A partir de 9 de maio (sexta-feira), a Itaú Cultural Play – plataforma de streaming gratuita de cinema nacional – incorpora mais 10 filmes à sua coleção permanente Cinema negro brasileiro, que celebra o trabalho desses cineastas com obras pioneiras, nomes históricos e a produção recente do audiovisual negro feito no país. Os novos títulos que entram no catálogo são oito curtas e dois longas-metragens, de gêneros como drama, terror, fantasia e documentário, vindos de oito estados brasileiros. Eles conquistaram prêmios em festivais nacionais e internacionais, como o Festival de Brasília e o Festival Internacional de Cinema de Valdivia, no Chile.
São eles: Vão das almas (Distrito Federal, 2023), de Edileuza Penha de Souza e Santiago Dellape; Ramal (Minas Gerais, 2023), de Higor Gomes; Espelho (Sergipe, 2022), de Luciana Oliveira; Chico Rei entre nós (Minas Gerais, 2020), de Joyce Prado; Ilhas de calor (Alagoas, 2019), de Ulisses Arthur; Não fique triste, menino (Ceará, 2018), de Clébson Francisco; Negrum3 (São Paulo, 2018), de Diego Paulino; Lá do alto (Rio de Janeiro, 2015), de Luciano Vidigal; Das raízes às pontas (Distrito Federal, 2015), de Flora Egécia; e O Jucá da volta (Piauí, 2014), de Antônio Bispo e Júnia Torres.
O acesso à Itaú Cultural Play é gratuito, disponível em www.itauculturalplay.com.br, nas smart TVs da Samsung, LG, Android TV e Apple TV, nos aplicativos para dispositivos móveis (Android e iOS) e Chromecast. Você também pode encontrar conteúdos da IC Play nas plataformas Claro TV+ e Watch Brasil.
Os filmes
O curta-metragem de terror Vão das Almas (Distrito Federal, 2023) acompanha uma família de quilombolas que luta para retomar sua terra, injustamente invadida por um coronel. Enquanto um capanga tenta tirá-los à força de lá, os moradores percebem que o território é guardado pelas figuras misteriosas do Saci-Pererê e da Matinta, uma mulher que se transforma em ave.
No filme, a dupla de diretores Edileuza Penha e Santiago Dellape apresenta as lendas de Saci e de Matinta como símbolos da resistência cultural dos quilombos. O curta-metragem foi gravado no Quilombo Kalunga, maior território quilombola do país, localizado na Chapada dos Veadeiros, em Goiás. A maior parte do elenco e da equipe, inclusive, é de habitantes locais. Vão das Almas conquistou mais de 50 prêmios em festivais nacionais, incluindo o de melhor curta-metragem pelo júri popular na mostra Competitiva Nacional do 56º Festival de Brasília, em 2023.
Híbrido entre documentário e ficção, o filme Ramal (2023), do diretor mineiro Higor Gomes, mostra a tarde de diversão de jovens motoqueiros em um viaduto sem saída conhecido como Ramal Ferroviário, na periferia da cidade mineira de Sabará. De modo despretensioso, o cineasta insere o espectador no meio dos personagens, criando um retrato de um momento de lazer pouco conhecido pelas pessoas que não fazem parte da comunidade de motoqueiros.
A produção é considerada um dos melhores curtas-metragens de 2023, com mais de 10 prêmios nacionais e internacionais, incluindo o de melhor curta-metragem da Competitiva Brasileira do 12º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, e o de melhor curta-metragem latino-americano do 30º FICValdivia – Festival Internacional de Cinema de Valdivia, no Chile, ambos em 2023.
No documentário Chico Rei entre nós (Minas Gerais, 2020), um dos longas-metragens a entrar na coleção, a diretora Joyce Prado rememora a lenda desse personagem que, segundo o imaginário da cidade mineira de Ouro Preto, foi um rei congolês trazido ao Brasil para ser escravizado no século XVIII. Em uma trajetória de luta surpreendente, Chico Rei conseguiu a sua alforria e a de seu povo, tornando-se um símbolo do movimento negro.
O filme, que conquistou o prêmio de Melhor Documentário Brasileiro na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2020, parte da história dessa figura para mostrar os impactos da escravização na população negra brasileira até os dias de hoje.
