Livre no Parlamento: Joacine promete uma esquerda antifascista, antirracista, feminista radical e verde. E dançou…

Candidata do Livre por Lisboa foi eleita deputada numa noite em que o partido fez história. Num discurso entusiasmado e ao som da canção que deu o mote à sua campanha, Joacine Moreira disse que será uma voz desconfortável no Parlamento

Por Pedro lima, do Espresso

A candidata do Livre, Joacine Katar Moreira (D) acompanhada pelo fundador do partido, Rui Tavares (E) no início da campanha eleitoral, a 24 de setembro de 2019. (Foto: MIGUEL A. LOPES / LUSA)

A explosão de alegria na Fábrica Braço de Prata só chegou às 00h24 quando finalmente foi confirmada a eleição de Joacine Moreira como deputada. A mulher que fica na história destas legislativas por ser a primeira afrodescendente a chegar ao Parlamento (ex-aequo com uma eleita do Bloco) irrompeu pelo palco ao som da música que foi usada para a campanha, criada pelos Fado Bicha, em que se ouve “quero o sem-precedente. Joacine presente”.

E Joacine dançou, ela e Rui Tavares, o fundador do Livre em 2013, que já antes tinha classificado a noite eleitoral deste domingo de legislativas como uma “noite histórica”.

Quando o Expresso entrou na Fábrica de Braço de Prata, em Lisboa, pelas 20h30, perguntaram-nos “vem para a Festa? É lá em cima no primeiro andar”. Só quatro horas depois é que se confirmaria a “Festa”, no encontro dos apoiantes do Livre para acompanhar a noite eleitoral.

À medida que o tempo foi passando, a sala foi enchendo e a “noite histórica” começou a materializar-se logo quando Carlos Teixeira, número 2 por Lisboa e membro do Grupo de Contacto do partido, foi ao palco anunciar que o Livre já tinha conseguido um número de votos suficiente (50 mil) para receber a subvenção pública atribuída aos partidos políticos. De imediato, surgiu a canção que alguns apoiantes já tinham pedido. Mas o suspense fez-se sentir durante mais algum tempo.

A candidata que também ficou para a história destas eleições pela sua gaguez fez um discurso em que essa condição de ser gaga não se fez sentir, tamanho foi o entusiasmo que colocou nas palavras que dirigiu aos apoiantes do Livre que enchiam a sala da Fábrica de Braço de Prata.

“Seremos no Parlamento a esquerda antifascista, antirracista, a esquerda feminista radical porque o radicalismo feminista também é o alicerce das democracias”, disse Joacine Moreira.

“Seremos a esquerda verde no Parlamento português, a esquerda ecológica que defenderá o novo pacto verde, o investimento necessário para proteger o planeta”, disse, lembrando a responsabilidade e a esperança que a sua eleição representa e garantindo que será uma “voz desconfortável”.

“O Livre está ansioso, sedento de contribuir de uma forma efetiva para uma mudança nacional”, acrescentou. “As reivindicações das minorias, quaisquer que elas sejam, são aquelas que vão reforçar a democracia em Portugal”.

Rui Tavares, fundador do Livre, destacou o resultado histórico do partido da papoila. Antes de fazer a festa, já tinha dito que com este resultado “podemos vir a ter uma mobilização muito maior”. Acrescentou que “esta é a altura de enraizar este partido. Agora vamos plantar papoilas”.

Joacine Moreira, de 37 anos, nascida na Guiné Bissau e vinda para Portugal aos 8 anos, abordou a campanha com o mote na igualdade, justiça social e justiça ambiental.

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