Retrospectiva 2014: Conheça 14 casos que provam que ainda existe racismo no Brasil

Vigora no Brasil desde 1989 uma lei estabelece o tempo de prisão para crimes resultantes de preconceito de raça, etnia e religião. Mas isso não significa que os crimes de cunho racial não venham sendo registrados nos últimos 25 anos – ainda que dados da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial apontem um decréscimo nos últimos três anos.

Por , do Brasil Post

Em 2014, os crimes racistas mancharam diversos jogos de futebol no Brasil, ou até mesmo fora das nossas fronteiras, mas envolvendo jogadores brasileiros. Os casos do goleiro Aranha, do lateral Daniel Alves e do volante Tingaforam apenas alguns dos mais ilustrativos de um problema que ganha destaque quando envolve uma paixão nacional (neste caso, o futebol).

O desprendimento que leva torcedores a ofender jogadores resume aquilo que diariamente integra um comportamento comum em toda a sociedade, não deixando imune nem mesmo figuras globais, o ambiente as universidades brasileiras, e até aqueles que acabam menosprezados por um determinado corte de cabelo durante a renovação de um passaporte.

O Brasil Post noticiou esses casos e trazemos os mais reverberados deles aqui. A lista dos 14 mais comentados do ano representa um pouco do que não queremos ver em 2015.

Acompanhe.

Caso Aranha

LEANDRO MARTINS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

LEANDRO MARTINS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

No fim de agosto, o Santos venceu o Grêmio em Porto Alegre por 2 a 0, em partida válida pela Copa do Brasil. Mas o resultado ficou em segundo plano. O goleiro Aranha, do time paulista,  alvo de ofensas racistas durante todo o jogo. Ele chamou a atenção do árbitro Wilton Pereira Sampaio várias vezes ao longo da partida, sem sucesso. Ufoima torcedora do Grêmio, filmada por câmeras de TV proferindo xingamentos a Aranha, virou alvo durante semanas por ‘representar a essência’ de mais um triste capítulo registrado pelo futebol brasileiro. Como se não bastasse, um dos auditores do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) responsável pelo julgamento do caso no Rio de Janeiro foi acusado de ser racista,por conta de postagens em sua página no Facebook

Daniel Alves

Manu Fernandez/AP
Manu Fernandez/AP

Jogadores brasileiros também sofreram fora do País. No fim de abril, o lateral-direito Daniel Alves, do Barcelona, se preparava para bater um escanteio quando uma banana, atirada por um torcedor do Villarreal, caiu ao seu lado no gramado. Em um ato impulsivo, Alves pegou a banana e a comeu, antes de então cobrar o escanteio. O caso gerou fortes repercussões – com direito a Pelé minimizar o ato racista –, com direito a uma outra polêmica: a campanha Somos Todos Macacos, encabeçada por outro brasileiro, Neymar. O que parecia ser um ato de apoio acabou se revelando uma ação de marketing do staff do atacante, e gerou fortes críticas nas redes

Tinga

ERBS JR./FRAME/ESTADÃO CONTEÚDO
ERBS JR./FRAME/ESTADÃO CONTEÚDO

Um mês antes, o volante Tinga, do Cruzeiro, foi alvo de insultos racistas durante uma partida da Copa Libertadores, contra o Real Garcilaso, do Peru. Na oportunidade, até mesmo a presidente Dilma Rousseff se solidarizou com o jogador. Apesar do regulamento da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) prever até mesmo a exclusão da equipe peruana por conta da manifestação racista de sua torcida, o clube acabou apenas multado em cerca de R$ 28 mil

Racismo na Copa

Reprodução/Sunday People
Reprodução/Sunday People

O Brasil sediou a Copa do Mundo neste ano e, lamentavelmente, nem mesmo o mais importante evento do futebol escapou de incidentes racistas. No mais emblemático deles, um torcedor inglês teve uma das orelhas mordida por outro torcedor, durante a derrota da Inglaterra para o Uruguai por 2 a 1, em 16 de junho, na Arena Corinthians. Além da agressão, a vítima teria sido chamada de “negro filho da p…” pelo seu agressor

Glória Maria

Reprodução/Instagram
Reprodução/Instagram

Em fevereiro, a jornalista Glória Maria, da TV Globo, chamou a atenção pela elegância durante o Baile de Carnaval da Vogue e teve uma imagem sua postada no Instagram do colunista Bruno Astuto. Uma usuária da rede social, de maneira infeliz, perguntou “onde estava Glória Maria”, no que a jornalista respondeu: “Querida, eu também estou me procurando até agora na foto. É difícil mesmo encontrar uma neguinha no meio de tantas loiras lindas. Famosas. Celebridades. Pega uma lupa. Ilumina um pouquinho e quem sabe você consegue me ver???? Beijo”. Uma prova de que o racismo no Brasil não faz distinções

Vinícius Romão

FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO
FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO

