Cantora Raquel Virgínia relata racismo no Shopping Bourbon em SP

Raquel Virgínia, vocalista do grupo As Bahias e a Cozinha Mineira, diz que foi chamada de ‘puta’ após questionar abordagem a jovens negros. Shopping afirma repudiar discriminação e racismo e que reavaliará abordagem a clientes.

Por Marina Pinhoni, do G1 SP 

Rosto de Raquel Virgínia, mulher negra com tranças
Raquel Virgínia — Foto: Flávio Moraes/G1

Raquel Virgínia, uma das vocalistas da banda As Bahias e a Cozinha Mineira, relatou em sua conta no Instagram (veja abaixo) e contou ao G1 que presenciou um caso de racismo e foi ofendida por um segurança na noite desta quinta-feira (7) no Shopping Bourbon, na Zona Oeste de São Paulo.

Raquel, que é negra e trans, contou que estava fazendo compras no shopping quando passou por um grupo de cinco crianças e adolescentes negros que estava cercado e retido por seguranças.

Segundo a cantora, ao ser questionado sobre o que estava acontecendo, um dos seguranças afirmou que estava averiguando a reclamação de uma loja, mas não detalhou qual seria a reclamação. A cantora teria então começado uma discussão para pedir a liberação dos garotos.

“Eu comecei a discutir com um dos seguranças, que o tempo todo perguntou quem eu era. Eu respondi ‘uma cidadã, que paga impostos e não vai compactuar com o crime do racismo’. Depois de muita discussão voltei às compras e os garotos foram passear”, afirmou.

O mesmo segurança teria encontrado novamente Raquel após a realização de suas compras e a chamado de “puta”.

“Voltei às compras. Encontrei com o segurança novamente: ele olhou minhas sacolas, por certo para saber meu poder de compra. Eu falei para ele: ‘pode olhar, sou rica, comprei bastante coisa e tudo coisa cara. Fruto de estudo e competência’. Ao que ele me disse: ‘tem que estudar pra ser puta e fazer programa?’”, disse.

Ao G1, Raquel afirmou que reclamou com o chefe de segurança do shopping e que nenhuma providência foi tomada.

Por meio de nota, o Shopping Bourbon informou que “repudia qualquer forma de racismo ou ato discriminatório”. “Informa que todos os procedimentos e protocolos de abordagem a clientes estão sendo reavaliados junto à empresa terceirizada responsável pela segurança do shopping”, diz o texto.

Para Raquel Virgínia, o que ela viu foi um “trabalho organizado de discriminação”. “Não foi só um segurança, foi uma equipe de segurança que fez isso. É uma organização que tem como pré-requisito a discriminação”, diz.

A cantora disse ainda que outras pessoas têm denunciado casos parecidos na sua postagem nas redes sociais.

“Tem várias pessoas relatando outras vezes em que o shopping agiu assim com crianças negras. Isso é uma postura recorrente dos shoppings paulistanos. A gente o tempo todo tem que provar nossa inocência e tem que provar que nós somos consumidores e que merecemos dignidade. O shopping é um espaço lúdico da cidade e todo mundo tem o direito de frequentar esse espaço”, afirmou.

Polêmica no shopping Higienópolis

Em fevereiro, a Justiça negou um pedido do shopping Pátio Higienópolis, no bairro de Higienópolis, área nobre região central de São Paulo, para que os seguranças do local pudessem apreender crianças, em especial menores moradores de rua, que estivessem desacompanhados, praticando atos de vandalismo, furtos, ou intimidando frequentadores.

Na decisão, publicada em 21 de fevereiro, a juíza Mônica Gonzaga Arnoni, da 1ª Vara da Infância e da Juventude da capital, alegou que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) já prevê a apreensão de menores infratores.

Para a juíza, uma eventual autorização para apreensão de menores desacompanhados ou “esmolando nas dependências do empreendimento” objetiva, “em verdade, um salvo-conduto para efetivar no estabelecimento uma genuína higiene social”.

Em nota enviada ao G1, o shopping informou que seu pedido foi “mal interpretado” e pediu “desculpas por gerar qualquer tipo de interpretação contrária à intenção de proteger os menores desacompanhados”. A administração afirmou ainda “repudiar todo o tipo de discriminação”.

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