O cinema negro brasileiro ganha um novo fôlego com Pretinha, curta-metragem dirigido por Fellipe Paixão. Ambientado em uma escola comunitária afrocentrada na periferia, o filme combina afrofuturismo, acolhimento e crítica social para abordar questões urgentes como novas masculinidades, juventude e identidade afro-brasileira. A obra se firma como um passo importante na construção de um imaginário negro mais sensível, plural e potente no audiovisual nacional.
Rompendo com estereótipos historicamente impostos aos homens negros no cinema, a narrativa acompanha Leandro, um jovem negro que enfrenta a dor da perda do pai, assassinado pela polícia. Sem referências positivas de masculinidade em seu convívio imediato, ele encontra na figura do psicólogo Pedro um espaço onde pode refletir sobre suas emoções e iniciar um processo de transformação. Pretinha oferece uma visão complexa e sensível sobre os impactos do machismo estrutural na juventude negra, questionando as heranças de uma masculinidade hegemônica e abrindo caminho para novas possibilidades de ser e existir.
O afrofuturismo assume um papel central na linguagem do filme, não apenas como estética, mas como ferramenta de reconstrução do imaginário negro. A escola onde a trama se desenrola é um espaço de saberes ancestrais, onde passado e futuro se encontram para oferecer aos jovens uma visão de mundo que não os limita à violência ou à marginalização. A direção de arte e a fotografia do filme inspiram-se em cores vibrantes, luzes e elementos visuais que dialogam com essa proposta, proporcionando ao espectador uma experiência cinematográfica potente e simbólica.
Dirigido, roteirizado e produzido por uma equipe majoritariamente negra, Pretinha reforça o compromisso com a autoria negra na frente e atrás das câmeras, numa indústria ainda marcada pela sub-representação. O elenco é liderado por Cícero Lucas, ator do premiado Marte Um (2022), filme escolhido para representar o Brasil na disputa por uma indicação ao Oscar 2023, que assume o papel de Leandro; e por Wendell Campos, artista visual e poeta sergipano, que interpreta Pedro. A produção também conta com Davi Willian, Kênia Freitas, Quésia Souza, Abiúdo e Hawk, agregando ainda mais potência ao conjunto de atuações.
Aprovado em primeiro lugar na Lei Paulo Gustavo do estado de Sergipe e selecionado para importantes laboratórios e festivais, como a Mostra de Cinema de Tiradentes, o Nordeste Lab e o Projeto Marieta, Pretinha se firma como um filme negro de impacto, pronto para abrir espaço em debates e ampliar discussões sobre questões estruturais que atravessam a comunidade negra no Brasil.
Além do circuito em festivais, o curta também será exibido gratuitamente em quilombos, escolas e periferias, buscando promover diálogos sobre identidades negras, territórios e diferentes vivências da juventude periférica. A obra é um convite à reflexão, à reconstrução e à resistência — um filme que olha para o futuro com os pés firmes nas raízes.
Sobre o diretor
Fellipe Paixão é um cineasta sergipano, nascido no Povoado Tabocas, em Nossa Senhora do Socorro (SE). Formado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Sergipe, Fellipe se destaca por construir narrativas que exploram o protagonismo negro, o pertencimento e a ressignificação da masculinidade. Ele é membro fundador do coletivo de cinema Agora Seremos e integrante do selo musical Funkytown. Em 2023, co-dirigiu o curta Alive, selecionado para importantes festivais nacionais e internacionais, incluindo a 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes e o 52º Festival de Cinema de Gramado. Agora, em Pretinha, ele aprofunda sua pesquisa estética e narrativa ao abordar a juventude negra em um drama envolvente que combina elementos de afrofuturismo e uma estrutura inovadora.
Ficha técnica resumida
Título: Pretinha
Sinopse: Em uma escola periférica afrofuturista, um jovem negro encontra na figura de um psicólogo social o acolhimento necessário para ajudá-lo a superar a morte de seu pai e outros traumas passados, se afastando de uma imagem que o persegue e aterroriza.Direção e Roteiro: Fellipe Paixão
Produção Executiva: Gustavo Rayner
Elenco: Cícero Lucas, Wendell Campos, Davi Willian, Quésia Souza, entre outros
Duração: 20 minutos
Gênero: Drama
Previsão de estreia: 2025
Instagram:@pretinhafilme