Continuamos fazendo gênero

O Blog da Igualdade está fazendo aniversário e agradece a todas e todos que acompanham essa luta diária, diuturna, pelos direitos humanos e civis das diversidades.

por Dora Galesso do Blog igualdade de gênero 

Especialmente, por uma sociedade mais igualitária, justa e harmônica para com as mulheres. Os números da violência de gênero, no Brasil, alcançaram níveis estratosféricos neste século 21.

Mais do que nunca, as mulheres precisam batalhar e mostrar que não mais admitem ser vítimas, cidadãs de segunda classe silenciadas ou o “segundo sexo” omisso e submisso.

Temos muito chão a percorrer. Avante!

Às vezes, ou com frequência, penso em quantos anos-luz ainda precisamos percorrer, deste ponto em que estamos no Brasil, para outros estágios de desenvolvimento pessoal (humano) e enquanto nação. Caminhar, com maior celeridade e seriedade, para uma sociedade livre de tantos preconceitos, ódios e violências múltiplas contra as diversidades. Principalmente, contra as mulheres.

A violência de gênero, fruto da perpetuação dos valores patriarcais   machistas, é o principal problema social e um dos maiores entraves para o pleno desenvolvimento econômico brasileiro – e de tantos outros países latinos, (médio) orientais, africanos ou mesmo europeus. Há exatos dois anos, quando foi lançado o Blog da Igualdade (aniversário!) , escrevi artigo com as estatísticas perversas do que representa o machismo, em termos socioeconômicos, para as nações.

Os números, publicados e sempre atualizados em estudos da Organização Mundial do Comércio (OMC) e das Nações Unidas (ONU), traduzem bem as tristes realidades de países que simplesmente não conseguem se livrar de valores arcaicos abusivos, discriminações e imposições de força (poder) e (semi)escravidão de uns sobre outros.

Valores perpassados pelas “tradições” sociais, religiosas e culturais que engendram aterradores hábitos, costumes e cotidianos massacrantes. Violências múltiplas contra a maior parte das populações em nossas sociedades. Como podem estas, então, percorrer seguramente o caminho do desenvolvimento?

A violência de gênero é também carregada de tintas homofóbicas (contra os LGBT) e racistas. No caso do Brasil, as mulheres negras são de longe as maiores vítimas, sendo duplamente discriminadas, embora os dados englobem todas as raças e classes sociais.

Os preconceitos encerram não somente agressões físicas mas, especialmente, aquelas ainda mais perversas, como os bullyings morais e psicossociais. Além de extremamente invasivas, tais agressões permeiam mentes e corações, cerceando a liberdade fundamental de existência enquanto indivíduo.

Apenas para ilustrar, inclusive a deslavada dissimulação e negação social do que ocorre de fato no Brasil, analisemos o que o país assistiu no programa Fantástico , da Rede Globo , no domingo (29/06) .

Em extensa reportagem sobre o “turismo” (escancaradamente sexual) atraído ao Brasil pela Copa do Mundo, a emissora nem se preocupou em esclarecer que o próprio governo brasileiro e diversas entidades da sociedade civil realizam campanhas, nacionais e internacionais, nas quais tentam desestimular a prostituição e a pedofilia no país.

Em suma, o Fantástico prestou um enorme desserviço, ao apresentar uma matéria que praticamente elogia os comportamentos de conotações agressivamente sexuais e a prostituição escancarada de estrangeiros e brasileiros/as nas cidades-sede da Copa, em especial no Rio e em São Paulo.

Aliás, os programas da TV Globo atrapalham, e muito, as tentativas de quebrar os estereótipos e as arraigadas representações da sociedade brasileira como sendo um mix de libertina e permissiva. Principalmente, os estereótipos das mulheres brasileiras “fogosas e fáceis”, prontas para o sexo casual, pago ou não.

