Casos de feminicídio aumentam 76% no estado de SP no primeiro trimestre

Levantamento é do G1 e da GloboNews, com base em números da Secretaria de Segurança de SP. Todos os casos do primeiro trimestre foram esclarecidos, segundo a secretaria.

Por Jornal Nacional, Do G1

Imagem com várias lapides com o simbolo do gênero feminino
Foto: ONU Mulheres/Dzilam Mendez

Um levantamento realizado pelo G1 e pela GloboNews, com base em números da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, revelou que os casos de feminicídio aumentaram 76% no estado, no primeiro trimestre de 2019. Só neste fim de semana, foram três.

O cortejo levava o corpo da recepcionista Daniela de Jesus Martin, de 38 anos, morta no fim de semana. Amigas da época de orfanato contaram que o ex-marido de Daniela não aceitava a separação.

“Ele procurava ela pedindo perdão, falando que ele ia mudar. E ela sempre cedia, o perdão dele e a mudança dele”, conta a amiga Mirian de Oliveira Moura Emídio.

Segundo a polícia, Bruno Henrique Dias, ex-marido de Daniela, é o homem que aparece em um vídeo de uma câmera de segurança indo embora da casa. Outro homem, que aparece empurrando um carrinho, é amigo dele – ele teria ido à casa da recepcionista para retirar objetos, a pedido de Bruno. Os dois estão presos. A polícia disse que Bruno confessou o crime.

Esse não foi o único caso de feminicídio do fim de semana. A polícia diz que a operadora de caixa Raqueline Correia Cavalcante, de 41 anos, também foi assassinada pelo ex-companheiro, Renato Márcio Dos Santos. Ele está preso.

“Que esse moço não saia da cadeia, porque foi muito triste o que ele fez, muito triste. Porque nenhuma mulher mais, não no nosso bairro, no país, não morra mais por feminicídio”, lamenta Iara Vaz, amiga de Raqueline.

Outra vítima foi a agente de segurança Diana Pereira da Trindade, de 24 anos. Ela estava grávida de oito meses. Foi esfaqueada até a morte, segundo a polícia, pelo companheiro dela, Aias de Souza Silva, de 35 anos. Depois do crime, ele foi agredido por moradores e levado para um hospital onde está sob escolta.

As três vão entrar para uma estatística que cresceu no estado de São Paulo. Nos primeiros três meses desse ano, o número de feminicídios aumentou 76% em relação a 2018. Dos 37 assassinatos, 26 tinham autoria conhecida.

Segundo especialistas, a grande maioria das mulheres vítimas de feminicídio em São Paulo sequer procuraram a polícia para fazer um boletim de ocorrência. E registrar a agressão é importante, porque é o primeiro passo para a vítima conseguir uma medida protetiva na Justiça.

“Medidas protetivas salvam vidas. No Brasil e no mundo as estatísticas demonstram que: quando uma mulher registra um boletim de ocorrência, quando ela tem uma medida protetiva, em regra, essa violência não evoluiu para morte”, afirma Valéria Scarance, coordenadora do Núcleo de Gênero do Ministério Público de São Paulo.

A promotora paulista e diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, ressaltam a importância da mulher denunciar as agressões.

“Acho que o principal é mobilizar e sensibilizar essas mulheres para a importância delas buscarem ajuda. É muito importante que a gente consiga romper com o ciclo da violência antes que essa mulher vire uma estatística”, explica Samira.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo declarou que todos os casos de feminicídio no primeiro trimestre foram esclarecidos e que 19 criminosos foram presos. A Secretaria de Segurança de São Paulo também informou que aumentou de uma para dez a quantidade de delegacias da mulher que ficam abertas 24 horas.

+ sobre o tema

Eles não estão doentes, e nós não estamos loucas

Ontem, uma menina foi estuprada por 30 homens no...

Bolsonaro vira réu por falar que Maria do Rosário não merece ser estuprada

Deputado disse que ela é 'feia'; ele responderá por...

Nota de repúdio: Basta de violencia contra a mulher

Nós do Centro de Defesa e Convivência da Mulher...

Tribunal de Justiça de SP lança programa para homens envolvidos em violência doméstica

Reflexivo e educativo, grupo pretende fazer com que homens...

para lembrar

Na época do Brasil colonial, lei permitia que marido assassinasse a própria mulher

Jorge Amado abre o clássico Gabriela, Cravo e Canela...

Congresso cria órgão para combater violência contra as mulheres

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), protocolou nesta...

Cesárea forçada no Rio Grande do Sul gera discussão sobre direito das mulheres

Grupos denunciaram caso na Comissão de Direitos Humanos e...
spot_imgspot_img

A Justiça tem nome de mulher?

Dez anos. Uma década. Esse foi o tempo que Ana Paula Oliveira esperou para testemunhar o julgamento sobre o assassinato de seu filho, o jovem Johnatha...

Dois terços das mulheres assassinadas com armas de fogo são negras

São negras 68,3% das mulheres assassinadas com armas de fogo no Brasil, segundo a pesquisa O Papel da Arma de Fogo na Violência Contra...

A cada 24 horas, ao menos oito mulheres são vítimas de violência

No ano de 2023, ao menos oito mulheres foram vítimas de violência doméstica a cada 24 horas. Os dados referem-se a oito dos nove...
-+=