Como é para mim interpretar Darluz?

Dina Alves conta a sua experiência em interpretar a personagem Darluz

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Pra mim, interpretar Darluz é poder reafirmar no meu trabalho que o teatro deve cumprir sua função social. Darluz foi construída através de muito diálogo com Eduardo Silva, diretor da peça, muita leitura do texto e exercícios de escrita da gênesis da personagem. O Eduardo e eu chegamos à conclusão que Darluz é essa mulher enlouquecida pelo sistema capitalista e que forja estratégias de sobrevivência a partir do seu corpo.

Pra mim Darluz foi um presente oferecido pelo Marcelino Freire, escritor pernambucano vencedor do prêmio Jabuti, com quem eu tive o prazer de conversar sobre essa mulher que ele escreveu no conto intitulado Darluz, do livro Balé Ralé.

Interpretar Darluz é uma grandiosa oportunidade de demonstrar, através da personagem, o lugar/não lugar que as mulheres negras ocupam nessa sociedade, que as relegam a espaços historicamente demarcados.  Se é verdade que as mulheres negras somam-se a maior participação demográfica entre os pobres, vítimas de racismo e do sexismo, Darluz confirma essa verdade a partir da sua fala e de seu corpo no palco.

Darluz representa grande parte das mulheres negras que estão limpando o chão das universidades, vivendo em lixões, atrás das grades e vítimas do aborto. É muito importante trazer para o teatro a reflexão sobre a maternidade negra e qual é o olhar da sociedade e do estado sobre estas mulheres e seus corpos. Historicamente vistas como fábricas de produzir marginais. Darluz traz à tona a discussão sobre a autonomia do corpo ao gerar seus filhos e vendê-los, ao mesmo tempo em que vende também o leite produzido pela gestação e assim utiliza o seu corpo como instrumento de sobrevivência.

Sinopse:

O espetáculo tem duração de 40 minutos, onde a cena teatral é conduzida por “Darluz”, mulher moradora da favela Canindé, próxima a um lixão. Ela tem 49 anos de idade, é negra, mãe de 14 filhos, os quais ela vende a terceiros a fim de livrá-los da extensão da sua miséria. A protagonista tem um marido alcoolista e desempregado chamado Altamiro e ambos vivem em situação de pobreza. O enredo é pautado por “Darluz” dialogando com Altamiro sobre suas angústias, suas perdas, sua condição social, racial e sobre a sua solidão. Tanto o início quanto o desfecho teatral são marcados pela protagonista relatando a história dos filhos vendidos, os quais são simbolizados por brinquedos que compõem o cenário.

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