O governo, hoje, está consciente do estrago feito, ao longo de décadas, pelas campanhas publicitárias e produções midiáticas que perpassam tais representações: as de uma nação onde tudo pode acontecer e onde a pobreza e a miséria ensejam oportunidades para qualquer fantasia ou tara sexual. Inclusive, a pedófila.

 

O Brasil tornou-se, com isso, uma das principais rotas do turismo sexual e pedófilo, no mundo. É ainda um paraíso para o tráfico de seres humanos. Perde apenas para os países ainda mais miseráveis e “tradicionais” nos esquemas mafiosos da escravidão sexual, como a Tailândia. É, sobretudo, um chamado ao turismo contraproducente, que não gera divisas ou dinheiro para quase ninguém a não ser para os “gestores” de tais negócios, se é que podemos assim denominá-los.

O turista sexual, claro, não viaja com a família; relaciona-se mais com os agentes das redes de prostituição e do tráfico, para quem paga as “contas”; e não gasta grandes somas no comércio formal. Até porque a maior parte desses “turistas” é formada pelo cidadão das classes sociais mais baixas em seus países de origem. Atrações culturais são seus últimos interesses. =

O país despontou como destino turístico “sexual” entre as décadas de 1980 e 1990. Até hoje, no entanto, a Ásia lidera o ranking. Em seguida vêm América Central, Caribe e América do Sul. México, Cuba e Brasil sendo os principais.

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Uma pesquisa patrocinada pela Organização Mundial do Trabalho (OMT), divulgada em 2005, revelou o perfil do turista sexual que vem ao Brasil. Ele é de classe média, tem entre 20 e 40 anos de idade, viaja desacompanhado ou com outros homens.

Os italianos, os portugueses, os holandeses e os norte-americanos são os principais turistas “sexuais”. Em menor escala aparecem ingleses, alemães e latino-americanos. Como bem espelham as estatísticas, a preferência dos turistas (nacionais e internacionais) é pelas meninas (pré) adolescentes, em franca exposição da pedofilia.

O que o programa Fantástico mostrou foi uma estarrecedora apologia machista, absurda, ao uso e abuso das mulheres brasileiras. Quiçá das mais jovens, especialmente as negras/mulatas – que seriam a “típica mulher brasileira”. Elas aparecem em quase todas as entrevistas e imagens editadas ao longo da matéria. Algo tão ostensivo que chega a causar náuseas.

Logo em seguida, o “programão” global dominical nos brindou com uma reportagem para lá de capenga sobre as mulheres que “ainda hoje são tratadas como cidadãs de segunda classe”.

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E expôs o drama das árabes, especialmente, no Líbano. Como se o mesmo não ocorresse no Brasil. Aliás, como se não fosse ainda pior a situação das mulheres brasileiras. Caso a TV Globo ainda não saiba – ou queira vender uma imagem ainda mais sombria de outros países -, se o Líbano figura em 14º lugar nas estatísticas sobre a violência de gênero, o Brasil está em 7º!

Por aqui, o desvario machista, ajudado pelos estereótipos historicamente impostos às mulheres  – que operam na memória sociocultural contra elas –, torna constrangedor o aumento da violência de gênero. Especialmente, nos primeiros anos deste século 21. Os abusos sexuais, que incluem estupros e espancamentos, chegam à contagem estratosférica de quase 530 mil casos anuais. Em quatro anos, os registros de estupro cresceram 157%. O número de casos superou o de homicídios dolosos.

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As estatísticas apontam que 50,7% das vítimas têm idade apenas até 13 anos. Ou seja, crianças estão sendo molestadas, abusadas e estupradas a rodo, em todo o Brasil, sendo que 89% delas são meninas. Os dados foram publicados na pesquisa Tolerância social à violência contra as mulheres ,do Sistema de Indicadores de Percepção Social, publicada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O Ipea divulgou ainda a nota técnica Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde.Foi o primeiro perfil dos casos de estupro no país a partir da base do Sistema de Informações de Agravo de Notificação do Ministério da Saúde (Sinan).