Em Espelho (Sergipe, 2022), curta-metragem experimental da cineasta sergipana Luciana Oliveria, somos introduzidos à jornada de imersão psicológica e de autoconhecimento de Esperanza. O espelho, que a mulher encontra nas águas de um rio, leva-a em direção a sua ancestralidade, enquanto é acompanhada por divindades como Oxum e Iemanjá.
Tanto o curta-metragem alagoano Ilhas de calor (2019), quanto o paulistano Negrum3 (2018) – lê-se “Negrume” – tratam da intersecção da identidade negra e LGBTQIA+, mas de formas diferentes. No primeiro, um drama, o diretor Ulisses Arthur apresenta Fabrício, um adolescente gay que precisa lidar com uma paixão na escola. O segundo, experimental, coloca na tela um “manifesto” no qual jovens negros e LGBTQIA+ da capital paulista reivindicam sua liberdade e seu modo de ser e amar.
Negrum3, dirigido por Diego Paulino, foi exibido em mais de 80 festivais pelo mundo e ganhou mais de 40 prêmios, incluindo o Lili Award de melhor curta-metragem no MIX Copenhagen LGBTQ+ Film Festival 2019, na Dinamarca.
O curta-metragem Lá do alto (Rio de Janeiro, 2015), de Luciano Vidigal – mesmo diretor do premiado longa-metragem Kasa Branca (2024) – encanta crianças e adultos. Na Favela do Vidigal, na capital fluminense, um menino tenta convencer o pai a subir em um morro, no meio da floresta, para ficar mais perto de sua avó falecida, de quem ele sente saudades. O filme foi produzido pelo Nós do Morro, coletivo que atua há mais de três décadas com arte na comunidade, e foi premiado em vários festivais, incluindo o Kinoforum – Festival Internacional de Curtas de São Paulo.
O documentário Das raízes às pontas (Distrito Federal, 2015), de Flora Egécia, tornou-se uma referência no debate sobre preconceito racial e afirmação identitária em escolas e espaços educacionais do Brasil. Nele, vemos depoimentos de diferentes pessoas negras sobre seu cabelo: enquanto a pequena Luiza, uma estudante de 12 anos, fala com orgulho de seu cabelo crespo, a professora Ildete lembra que, na infância, usava penteados curtíssimos para escondê-lo. O filme foi premiado pelo júri popular no 49˚ Festival de Brasília, em 2016.
O outro longa-metragem novo na coleção Cinema negro brasileiro é O Jucá da volta (Piauí, 2014), dirigido pela cineasta Júnia Torres em parceria com o filósofo quilombola Antônio Bispo (1959-2023). O documentário aborda o jucá, técnica de luta ancestral nascida nos quilombos do Piauí, terra de Nêgo Bispo – um dos vencedores do Prêmio Milú Villela – Itaú Cultural 35 anos, em 2022.
Reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Brasil, o jucá combina movimentos corporais e batuque, além do manejo de uma arma feita a partir da madeira da árvore típica conhecida como jucazeiro. A narrativa resgata essa arte a partir de um de seus maiores praticantes, Mestre Ernestino.
Por fim, a coleção recebe o curta-metragem cearense Não fique triste, menino (2018), de Clébson Francisco. Partindo de lembranças pessoais e de elementos diversos, como pinturas, narrações, filmagens amadoras e música, o diretor busca falar sobre identidade negra, masculinidade e ressignificação da própria memória.
SERVIÇO
Novos filmes na coleção permanente Cinema negro brasileiro
A partir de 9 de maio na Itaú Cultural Play
Sinopses dos filmes
- Vão das almas
De Edileuza Penha de Souza e Santiago Dellape (15 min, Distrito Federal, 2023)
Classificação indicativa: A16 – Violência e drogas lícitas
Gênero: Fantasia
Sinopse: Uma família de quilombolas tenta retomar sua terra injustamente ocupada por um coronel. Um capanga quer retirá-los dali à força e eles resistem. Só que o lugar é enfeitiçado: em suas matas, esconde-se a misteriosa e temível Matinta.
Com legendas descritivas.
