Militante LGBT, ativista era ex-travesti e organizava a Parada Gay do Complexo do Alemão. DH investiga o caso
RIO – Coordenador do programa Rio sem Homofobia, da Secretaria de estado de Assistência Social e Direitos Humanos, Cláudio Nascimento acredita que a morte do presidente da Associação de Moradores do Conjunto das Casinhas (Complexo do Alemão), Luiz Moura, morto a tiros no sábado próximo à Rua 2, está relacionada à homofobia. Mais conhecido como Guinha, o líder comunitário era fundador do movimento LGBT da comunidade e organizava a Parada Gay local que, em setembro, chegou à segunda edição, quando reuniu mais de duas mil pessoas.
De acordo com Cládio Nascimento, o órgão recebeu denúncias pelo Disque Cidadania LGBT que atribuem a morte de Guinha a represálias do tráfico de drogas e a religiosos fundamentalistas da comunidade, que não teriam aprovado a realização da Parada Gay do Complexo do Alemão. Ex-garoto de programa e ex-travesti, Guinha foi personagem do documentário “Favela Gay”, de Cacá Diegues e Renata Almeida Magalhães.
— Já recebemos denúncias de que a razão do crime está relacionada à homofobia, estimulada pela intolerância de religiosos radicais. Alguns criminosos e religiosos fundamentalistas não concordavam com a realização da Parada Gay, que Guinha realizava mesmo sem a “pseudo-autorização“ que esses setores queriam impor ao movimento LGBT. Ele era um militante dos direitos humanos e participava das ações de cidadania promovidas pela UPP local, o que pode ter contribuído para aumentar a irritação do tráfico. Já encaminhamos essas denúncias para a secretaria estadual de Segurança, para o governador e para as chefias das polícias, para auxiliar nas investigações — afirma Nascimento, que conhecia o ativista há quatro anos e esteve no enterro, realizado na tarde deste domingo, no cemitério de Inhaúma.
Segundo a polícia, os disparos foram efetuados de dentro de um carro que passou pela rua e fugiu. A Divisão de Homicídios (DH) investiga o caso, já realizou uma perícia no local e as testemunhas estão sendo ouvidas.
Outro homem, que estava com Guinha, identificado como Leonardo Garcia dos Santos da Silva, também foi baleado. Ele foi socorrido no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, onde foi submetido a uma cirurgia e está internado em estado grave, porém estável. A DH está aguardando a sua alta médica para ouvi-lo.
Coordenador Especial de Diversidade Sexual da prefeitura do Rio (CEDS-Rio), o estilista Carlos Tufvesson demonstrou solidariedade à família de Guinha e prometeu acompanhar de perto as investigações.
— A CEDS-Rio vai acompanhar as investigações dos órgãos de segurança competentes e aguardar a apuração dos fatos que vai levar às causas desse crime horrível. E aproveita para lamentar esse assassinato, se solidarizar à família do Guinha e desejar força a população LGBT do Complexo do Alemão. É mais uma perda irreparável que a militância LGBT do Brasil sofre. Triste e estarrecedor ver desaparecer dessa forma um líder comunitário — afirma.
Os órgãos orientam as pessoas que tiverem mais informações sobre o crime a fazer denúncia ao Disque Cidadania LGBT, pelo telefone 0800-0234-557.