Das arquibancadas ou do sofá de casa, quem ouve os sambas entoados na Marquês de Sapucaí nem consegue perceber, mas a voz feminina se faz cada vez mais presente no grupo de puxadores das agremiações. Semana passada, o Sambódromo recebeu uma nova geração de pastoras, como são chamadas as vozes de apoio aos intérpretes oficiais desde os primórdios do carnaval. Visualmente, as moças emprestam beleza e graça ao desfile. Tecnicamente, elas cedem tons mais suaves ao coro para lá de grave — ouvidos iniciados sentem diferença na harmonia do conjunto.
A São Clemente, que abriu os desfiles da noite de segunda-feira com o enredo “Horário nobre”, levou quatro cantoras para apoiar Igor Sorriso, o intérprete-mor da escola, que passou pela Sapucaí travestido de Sinhozinho Malta. Produzidas em clima anos 60, com comportadas saias douradas de bolinha preta e lenços com a mesma estampa na cabeça, as “puxadoras” se destacaram pela empolgação. Nos refrões “Dance bem, dance mal, dance sem parar”, fizeram passinhos coreografados sem parar de cantar um minuto. E assim seguiram durante todo o cortejo.
— As mulheres vão conquistar ainda mais espaço no carro de som — torce a cantora Júlia Alan, de 26 anos, que dividiu os vocais com Aline Santos (ex-cantora de funk), Cecília do Preto (famosa nos blocos, como o Simpatia É Quase Amor) e Rosilene Alegria (backing vocal de grupos de pagode, como Exaltasamba).
Filha do compositor Sérgio Alan, da Unidos da Tijuca, Júlia começou a carreia de “puxadora” em 2003, na versão mirim da agremiação, a Tijuquinha do Borel. Quando fez 18 anos, foi convidada a integrar o quadro de compositores da escola Aprendizes do Salgueiro, onde ficou até 2011, quando foi chamada por Igor Sorriso para cantar na São Clemente. Nos dois últimos anos, ela era a única mulher entre os intérpretes da escola.
— A São Clemente comprou o nosso barulho e a chegada das outras meninas facilitou demais o trabalho: ficou mais fácil mostrar o vocalise, as variações melódicas sem letra no meio do samba — explica Júlia, publicitária por formação, que nos demais meses do ano trabalha como administradora em um projeto social do Salgueiro.
Neguinho aprova as vozes femininas
Na terça-feira de carnaval, Júlia foi conferir os desfiles das escolas mirins e ficou emocionada com o que viu: o intérprete oficial da Mangueira do Amanhã faltou, e uma menina, Larissa Cruz, assumiu o microfone-chefe.
— A Larissa mandou muito bem! Na minha época de escola mirim, dez anos atrás, eu era a única menina. Atualmente, há umas seis ou sete muito boas em escolas como Mangueira, Estácio e Vila Isabel. A nova safra de pastoras ainda tem muito o que crescer — diz ela.
Depois de quatro anos sem uma representante feminina na ala dos puxadores, a Beija-Flor ganhou reforço da cantora Cacau Caldas, de 36 anos, no time capitaneado por Neguinho da Beija-Flor.
— A puxação na Avenida não é privilégio dos homens, já tivemos Tia Surica, Elza Soares, Alcione. Devido ao fone do homem ser mais forte, tradicionalmente essa missão é atribuída a ele, mas as mulheres também são uma boa opção para melhorar a harmonia do conjunto. Algumas notas sobressaem melhor nas vozes femininas, ficam em tons mais confortáveis — avalia Neguinho, que por anos teve a irmã, Tina, ao seu lado no carro de som.
Nascida e criada em Nilópolis, Cacau sempre esteve presente na quadra para defender composições em escolhas de sambas-enredos. Até então, nunca tinha cruzado a pista da Marquês de Sapucaí.
— Ano passado, eu estava defendendo um samba na disputa e o Laíla (diretor de carnaval da escola) me convidou para integrar o time de puxadores — conta ela, que já gravou com Arlindo Cruz.
Para entoar o enredo “Amigo fiel, do cavalo do amanhecer ao mangalarga marchador”, que garantiu o segundo lugar à agremiação de Nilópolis, Cacau ensaiou todas as quintas-feiras, desde setembro do ano passado.
— A gente cantava por três horas e meia na quadra. Os 82 minutos na Avenida foram moleza — contou Cacau, que, apesar da boa forma, não se imagina dentro de um biquíni de rainha da bateria. — Nasci para cantar!
No esquenta, Marcelo Guimarães, um dos cantores da escola, elogiou o traje de Cacau: uma tailleur carnavalesco azul e branco:
— Além de se destacar pela beleza exterior, ela dá um toque especial. Sou a favor de mais mulheres entre os puxadores.
Se depender de Neguinho, assim será. Na Quarta-Feira de Cinzas, o intérprete se disse satisfeito com o resultado do conjunto:
— Ano que vem pretendo botar dois homens e duas mulheres ao meu lado.