O país figura há décadas entre as sete nações onde mais ocorrem feminicídios – assassinatos violentos de mulheres. A conta, hoje, é de uma morte a cada 1h30min: são mais de 15 mulheres assassinadas por dia. Ou seja, mais de 5 mil por ano e algo em torno de 55 mil, em um período de 10 anos. No caso dos estupros, é bem razoável que sejam em torno de 530 mil anuais, já que as estatísticas do Mapa da Violência no Brasil (Instituto Sangari e Flacso Brasil) atestam que ocorre um caso a cada 15 segundos.

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Matéria da Rolling Stone vende o bordel Centauro, do Rio, como cheio de belas mulheres e comportamento triplo X (super censurado), que atrai celebridades e estrelas do futebol

 

Complexo de Vira-Latas

Vemos tantas manifestações diariamente nas redes sociais contra o chamado “complexo de vira-latas” que teria o povo brasileiro – nem vou entrar aqui na polêmica sobre a “genialidade” do autor Nelson Rodrigues, que alcunhou o termo. O fato é que ainda em nossa contemporaneidade “pós-moderna”, quando o Brasil chega às manchetes das grandes mídias estrangeiras, é por motivos absolutamente torpes e vergonhosos.

Entretanto, há essa tendência absurda em achar que está tudo bem o país tornar-se famoso por sua latinidade machista, por um suposto savoir vivre irresponsável e pouco objetivo, ou por ser uma endêmica fábrica de governos corruptos, sem direção e sem leis. A inexplicável compra da refinaria de Pasadena (Califórnia), a preços astronômicos, pela Petrobrás, é um desses casos emblemáticos que fazem do país uma piada pronta nas e para as mídias internacionais.

Esta semana, por exemplo, a famosa e cool revista norte-americana Rolling Stoneestampou em reportagem especial o que se pode esperar dos bordeis do Rio de Janeiro – e toda a prostituição praticada na cidade maravilhosa, de A a Z: The World Cup of Dirty Dreams: Inside Brazil’s Most Infamous Brothel. A tradução para a manchete seria algo como “A Copa do Mundo dos Sonhos Sujos (no sentido de erotismo, libertinagem): Por dentro do mais infame bordel do Brasil”.

E o texto logo abaixo – o sutiã da manchete – vai mais longe: Full of beautiful women and XXX behavior, Rio de Janeiro’s Centaurus has enticed celebrities, soccer stars and anyone else willing to pay a fee and go inside. We go behind the doors of a scandalous sin palace.

Ou seja, a matéria vende o bordel Centauro, do Rio, como “cheio de belas mulheres e comportamento triplo X (super censurado), que atrai celebridades, estrelas do futebol e qualquer pessoa que deseje pagar uma taxa e entrar. Vamos para trás das portas de um escandaloso palácio do pecado”.

A matéria desfila uma série de termas do Rio, inclusive, na zona de baixo meretrício da Vila Mimosa, no Centro, contando que há cerca de 300 pontos de prostituição espalhados pela cidade. Um paraíso para qualquer tara, pedofilia e por aí vai. O repórter tenta explicar algo contraditório: a prostituição é legal, tecnicamente, no Brasil, mas não pode haver gente “extra” ganhando com isso. Ou seja, cafetões/tinas são ilegais.

Entretanto, indaga a revista norte-americana por quê, então, tantas casas funcionam descaradamente, diuturnamente, sem serem incomodadas pelas forças de segurança? Bordeis quase seculares, que exploram crianças e mulheres, são perenizados nas paisagens urbanas brasileiras sem muitos sinais de que serão, ao menos, fiscalizados. Milícias ilegais e interesses escusos de autoridades corruptas não permitiriam algo assim.

