Comissão Interamericana alerta para piora dos direitos humanos no Brasil

Enviado por / FonteO Globo, por AFP

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) fez um alerta, na quarta-feira, para a deterioração desses direitos no Brasil. Segundo o órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA), a piora é evidenciada desde a chegada ao poder do presidente Jair Bolsonaro e foi agravada pela pandemia.

A CIDH apresentou seu “diagnóstico integral” do respeito aos direitos humanos no Brasil até dezembro de 2019.

— Em seu relatório, a comissão dá conta dos avanços registrados no país nos últimos 20 anos, em particular na consolidação democrática e do Estado de Direito — assinalou sua presidente, Antonia Urrejola, em videoconferência. — Não obstante, a CIDH destaca sua preocupação com a desestruturação progressiva dessas instituições e políticas públicas construídas durante mais de duas décadas.

Uma delegação da CIDH visitou o Brasil em novembro de 2018, na segunda observação “in loco” do país, após uma primeira visita em dezembro de 1995. O relatório não inclui o impacto da pandemia, mas Urrejola apontou que a emergência sanitária “evidenciou de forma exacerbada as fragilidades estruturais em direitos humanos dos estados”.

A comissão acredita que as recomendações do relatório servirão para o país “desenhar políticas públicas destinadas a conter de forma decisiva a pandemia e responder à mesma a partir de um enfoque de direitos humanos e em cumprimento de suas obrigações internacionais”, pontuou Urrejola.

Discriminação estrutural

Mulheres, negros, indígenas, trabalhadores do campo, homossexuais e pessoas em situação de rua seguem expostos a situações de “extrema vulnerabilidade” ante a violência, o tráfico de pessoas e o trabalho escravo, destacou  o comissário Joel Hernández, relator da CIDH para o país.

— O Brasil segue apresentando um cenário de extrema desigualdade social, baseada em uma discriminação estrutural contra determinados grupos de pessoas —  apontou Hernández.

Segundo o relatório, “o machismo e a misoginia continuam relegando a mulher a uma posição de coadjuvante na economia e nos assuntos públicos”. O texto também destaca “as cifras alarmantes de assassinatos de mulheres“, apontando um “padrão de impunidade”.

Crimes de ódio

Após a eleição de Bolsonaro, em 2018, a CIDH informou ter detectado “um aumento dos crimes de ódio”, bem como dos “discursos de ódio e estigmatizantes”. A comissão constatou que esses discursos não procedem de pessoas ou grupos isolados, e sim de autoridades e políticos eleitos, que deveriam estar empenhados na construção de um ambiente de tolerância e respeito”, assinala o relatório.

O texto aponta, ainda, um aumento da violência contra as pessoas LGBTI e os jornalistas, e relata “um crescimento significativo” das ameaças, agressões e assassinatos de defensores dos direitos da terra e do meio ambiente.

A CIDH alertou também para o “risco de extermínio” de populações indígenas devido à invasão de terras ancestrais, e denunciou a “situação crítica” enfrentada pelos defensores dos direitos humanos, citando o assassinato de Marielle Franco.

‘Alto nível de impunidade’

Hernández também mencionou “um alto nível de impunidade” no sistema de Justiça, motivo pelo qual, apesar de comissões da verdade, casos de tortura e desaparecimentos ocorridos durante a ditadura militar permanecem impunes.

Segundo a CIDH, existe “um racismo institucional” no sistema de Justiça do país.

O relatório também denuncia a “exacerbação das disparidades raciais nas prisões” e um abuso da prisão preventiva.

A CIDH apontou “a situação de particular vulnerabilidade” em que vivem os imigrantes, após ter observado “com preocupação” o que considera “deficiências na implementação das normas sobre discriminação e xenofobia”. A comissão indicou que o número de imigrantes no Brasil aumentou 178% entre 2005 e 2016, e destacou a presença de venezuelanos, haitianos, bolivianos e sírios.

+ sobre o tema

Primeiras alunas da Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas começam a receber aulas

Um projeto inovador da Coordenação Nacional das Comunidades Negras Rurais...

MEC elaborará protocolos de prevenção ao racismo nas escolas

Ministério da Educação (MEC) irá elaborar protocolos de prevenção e...

Prouni: resultado da 2ª chamada será divulgado nesta terça-feira

O resultado da segunda chamada do Programa Universidade Para...

para lembrar

Pernambuco: Secretaria de Educação divulga 90 vagas para professores e coordenadores

Salários podem chegar a 2.932,96; inscrições podem ser realizadas...

Sinal positivo ao sistema de cotas

A semana absolutamente caótica na política e na economia...

19 federais decidem usar o Enem como vestibular unificado

Fonte: Folha de São Paulo - Cotidiano - Divulgação/ Enem Pelo...
spot_imgspot_img

42 cursos para estudar na USP e na Unicamp de graça e online; veja a lista

Estudar em casa e sem pagar nada é possível, especialmente com a oferta de cursos online das prestigiadas universidades públicas USP (Universidade de São Paulo) e...

Primeiras alunas da Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas começam a receber aulas

Um projeto inovador da Coordenação Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) começa a colher seus primeiros frutos. Na última semana, um encontro em Brasília celebrou...

MEC elaborará protocolos de prevenção ao racismo nas escolas

Ministério da Educação (MEC) irá elaborar protocolos de prevenção e resposta ao racismo em todas as etapas da educação básica e no ensino superior. A medida faz...
-+=