“Negro e com cabelo black power”. Foi o que a copeira Dalva Moreira da Costa disse ao tentar descrever o homem que a havia assaltado há duas semanas, no Rio de Janeiro. Tal descrição genérica levou a uma enorme injustiça: o ator Vinícius Romão, que trabalhava na TV Globo e não estava na cena do crime, acabou reconhecido pela copeira e foi preso. O erro grosseiro, tanto da vítima do assalto quanto da polícia, trouxe à tona a discussão sobre o lugar comum que ainda leva ao preconceito com a população negra no Brasil

Faustão e a “vassoura de bruxa”

Reprodução/Facebook
Reprodução/Facebook

Durante o seu programa dominical, em abril, o apresentador Fausto Silva, o Faustão, se dirigiu a uma dançarina que dançava durante a apresentação da funkeira Anitta como “Arielle com cabelo vassoura de bruxa”. O tom jocoso do que Faustão julgou ser “uma brincadeira” não caiu bem e muitas vozes se fizeram ouvir nas redes sociais contra o infeliz “elogio” feito pelo apresentador global

Racismo na USP de Ribeirão Preto

Reprodução/Facebook
Reprodução/Facebook

Uma música de cunho racista e machista fez com que a Bateria da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, a Batesão, se tornasse assunto nacional em novembro. A ‘canção’ possui trechos como “preta imunda”, a “morena gostosa” e a “loirinha bunduda”, além de chamar mulheres negras de “crioulas fedorentas”. O Coletivo Negro da universidade se posicionou de maneira veemente contra a divulgação da música e o caso foi parar até na Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). O caso segue sendo investigado pela instituição e agora pela CPI da USP, também em andamento na Alesp

Trote na UFMG

Reprodução/Facebook
Reprodução/Facebook

O racismo no ambiente universitário também foi registrado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em agosto, um aluno foi expulso e outros três foram suspensos após imagens de vários trotes na instituição ganharem as redes sociais. Em uma delas, uma caloura está pintada de preto, aparece acorrentada por um dos rapazes e segura o cartaz “Caloura Chica da Silva”. A direção da universidade lamentou o incidente, classificado como “repulsivo”

“Preta safada”

Reprodução/Facebook
Reprodução/Facebook

O campus de Presidente Prudente da Universidade Estadual Paulista (Unesp) foi palco de um caso grave de racismo em abril. A estudante Tais Telles foi chamada de “preta”, “macaca” e “safada” em escritos feitos na porta de um banheiro da instituição. A estudante comentou, em entrevista ao Brasil Post, o quão difícil foi fazer um boletim de ocorrência do caso como racismo, apesar da lei já ter 25 anos

Racismo em shopping no Rio

Reprodução/Facebook
Reprodução/Facebook

Ambas negras, mãe e filha foram alvo de funcionários de uma loja do Bangu Shopping, no Rio de Janeiro. Em um vídeo que ganhou as redes, a mãe aparece exaltada, criticando a atitude de uma funcionária da loja Aquamar que a fez abrir a sua bolsa e ser devidamente revistada. O caso acabou registrado como injúria na 34ª Delegacia de Polícia, em Bangu, e a loja negou tratar-se de um caso de racismo, se desculpando em seguida

“Abaixa a bola, pobre”

Reprodução/Facebook
Reprodução/Facebook

Um bate-boca entre uma mulher negra e outra branca mostrou que a intolerância pode surgir dos atos mais banais. O incidente foi registrado em junho, em uma creperia do Barra Shopping, no Rio de Janeiro. No vídeo, feito por uma pessoa presente no local, não está clara a razão de toda a revolta da mulher que profere impropérios contra a jovem negra – a qual, pela cor da pele, é “logicamente pobre”, na visão preconceituosa da agressora. Lamentavelmente, nenhuma das duas foi identificada e o caso ficou como mais um desses sintomáticos do dia a dia nacional

Racismo nas eleições

Reprodução/Facebook
Reprodução/Facebook

A candidata ao governo de Minas Gerais, Cleide Donária (PCO), foi parar no hospital depois de ser agredida por um homem não identificado em setembro, durante o primeiro turno das eleições. Defensora da desmilitarização da Polícia Militar, ela foi abordada com um soco e foi chamada de “prostituta” e “negra vagabunda”. Um boletim de ocorrência foi registrado e Cleide cogitou desistir da disputa, mas seguiu até o fim. Já o agressor não foi localizado até hoje

Racismo no passaporte

passaporte

A jornalista Lília de Souza não conseguiu renovar o seu passaporte até prender o seu cabelo black power. A ordem partiu da unidade da Polícia Federal do Salvador Shopping, em agosto deste ano. Naturalmente ofendida, Lília postou a foto do constrangimento que viveu e causou diversas reações nas redes sociais. Já a Polícia Federal alegou “inúmeras razões” para reprovar a foto da jornalista com o seu cabelo solto

 

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