- Ramal
De Higor Gomes (16 min, Minas Gerais, 2023)
Classificação indicativa: A14 – exposição ao perigo e drogas lícitas
Gênero: Drama
Sinopse: Um grupo de jovens se diverte em suas motocicletas num viaduto sem saída conhecido como Ramal Ferroviário, protegido pelas montanhas que cercam a Vila Marzagão, na periferia da cidade de Sabará, Minas Gerais.
- Chico Rei entre nós
De Joyce Prado (94 min, Minas Gerais, 2020)
Classificação indicativa: A12 – Linguagem imprópria e drogas lícitas
Gênero: Documentário
Sinopse: O filme narra a história do lendário rei congolês arrancado de sua terra e escravizado no Brasil em meados do século XVIII. Pouco documentada, a jornada de Chico Rei ficou impressa na memória oral dos habitantes de Ouro Preto, em Minas Gerais, e é ponto de partida para uma reflexão sobre a formação e as desigualdades do Brasil.
Com legendas descritivas.
- Espelho
De Luciana Oliveira (18 min, Sergipe, 2022)
Classificação indicativa: A10 – Temas sensíveis
Gênero: Experimental
Sinopse: Uma mulher negra corre desorientada por uma floresta, alta noite. Ela adormece à beira de um rio e, ao acordar, segue caminhando até encontrar um espelho no meio das águas. Numa busca por si mesma, ela é acompanhada por um cortejo formado por várias divindades como Oxum, Nanã, Iemanjá e sua filha, e Iansã.
- Ilhas de calor
De Ulisses Arthur (20 min, Alagoas, 2019)
Classificação indicativa: A16 – Violência e drogas lícitas
Gênero: Drama
Sinopse: Fabrício é um adolescente e, na escola, anda com as meninas, com quem se sente bem. Ao lado delas, ele tem um grupo de rap e entoa rimas provocadoras para os meninos. Fabrício está apaixonado e guarda esse segredo só para si. Mas, em breve, o muro invisível do amor vai se estilhaçar.
- Negrum3
De Diego Paulino (22 min, São Paulo, 2018)
Classificação indicativa: A16 – Temas sensíveis, linguagem imprópria e drogas
Gênero: Documentário
Sinopse: Entre melanina e planetas longínquos, o filme propõe um mergulho na caminhada de jovens negros da cidade de São Paulo. Um ensaio sobre negritude, viadagem e aspirações espaciais dos filhos da diáspora.
Com legendas descritivas.
- Lá do alto
De Luciano Vidigal (9 min, Rio de Janeiro, 2015)
Classificação indicativa: AL – livre
Gênero: Drama
Sinopse: No alto da favela do Vidigal, um menino tem uma ideia: subir até o topo de um morro, no meio da floresta, para conversar com a avó que morreu, e de quem ele sente saudades. Seu pai resiste ao plano, alegando os perigos da travessia, mas o garoto não perderá a chance de encontrar a avó pertinho do céu.
- Das raízes às pontas
De Flora Egécia (20 min, Distrito Federal, 2015)
Classificação indicativa: AL – livre
Gênero: Documentário
Sinopse: Luiza tem doze anos, é negra e estudante. Ela fala com orgulho sobre as nuances do seu cabelo crespo, de como ele nasce e cresce. Ildete é uma professora negra e, durante a infância, usava cabelos curtíssimos. Esses e outros depoimentos dão forma a uma reflexão sobre reconhecimento e ancestralidade.
- O Jucá da volta
De Antônio Bispo dos Santos e Júnia Torres (52 min, Piauí, 2014)
Classificação indicativa: AL – livre
Gênero: Documentário
Sinopse: O jucá é uma técnica de luta nascida nos quilombos do Piauí. Como a capoeira, combina movimentos corporais e batuque, além do manejo de uma arma feita a partir da madeira do jucazeiro. O filme resgata esse saber ancestral e a trajetória de um de seus maiores praticantes, Mestre Ernestino.
- Não fique triste, menino
De Clébson Francisco (8 min, Ceará, 2018)
Classificação indicativa: AL – livre
Gênero: Experimental
Sinopse: Personagens negras numa pintura. Uma voz negra reclama uma condição perdida. Cenas do mar numa forte ressaca e fotos de uma criança apresentadas em sequência. Por meio destas imagens, uma reflexão sobre identidade negra, sexualidade e diáspora africana.