A ONG funciona em uma sede emprestada em Salvador, mas tem multiplicadores em outros estados. De abril até agora, a TamoJuntas já solucionou mais de 1000 dúvidas nos canais de comunicação – whatsapp, e-mail e página do Facebook – e prestou mais de 100 atendimentos presenciais, ou seja, situações em que foi necessário prestar assessoria jurídica e outros acompanhamentos às vítimas. Atualmente, a organização acompanha 50 processos, lembrando que, às vezes, há mulheres que têm mais de uma ação contra o agressor correndo ao mesmo tempo.
Todo o atendimento da TamoJuntas é gratuito e Laina explica que o que conseguiram de financiamento até agora é para ações ou projetos específicos: “A gente aprovou um projeto a partir de uma parceria para financiar um evento que a gente faz uma vez por mês que é o mutirão de atendimento da lei Maria da Penha”. O evento inclui a formação da consciência de combate à violência de gênero. “Formamos uma mesa inicial para debater sobre um tema, por exemplo, esse mês é saúde e violência contra a mulher, no mês passado a gente falou sobre violência contra as mulheres lésbicas, trans e travestis. No mês de agosto, foi a vez de discutir os dez anos da lei Maria da Penha”, explica Laina Crisóstomo. O coletivo está agora pleiteando mais um financiamento para ministrar uma série de cursos. “Mas com relação ao atendimento mesmo, a gente não recebe absolutamente nada, a gente atua de forma gratuita mesmo”. A Ordem dos Advogados do Brasil reconhece o trabalho desenvolvido por ser pro bono, ou seja, voltado para pessoas que realmente não têm condições financeiras de pagar.
Abusadores x Vítimas
Assim como a história das vítimas diverge bastante, Laina Crisóstomo esclarece que é difícil traçar exatamente um perfil de agressor de mulher. Ela alerta para a dificuldade inicial de percepção da violência pelas mulheres. “É muito sério pra nós a questão da violência sexual. Existe uma resistência muito grande da mulher em admitir que foi estuprada pelo companheiro. E isso é muito grave, porque dá a entender que o corpo da mulher não é dela, é do marido, então ele tem direito. Algo como ela ter obrigação de servir ao homem. E aí isso pra gente é muito grave”, explica.
Baseada nos casos que a ONG já atendeu, Laina afirma que existe um comportamento que se repete no chamado agressor comum: ele agride primeiro verbalmente, faz ameaças, até chegar as vias de fato. “A gente consegue perceber que praticamente 100% dos casos que chegam a Justiça são de mulheres que sofreram também a violência física. Eu lembro apenas de dois casos que a gente atendeu que era violência psicológica o preponderante”, disse.
Contudo, afirma que há variações e é possível perceber as diferenças entre o agressor normal, que a própria lei Maira da Penha entende como um agressor previsível, e o que tem um quadro diagnosticado de psicopatia. “A gente tem o sujeito que cria o ciclo da violência, ou seja, dá o grito, bate bastante e aí tem a lua de mel, o suposto arrependimento. Pouco tempo depois a situação se repete, e se repete, e assim vai. E tem a ação do psicopata, que bate sistematicamente, eles são totalmente loucos, desequilibrados, agridem o tempo todo, mas planejam o lugar onde vão agredir, calculam que devem bater na cabeça, em algum lugar do corpo que ninguém vai ver”, diferencia.
Como um espelho
A empatia das mulheres que atuam no TamoJuntas é, certamente, um elemento para confirmar o sucesso da organização. Para a advogada Laina Crisóstomo, é difícil dizer que alguma mulher nunca tenha sofrido nenhum tipo de violência considerando o machismo sustentado pelo patriarcado. “Para quem não tinha essa percepção, começar a ouvir as histórias nos deu a dimensão de que todas nós já vivemos, por exemplo, um relacionamento abusivo e nem nos dávamos conta. Isso é uma coisa que faz a gente ter mais vontade ainda de atuar nessa perspectiva voluntária, em prol de uma sociedade mais justa, mais equânime”, conclui.
Quer entrar em contato? www.tamojuntas.org.br