Das arquibancadas ou do sofá de casa, quem ouve os sambas entoados na Marquês de Sapucaí nem consegue perceber, mas a voz feminina se faz cada vez mais presente no grupo de puxadores das agremiações. Semana passada, o Sambódromo recebeu uma nova geração de pastoras, como são chamadas as vozes de apoio aos intérpretes oficiais desde os primórdios do carnaval. Visualmente, as moças emprestam beleza e graça ao desfile. Tecnicamente, elas cedem tons mais suaves ao coro para lá de grave — ouvidos iniciados sentem diferença na harmonia do conjunto.
A São Clemente, que abriu os desfiles da noite de segunda-feira com o enredo “Horário nobre”, levou quatro cantoras para apoiar Igor Sorriso, o intérprete-mor da escola, que passou pela Sapucaí travestido de Sinhozinho Malta. Produzidas em clima anos 60, com comportadas saias douradas de bolinha preta e lenços com a mesma estampa na cabeça, as “puxadoras” se destacaram pela empolgação. Nos refrões “Dance bem, dance mal, dance sem parar”, fizeram passinhos coreografados sem parar de cantar um minuto. E assim seguiram durante todo o cortejo.
— As mulheres vão conquistar ainda mais espaço no carro de som — torce a cantora Júlia Alan, de 26 anos, que dividiu os vocais com Aline Santos (ex-cantora de funk), Cecília do Preto (famosa nos blocos, como o Simpatia É Quase Amor) e Rosilene Alegria (backing vocal de grupos de pagode, como Exaltasamba).
Filha do compositor Sérgio Alan, da Unidos da Tijuca, Júlia começou a carreia de “puxadora” em 2003, na versão mirim da agremiação, a Tijuquinha do Borel. Quando fez 18 anos, foi convidada a integrar o quadro de compositores da escola Aprendizes do Salgueiro, onde ficou até 2011, quando foi chamada por Igor Sorriso para cantar na São Clemente. Nos dois últimos anos, ela era a única mulher entre os intérpretes da escola.
— A São Clemente comprou o nosso barulho e a chegada das outras meninas facilitou demais o trabalho: ficou mais fácil mostrar o vocalise, as variações melódicas sem letra no meio do samba — explica Júlia, publicitária por formação, que nos demais meses do ano trabalha como administradora em um projeto social do Salgueiro.
Neguinho aprova as vozes femininas
Na terça-feira de carnaval, Júlia foi conferir os desfiles das escolas mirins e ficou emocionada com o que viu: o intérprete oficial da Mangueira do Amanhã faltou, e uma menina, Larissa Cruz, assumiu o microfone-chefe.
— A Larissa mandou muito bem! Na minha época de escola mirim, dez anos atrás, eu era a única menina. Atualmente, há umas seis ou sete muito boas em escolas como Mangueira, Estácio e Vila Isabel. A nova safra de pastoras ainda tem muito o que crescer — diz ela.
Depois de quatro anos sem uma representante feminina na ala dos puxadores, a Beija-Flor ganhou reforço da cantora Cacau Caldas, de 36 anos, no time capitaneado por Neguinho da Beija-Flor.
— A puxação na Avenida não é privilégio dos homens, já tivemos Tia Surica, Elza Soares, Alcione. Devido ao fone do homem ser mais forte, tradicionalmente essa missão é atribuída a ele, mas as mulheres também são uma boa opção para melhorar a harmonia do conjunto. Algumas notas sobressaem melhor nas vozes femininas, ficam em tons mais confortáveis — avalia Neguinho, que por anos teve a irmã, Tina, ao seu lado no carro de som.
Nascida e criada em Nilópolis, Cacau sempre esteve presente na quadra para defender composições em escolhas de sambas-enredos. Até então, nunca tinha cruzado a pista da Marquês de Sapucaí.
— Ano passado, eu estava defendendo um samba na disputa e o Laíla (diretor de carnaval da escola) me convidou para integrar o time de puxadores — conta ela, que já gravou com Arlindo Cruz.
Para entoar o enredo “Amigo fiel, do cavalo do amanhecer ao mangalarga marchador”, que garantiu o segundo lugar à agremiação de Nilópolis, Cacau ensaiou todas as quintas-feiras, desde setembro do ano passado.
— A gente cantava por três horas e meia na quadra. Os 82 minutos na Avenida foram moleza — contou Cacau, que, apesar da boa forma, não se imagina dentro de um biquíni de rainha da bateria. — Nasci para cantar!
No esquenta, Marcelo Guimarães, um dos cantores da escola, elogiou o traje de Cacau: uma tailleur carnavalesco azul e branco:
— Além de se destacar pela beleza exterior, ela dá um toque especial. Sou a favor de mais mulheres entre os puxadores.
Se depender de Neguinho, assim será. Na Quarta-Feira de Cinzas, o intérprete se disse satisfeito com o resultado do conjunto:
— Ano que vem pretendo botar dois homens e duas mulheres ao meu lado.
Fonte: Globo