opressão e sem exploração. Mas afirmamos também com todas as letras que, se não está a priori garantido que basta o proletariado tomar o poder para que as opressões terminem, mais verdade ainda é que só é possível o fim de todo o racismo sob o socialismo, ou seja, sob esse sistema capitalista não é possível terminar com o racismo, o machismo e a homofobia. Ambas lutas são partes indissociáveis de um mesmo dilema estratégico para vitória da revolução de todos os oprimidos e explorados no mundo e pelo triunfo do socialismo. Por isso o combate ao racismo é uma questão de raça e classe.

Nós defendemos com Malcolm-X que não há capitalismo sem racismo, da mesma maneira que afirmamos que o socialismo não poderá ter racismo, machismo ou qualquer outra opressão, ou não será socialismo, será stalinismo.

A intervenção equivocada de nossa companheira, por abstrata e confusa, abriu margem para uma interpretação a cerca de uma possível tática racista de luta contra opressão e a exploração. Queremos explicitar que não compactuamos com essa compreensão/estratégia ou qualquer outra que utilize machismo, LGBTfobia, ou qualquer opressão. Nossa concepção de combate às opressões e de socialismo rejeitam “táticas racistas” no combate à opressão e à exploração. Não combateremos um burguês negro por ser negro, mas por ser burguês e enquanto burguês, ao mesmo tempo que estaremos contra qualquer opressão racista mesmo ao negro burguês. Isso vale para todos os demais setores oprimidos.

Queremos dizer que o reconhecimento dos erros é parte da nossa tradição, não somos os donos da verdade. Nossa organização é parte do mundo em que vivemos e não somos 100% imunes ao meio em que vivemos, podemos, portanto, muitas vezes expressar seus problemas, contudo não julgamos uma organização pelos problemas que apresenta, mas pelo seu modo de corrigi-los. E, portanto, viemos por meio dessa nota assumir nossos erros e reafirmar a discussão política e programática, na qual acreditamos, sobre as melhores estratégias na luta contra toda forma de opressão.

Reconhecemos publicamente os erros e imprecisões da companheira, porque achamos que só é possível avançar no debate e nas polêmicas utilizando métodos respeitosos, fraternos, e educativos ao conjunto dos lutadores e que isso também é parte da sua educação como militante revolucionária que é para avançar cada vez mais no caminho da luta social que dedica integralmente sua vida. No entanto, reconhecendo isso não recuamos em nossa concepção classista de emancipação do conjunto da humanidade.

Nesse sentido, reafirmamos nossa concepção de que as opressões são falsas ideologias que beneficiam o sistema capitalista e que determinam inúmeras diferenças sociais e de classe, para que a burguesia siga avançando em seu projeto de dominação econômica, mas também política da classe trabalhadora. Para extingui-las é preciso medidas que assegurem a auto-organização, o programa e as pautas dos oprimidos em cada dimensão da luta geral da classe trabalhadora e da juventude periférica, que é bombardeada pela mídia para perder sua identidade racial e de classe, de gênero e muitas vezes relegada a exclusão impostos pela sociedade capitalista.

Nessa luta achamos imprescindível a unidade de todos os lutadores e oprimidos e reafirmamos a posição em não termos dúvidas que para avançar nesses passos a independência política, econômica, ideológica e organizativa da burguesia é uma condição indispensável para a luta contra às opressões. Ainda que sofram opressão, Obama, Cristina, Condolezza, Dilma, Zuma, governam contra a classe trabalhadora, para elite branca, hetero, masculina e burguesa de seus países e no mundo. Não são nossos irmãos.

Nossos interesses são distintos e irreconciliáveis, inclusive em termos das necessidades e tarefas para superação da opressão. Certamente, as tarefas de Cláudia, Amarildos, Erics, Mikes para superar sua opressão e exploração é radicalmente oposta pelo vértice desses senhores e senhoras que podem comprar seus direitos e ainda usufruir explorando seus irmãos. O classismo e o internacionalismo são princípios, assim como o da luta contra as opressões do qual não abrimos mão, exatamente porque permitem localizarmos no plano estratégico da destruição da sociedade de classes e da opressão os interesses, o programa e a pauta/viés legítimos para o fim da opressão e exploração. Por isso, também acreditamos que esse debate não se encerra aqui e que seguimos essas discussões.

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