Ciro volta a chamar Holiday de capitão do mato, e vereador diz que o processará

Ex-presidenciável repetiu expressão que já o levou a ser condenado na Justiça de SP

por Anna Virginia Balloussier no Folha de São Paulo

foto: Digo Padigurschi / Folhapress

O vereador Fernando Holiday (DEM-SP) disse neste sábado (9) que voltará a processar Ciro Gomes (PDT-CE), e pelo mesmo motivo que já levou o ex-presidenciável a ser condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo a lhe pagar R$ 38 mil de indenização por danos morais: chamá-lo de capitão do mato.

Em junho de 2018, Ciro se referiu a Holiday como “capitãozinho do mato” em entrevista à rádio Jovem Pan, o que gerou o processo contra ele (ele pode recorrer da sentença). A expressão foi usada mais uma vez, agora sem o diminutivo, em entrevista no dia 25 de fevereiro à rádio cearense Tribuna BandNews FM.

A apresentadora repassa ao ex-governador do Ceará a pergunta de um ouvinte, que quis saber se ele não considerava racismo definir um negro como capitão do mato.

“Claro que não”, responde o pedetista. Em seguida, justifica: “Esse garoto em São Paulo é negro e assumiu o mandato falando em negritude”. E de cara propôs acabar com as cotas raciais e com o Dia da Consciência Negra, afirma.

“É um negro traidor da negritude. E quem era o negro traidor da negritude na história brasileira? Esse é o problema, eu sei ler, fiz o primário bem feito”, continua Ciro, antes de responder à própria pergunta: está falando do capitão do mato. “O escravo submetido à humilhação do patrão que aderia a essa humilhação e se prestava ao serviço de matar escravos, açoitar escravos.”

Para o ex-governador, seria a “perfeita metáfora” para “o senhor não sei das quantas aí, não quero nem mais dizer o nome”. Mas diz mesmo assim.

Ele afirma que já foi processado pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ) e pelo ex-governador paulista José Serra (PSDB-SP), outros que se sentiram injuriados por falas suas. Ambos estariam no ostracismo agora, e “esse Holidayzinho vai sumir também”, segundo Ciro.

Membro do MBL (Movimento Brasil Livre), Holiday diz à Folha que só agora tomou conhecimento da entrevista de fevereiro. Decidiu processar mais uma vez o pedetista.

“Ciro tem uma mentalidade arcaica que não suporta discordâncias, ainda mais de negros que não se submetem aos seus ideais. É aí que reside o racismo, ele precisa colocar o negro em alguma categoria, e a que ele escolheu para mim foi de traidor.”

No Twitter, o vereador da capital postou o vídeo com o trecho da nova entrevista e chamou o pedetista de descontrolado. “Outro processo virá!”, avisou.

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