Confira exemplares da imprensa negra disponíveis no acervo de Geledés

19/11/25
Por Beatriz de Oliveira
Com papel fundamental no combate ao racismo, jornais da imprensa negra podem ser consultados no Centro de Documentação e Memória Institucional de Geledés. O espaço é aberto ao público

Desde 1833, com a publicação do jornal O Homem de Côr, até a atualidade, profissionais da imprensa negra têm se dedicado a disseminar informações e histórias que somem à luta antirracista e reforcem a potência e a diversidade da população negra brasileira. Neste Dia da Consciência Negra, Geledés – Instituto da Mulher Negra te convida a refletir sobre a importância dos veículos liderados por pessoas negras ao longo dos últimos anos. 

Em sua dissertação de mestrado, intitulada “De Pele Escura e Tinta Preta: A Imprensa Negra do Século XIX (1833-1899)”, a historiadora Ana Flávia Magalhães Pinto define tais meios de comunicação como “os jornais que se inserem na luta contra a discriminação racial no Brasil”. 

“Momentos iniciais da imprensa negra no Brasil demonstram que, a despeito de inúmeros contratempos – entre os quais o próprio escravismo e seus instrumentos afins –, negros aqui formularam uma fala própria e tornaram-na pública”, ressaltou a historiadora em um trecho do texto. 

Em seus quase dois séculos de existência, a imprensa negra brasileira tem desempenhado papel fundamental no combate ao racismo e ao sexismo. Geledés, enquanto organização da sociedade civil que tem a comunicação como um dos eixos de seu trabalho – não enquanto imprensa – considera fundamental reverenciar este legado. 

Portanto, neste 20 de novembro, o Portal Geledés apresenta oito documentos e jornais da imprensa negra disponíveis em nosso Centro de Documentação e Memória Institucional (CDMI). Mediante agendamento prévio, todos eles podem ser consultados.

Confira! 

Imprensa Negra – Estudo Crítico de Clóvis Moura

Imprensa Negra – Estudo Crítico de Clóvis Moura. Crédito: Beatriz de Oliveira

O fac-símile “Imprensa Negra – Estudo Crítico de Clóvis Moura”, de 2002, é uma reedição da publicação de 1984. O documento apresenta uma análise do jornalista e sociólogo Clóvis Moura acerca da imprensa negra de São Paulo. Ao longo do texto, Clóvis aborda a atuação de jornais como O Clarim da Alvorada, A Voz da Raça, A Raça e O Alfinete, inclusive com a reprodução das páginas de alguns deles.

“Uma imprensa que tem circulação restrita e penetração limitada à comunidade a que se destina, irá exercer uma função social, política e catártica durante sua trajetória, mudando de conotação ideológica com a passagem do tempo”, diz no início do texto. 

Revista Pode Crê 

Pode Crê. Crédito : Isabela Gaidis

A Revista Pode Crê nasceu do Projeto Rappers, programa de Geledés voltado à juventude negra. O veículo foi o primeiro segmentado para jovens e adolescentes negros e negras do país e contou com cinco edições, entre 1992 e 1994. 

Todas as edições da revista, além de um fac-símile que reúne todas as publicações, estão disponíveis no CDMI. O conteúdo inclui matérias relacionadas à música, política, artes e entrevistas com Racionais MC’s, Damas do Rap, Thaíde e DJ Hum e Bezerra da Silva. 

Ìrohìn

Ìrohìn – Crédito: Beatriz de Oliveira

Lançado em 1996, em Brasília, o jornal Ìrohìn se dedicou a pautar questões relacionadas ao combate à discriminação racial, o papel das organizações negras e expressões culturais e artísticas ligadas à identidade negra. A publicação, que encerrou as atividades em 2008, chegou a tiragem de 16.000 exemplares e teve uma versão online lançada em 2006. 

No CDMI, é possível consultar algumas das edições impressas do jornal. Há, por exemplo, artigos e reportagens sobre informalidade e mercado de trabalho, a conferência de Durban, biotecnologias e políticas de cotas nas universidades. 

Revista Raça

Revista Raça – Crédito: Beatriz de Oliveira

Criada em 1996, a Revista Raça segue em atividade até hoje. Chegando ao número de 270 mil exemplares vendidos na primeira edição, a publicação trata sobre a inclusão racial, de gênero e a representatividade da população negra. 

Muitas edições estão disponíveis no acervo de Geledés, com capas icônicas como as de Camila Pitanga, Margareth Menezes e Martinho da Vila. 

Revista Eparrei

Eparrei – Crédito: Isabela Gaidis

Fruto do trabalho das ativistas da Casa de Cultura da Mulher Negra, em Santos (SP), a Revista Eparrei foi criada em 2001. A publicação aborda temas como ações afirmativas, religiões de matriz africana, história, arte e cultura.

Entre os nomes presentes em reportagens e entrevistas das edições alocadas no CDMI estão: Lélia Gonzalez, Zezé Motta, Edna Roland e Leci Brandão. No editorial do volume quatro, Alzira Rufino, editora da revista, escreve: “comunicar é politizar. Brasil, país negro, indígena e feminino, acreditamos numa outra história”. 

Black People

Black People – Crédito: Beatriz de Oliveira

O CDMI tem exemplares da revista Black People que foram publicados entre os anos de 1997 e 2004. A equipe era sediada no Rio de Janeiro. As capas incluem títulos como “Todo dia é dia do negro” e “Negro: uma raça ou uma cor?”. Segundo disse Cátia Lopes de Souza, diretora-presidente da revista, em uma declaração ao jornal Folha de SP, em 17 de setembro de 1996, a periodicidade era mensal e com uma tiragem de 50 mil exemplares em todo território nacional. 

Gbàlà

Gabala – Crédito_: Beatriz de Oliveira

A publicação Gbàlà era definida como “uma revista a serviço da população afro-brasileira”. Projeto da Sociedade Afro-Sergipana de Estudos e Cidadania, em Aracaju (SE), a primeira edição do periódico teve uma tiragem de 1000 exemplares. “Em 1995, quando celebramos o tricentenário da luta de Zumbi e de todos os palmarinos, colocamos à disposição da população afro-brasileira e do público em geral a revista Gbàlà que, na língua iorubá, tem o sugestivo significado de resgate. Pois é essa a nossa pretensão”, aponta o editorial. 

Suingando 

Suingando – Crédito: Beatriz de Oliveira

Sediada em São Paulo, a revista Suingando buscava colocar “a cultura afro em evidência”. No CDMI há uma edição de 1997, que inclui uma entrevista com a cantora Alcione. No comentário de um leitor sobre a publicação, lê-se: “esta revista vai mexer com as cabeças pensantes, com as mentalidades arcaicas e atrofiadas (…) Felizmente, alguém de visão enxergou que negro não se resume a escravidão, samba, cachaça, vagabundagem, miséria, marginalidade, violência, entre outros, que são comumente enfocados pelos meios de comunicação”. 

Compartilhar