Caso de estupro do diretor de “Birth of a Nation” abala trajetória do filme

Tudo indicava que seria um dos filmes do ano, mas terminou provocando polêmica por motivos nada cinematográficos: um antigo caso de estupro que envolveu o diretor e a estrela de “The Birth of a Nation” causou uma grande controvérsia em Hollywood e ameaça a, até agora, a meteórica carreira da produção.

Poe David Villafranca Do Uol

Nas últimas semanas, os veículos de comunicação americanos recuperaram o caso de estupro de uma jovem que aconteceu há 17 anos e pelo qual foram acusados o diretor e protagonista do filme, Nate Parker, e seu roteirista, Jean Celestin.

Embora Parker tenha sido absolvido das acusações, novas revelações do caso eclipsaram o lançamento do filme, que estreará no dia 7 de outubro nos Estados Unidos após ser a sensação absoluta da última edição do Festival de Cinema independente de Sundance e já como firme candidato ao Oscar, especialmente por seu importante conteúdo racial.

Os fatos remontam a 1999, quando uma jovem, de entre 17 e 18 anos e cuja identidade é mantida em segredo, acusou Parker e Celestin, então estudantes universitários em Penn State, de a terem violentado quando estava inconsciente após ter bebido.

Os dois negaram as acusações de estupro e argumentaram que a relação sexual foi consentida.

o-diretor-nate-parker-posa-durante-o-festival-de-sundance-1472494674633_300x420O diretor Nate Parker posa durante o Festival de Sundance

Parker, que previamente tinha mantido relações sexuais com a garota que ambas as partes definiram como pactuadas, foi absolvido no julgamento, enquanto Celestin foi condenado inicialmente, mas ganhou a apelação uma vez que a vítima se negou a testemunhar em uma nova audiência.

O site especializado “Variety” revelou agora, após falar com o irmão da jovem, que esta se suicidou em 2012 com uma overdose de soníferos.

O “Variety” afirmou que não há provas que relacionem diretamente o suicídio da mulher com o caso, enquanto o irmão declarou que a jovem sofreu de uma grave depressão após o incidente.

Durante o julgamento, a jovem afirmou que tinha tentado se suicidar duas vezes após o estupro.

O tempo todo, e em qualquer declaração sobre este tema, Parker disse que é inocente e, em mensagem publicada em seu perfil no Facebook depois que o caso voltou à tona, ressaltou de novo que oa relação sexual foi “inequivocamente pactuada”.

“Não posso nem quero ignorar a dor que ela sofreu durante e depois do julgamento”, disse Parker, afirmando que tinha sabido recentemente da morte da mulher e que se sentia “profundamente triste” com isso.

A controvérsia já alterou os planos comerciais de “The Birth of a Nation”, um filme que recebeu elogios quase unânimes da crítica e que narra a história da sublevação negra e o movimento de libertação protagonizado pelo escravo Nat Turner em 1831.

O estúdio Fox Searchlight, que adquiriu os direitos de distribuição por uma quantia recorde em Sundance de US$ 17,5 milhões, cancelou a entrevista coletiva do filme no Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF) e ainda analisa como fará uma campanha de promoção que incluía encontros sobre os direitos civis por todo o país.

Outro golpe chegou por parte do Instituto de Cinema Americano (AFI, na sigla em inglês), que decidiu suspender nesta semana uma exibição do filme em Los Angeles.

A força da discussão chegou até a Academia de Hollywood, onde sua presidente, Cheryl Boone Isaacs, disse ao portal “TMZ” que, à margem da polêmica do caso, “The Birth of a Nation” é um filme que “as pessoas deveriam ver”.

O certo é que o filme de Nate Parker, com sua potente mensagem sobre o racismo e a escravidão, aparece em um momento ideal no qual a situação da população negra nos Estados Unidos volta a soar com força no debate público.

A última edição do Oscar, que pelo segundo ano seguido não teve atores negros indicados, e a vigência de movimentos como “Black Lives Matter” (“As vidas dos negros importam”) pareciam beneficiar “The Birth of a Nation”, que não por acaso tomou o título do filme homônimo de 1915 de D.W. Griffith, um clássico do cinema mudo e, ao mesmo tempo, uma produção abertamente racista.

+ sobre o tema

Teoria que não se diz teoria

A separação entre teoria e prática é um histórico...

‘Perdemos cada vez mais meninas e jovens’, diz pesquisadora

Jackeline Romio participou da Nairóbi Summit e aponta os...

Sou mulher. Suburbana. Mas ainda tô na vantagem: sou branca

Ontem ouvi algo que me cativou a escrever sobre...

Por um feminismo de baderna, ira e alarde

Neste 8M, ocuparemos politicamente as ruas e as nossas...

para lembrar

27 ideias de tatuagens feministas

Que tal eternizar na pele seus ideais de luta...

Vereadores de SP aprovam lei que permite presença de doulas em hospitais e maternidades da cidade

Vereadores de São Paulo aprovaram na última quarta-feira (7)...

Ato na USP cobra ação de diretor sobre ‘ranking sexual’ em Piracicaba

Grupo se reuniu em frente à diretoria da universidade...
spot_imgspot_img

Robinho chega à penitenciária de Tremembé (SP) para cumprir pena de 9 anos de prisão por estupro

Robson de Souza, o Robinho, foi transferido para a Penitenciária 2 de Tremembé, no interior de São Paulo, na madrugada desta sexta-feira (22). O ex-jogador foi...

O atraso do atraso

A semana apenas começava, quando a boa-nova vinda do outro lado do Atlântico se espalhou. A França, em votação maiúscula no Parlamento (780 votos em...

Estupros em São Paulo aumentam 16,6% em novembro

O número de estupros, incluindo estupro de vulnerável, aumentou 16,6% no estado de São Paulo, passando de 1.088 casos em novembro do ano passado...
-+=