E aí, pergunto-me, será que saímos mesmo de algum patamar ou imagem de país de terceiro mundo para algo melhor? Merecemos pensar em, ou desejar que o mundo imagine, uma sociedade brasileira diferente? Que o Brasil tem de fato transformado em algo melhor os seus séculos de história colonial escravagista, machista e misógina, homofóbica e racista?

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Os anos-luz referidos no início deste artigo são verdadeiros, apesar dos nossos desejos por realidades diversas. Há alguns dias, uma decisão judicial ímpar e histórica no Canadá garantiu a um menino trans de 12 anos o direito à nova certidão de nascimento, com seu gênero corrigido, mesmo sem ter feito cirurgia alguma para a mudança de sexo. A criança nasceu com o sexo biológico de menina, mas jamais sentiu-se ou viu-se sob o gênero feminino.

A decisão judicial torna oficial seu status como menino, pois foi assim que a criança sempre quis e se sentiu: como um garoto. Sabemos, quando pesquisamos sobre sexualidade e gênero, que as orientações sexuais e comportamentais são construtos sociais e culturais. Não tem essa conversa de “natural” ou “normal”. Os comportamentos, orientações, preferências e hábitos não têm que refletir o sexo biológico, aquele estampado no corpo da criança ao nascer.

O pai e a mãe da criança, compreendendo seu sofrimento e conflito interno, decidiram lutar pela felicidade do filho. Sim, do filho, com “o”. Há pouco tempo,escrevi aqui no Blog sobre pais e mães brasileiros/as que espancam suas crianças até a morte (ou quase), apenas por demonstrarem “comportamentos desviados” – que seriam “trejeitos” de pessoas LGBT. Quando não batem ou matam, praticambullying moral e psicológico. Fazem o mesmo, ou pior, que os/as coleguinhas da escola ou das ruas.

Quiçá também devamos esperar que, algum dia – nesse país com “complexo de vira-latas” -, um presidente, ou presidenta, ponha a cara na TV para fazer um pronunciamento aberto, sincero, em defesa da história dos movimentos gays e baixe um decreto em prol da causa.

Pois, foi o que fez Barack Obama. Em decisão excepcional, o presidente norte-americano baixou Ato no qual declara junho como o Mês do Orgulho LGBT nos Estados Unidos. (Confira o comunicado, em inglês)

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O presidente Barack Obama faz pronunciamento na Casa Branca: apelo e nova legislação pelos direitos dos LGBT, como o Ato que define o mês de junho como o Mês do Orgulho Gay nos Estados Unidos.   Foto: Susan Walsh/Associated Press 

O discurso de Obama, ao promulgar o ato, emocionou os grupos LGBT nos EUA e mundo afora. É fundamental tamanho apoio, vindo do primeiro presidente negro de um país com tanto peso internacional. Reproduzo uma parte, em tradução livre, e já adianto que o inglês não diferencia os gêneros masculino e feminino nos adjetivos. As explicações entre parêntesis são minhas:

“Neste mês, quando comemoramos 45 anos desde que os clientes (frequentadores/as do bar nova-iorquino) de Stonewall Inn desafiaram uma política injusta (e uma polícia violenta e abusiva contra os LGBT) e despertaram um movimento nascente, vamos honrar cada líder corajoso(a) que levantou-se ali e saiu (do armário e do bar para lutar e protestar!), assim como os/as aliados/as que os/as apoiaram ao longo do caminho (de longos anos). Seguindo seus exemplos, que cada um(a) de nós fale alto pela tolerância, pela justiça e pela dignidade – porque se corações e mentes continuam a mudar ao longo do tempo, as leis também o farão.” Barack Obama em discurso na Casa Branca, Junho de 2014 .

Nos EUA, cada estado tem suas próprias leis, enquanto unidade federativa independente. Por isso, Obama chamou atenção para o “progresso que se espalha a partir de um Estado para outro”, e como a justiça tem sido feita nos tribunais. Especialmente a partir da votação da Suprema Corte, em 2013, que derrubou dispositivos pela defesa do casamento entre homens e mulheres.

