Cartas pro Lula – Paulo Sérgio Pinheiro

(Foto: Roberto Setton/Época)

Por Paulo Sérgio Pinheiro, do Cartas pro Lula 

 

(Foto: Roberto Setton/Época)

Senhor Presidente, Caro Amigo Lula,

Desde quando nos conhecemos? Faz 40 anos, em 1978, com Mino Carta e sua mulher, Angélica. Nos convidaram para comer com a Marisa e você um macarronada al pesto, especialidade do Mino, no apartamento em Higienópolis. Depois fomos visitar você em sua casa, em São Bernardo.

Posso dizer que desde aí nos tornamos amigos, sem nenhuma interrupção , e muitas memórias tenho de você. No Palácio dos Bandeirantes, quando você foi conversar com Franco Montoro, me perguntando como conseguia trabalhar com todas aquelas paredes revestidas de madeira. Em Oxford, num seminário que organizamos com Leslie Bethell em que estava Eric Hobsbawm, que tinha uma enorme admiração por você, visitando com o saudoso alfred Stepan o escritório dele no prédio de All Souls.

Chegando com Marisa ao prédio onde morava nosso querido amigo Marco Aurélio, para comemorar os 60 anos dele. No lançamento do relatório mundial de violência com a criança, cuja tradução foi promovida por Paulo Vannuchi, num encontro de umas cinco mil pessoas. No seu discurso emocionante ao subscrever o projeto de lei contra o castigo corporal de crianças e adolescentes. Tantas memórias.

Não há um dia em que eu não me lembre da dor, do constrangimento, do escândalo no Brasil e no mundo de você estar trancafiado numa sala de 15 metros quadrados em Curitiba, enquanto todo o Brasil e nós precisamos tanto de você para fazer face aos horrores da conjuntura do dia a dia.

Sua condenação injusta, sua prisão inconstitucional, o impeachment preventivo da anulação de sua candidatura, fecham o processo de neutralização de um segmento importante da política brasileira, a esquerda. Temos consciência que não foi apenas um golpe, com a participação dissimulada do seu principal algoz em entendimento e em plena campanha com o futuro candidato presidencial, que o premia com um ministério. Não foi um golpe contra um partido ou um programa ideológico, mas visou reverter os ganhos pela maioria mais pobre da população que você tanto promoveu em seus governos. Esses benefícios assegurados para os milhões pobres e em pobreza extrema foram percebidos como ameaças à hierarquia, à desigualdade, ao racismo, que asseguram a continuidade autoritária na democracia.

Tenho certeza que a injustiça perpetrada contra você virá a ser reparada. Mas por mais dolorosa que seja para você essa prisão, a grande dignidade que todo dia você demonstra, especialmente nos momentos de grande dor como foi recentemente, é uma referência para o Brasil. Por mais indigno que seja o comportamento dos juízes que o atormentam, sua conduta irrepreensível serve como grande exemplo e inspiração para a sociedade brasileira para a defesa da democracia e da constitucionalidade.

Aceite um abraço do meu filho André, o corintiano, e outro muito afetuoso, da Ana Luiza e meu.

Paulo Sérgio Pinheiro

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