Nestas próximas semanas, vamos conhecer um pouco mais sobre as expectativas dos principais personagens do legislativo estadual paulista para os próximos quatro anos: os deputados.
Por Manuela Sá , da Assembéia Legislativa
Depois de seis meses de mandato, o que será que eles esperam? Em quem eles se inspiram? Quais as prioridades de cada gabinete?
A entrevista desta edição é com a deputada Leci Brandão.
Os últimos meses
Essa legislatura é totalmente diferente das outras. Eu cheguei na Assembleia em 2011 e posso afirmar que eu sinto muita falta das grandes tribunas que esse parlamento já teve. Deputados que, embora fossem de siglas partidárias diferentes, mantinham uma discussão de alto nível, se respeitavam, havia toda uma preocupação de se explicar o que estava defendendo. Você conseguia colocar de forma bem ordenada e às vezes até com bastante ênfase as suas defesas, mas sem ofender o colega. Esta legislatura está me surpreendendo porque muitas pessoas disseram que iam mudar a política, mostrar outra realidade, e etc, mas parece que a educação fugiu dessas pessoas. Eu acho que dentro de uma Assembleia Legislativa, que é a maior da América Latina, tem que haver uma conduta decente, não precisa perder o decoro. Posso dizer que eu sempre respeitei as pessoas, independentemente de qual partido pertence, eu vejo o ser humano. Tanto que na hora da votação de projetos, se há algum que eu entendo que vá favorecer o povo de São Paulo, eu vou voltar favoravelmente, agora quando é uma coisa que não tem nenhum sentido e que vai enfraquecer as nossas lutas sociais, aí eu vou dar voto contrário. Eu lamento muito, porque existem jovens nesse grupo que chegou agora que parecem não entender o debate e são ofensivos. A eles eu digo que o importante mesmo é o legado que você vai deixar.
Projetos, legado e futuro
Minha missão é estar em um lugar de direito para eu poder trabalhar de forma efetiva em defesa daqueles que eu acredito. Nossos projetos são todos focados na defesa das mulheres, da população negra, das comunidades e povos tradicionais, das religiões de matriz africana, contra o feminicídio, contra todas as formas de violência, contra o racismo e qualquer tipo de preconceito. Uma questão importante é você possibilitar o direito ao acesso e à inclusão de negros e negras nos espaços de poder. Quando a gente entrou na Assembleia fomos a segunda negra a ocupar este espaço, a primeira foi a Dra. Theodosina Rosário Ribeiro. Fico muito contente em ver que isso se ampliou.
Apresentamos e aprovamos vários projetos relacionados ao combate à discriminação, à violência contra a mulher, ao racismo religioso e pela valorização da cultura negra. A nossa lei mais recente é a 17.157/2019 que pune administrativamente atos discriminatórios por motivos religiosos. Nos últimos tempos, tem havido muitos casos de agressões e constrangimentos contra pessoas que só querem professar a sua fé. Não podemos admitir isso. O Estado é laico e todos têm direito a expressar sua religião.
Inspiração e referências
Minha principal referência, a minha mãe, dona Lecy de Assumpção Brandão, foi embora no mês de julho. Era uma mulher simples, que foi servente de escola pública, operária de fábrica. Toda sabedoria de vida que eu tenho foi ela que me deu. No lado artístico eu posso dizer que Martinho da Vila é uma referência, ele sempre falou de coisas que me chamavam a atenção e é um grande compositor.
Outras pessoas que eu admiro são Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro e Djamila Ribeiro. Essas duas últimas citaram meu nome nos seus livros, uma grande honra. Às vezes eu fico até espantada de ver como essas mulheres, essas cabeças tão importantes, citam o nome da gente. A Jurema Werneck, que é uma médica e atua no movimento negro, trabalha com uma organização chamada Criola. Ela é autora de um livro que também tem o meu nome lá. Eu sou muito grata a Deus e aos meus orixás por isso, porque eu não tinha dimensão do quanto essas minhas ações, enquanto compositora, pudessem influenciar as pessoas.