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“Essa decisão da Corte finalmente garante o respeito e a proteção jurídica que as famílias comprometidas e amorosas merecem”, afirmou o presidente norte-americano. Segundo ele, com tratamento digno e respeito, a nação (como um todo) torna-se não só “mais aceita”, mas também mais igualitária. “Durante o Mês do Orgulho, comemoramos vitórias que têm afirmado a liberdade e a justiça, e nós nos comprometemos a concluir o trabalho que resta fazer para isso”, conclamou Barack Obama.

E é essa a diferença entre simplesmente baixar regras e atos por decreto, ou regulamentar novas leis – tudo a fórceps, de cima para baixo – e, de fato, instruir toda a cadeia administrativa e social, que deve ser envolvida em processos de transformações de mentalidades e comportamentos. De acordo com a decisão, Obama exalta sua administração a ampliar os benefícios familiares e conjugais. Desde os relativos à imigração, como a cidadania, até aqueles extensivos aos familiares de militares, aos casais do mesmo sexo.

Empodera, ainda, trabalhadores e trabalhadoras LGBT, ao chamar o Congresso norte-americano a corrigir injustiças como as demissões devidas às orientações ou identidades de gênero. “Que os congressistas votem pelo Ato contra a Discriminação no Emprego”, pediu Barack Obama, para quem é passada a hora de se coibir o assédio moral e psicológico, seja no trabalho seja em hospitais (sistema de saúde) ou no sistema habitacional. Seu discurso pela criação do mês do Orgulho contemplou a qualidade de vida!

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Enquanto matutava este artigo, inicialmente, eu estava viajando do Rio de Janeiro para Brasília. Por ironia do destino, o homem sentado na poltrona ao lado da minha, no avião, era pastor de alguma igreja evangélica. O meu texto teria que destacar, acima de tudo, a urgente necessidade da criminalização da homofobia, aqui no Brasil. Entretanto, na situação em que me encontrava, naquele avião, o inimigo estava ao lado…

Assim como junho agora é o mês das lutas pelos direitos LGBT nos EUA, maio foi o mês internacional do orgulho e de protestos contra a homo(trans/lesbo/bi)fobia. A sociedade civil, via associações e organizações pelos direitos humanos e civis dos gays, promoveu eventos, marchas e manifestações no Brasil e em diversos países. Tudo para marcar o quão distantes ainda estão tanto a plena cidadania como a integridade física e psicossocial dessas “minorias”, em tantas regiões do planeta.

O denominador comum nas manifestações nacionais é a urgência da criminalização (tipificação como crime) do preconceito e das múltiplas violências contra os LGBT. E o Brasil já poderia ter dado esse passo para a proteção de cidadãs e cidadãos, caso respeitasse o fato de ser um Estado laico. Aí entra o papel ativo dos pares desse meu “vizinho” de viagem: foram as bancadas religiosas, fundamentalistas, que enterraram (ou quase) há poucos meses o PLC 122, que trata da criminalização.

O fato é que os grupos gays, em boa parte do mundo, têm pouco a celebrar e muito a temer. Hoje, a homo/lesbo/trans/bi/sexualidade é crime em 77 países (veja o infográfico montado pelo jornal britânico The Guardian) Em algumas nações, a situação de intolerância, agressões e prisões é tão grave que a Anistia Internacional (AI) emitiu alerta, no Dia Internacional contra a Homofobia e a Transfobia (17/05), sobre os governos que não apenas aceitam mas estimulam a homofobia e as violências contra os LGBT.

Apesar dos esforços da sociedade civil, em nível internacional, o preconceito ainda é forte. O comunicado divulgado pela Anistia analisa a ocorrência de casos de intolerância em vários países e destaca que “os governos de todo o mundo precisam intensificar e cumprir sua responsabilidade de permitir que as pessoas se expressem, protegidas da violência homofóbica”.

Segundo o assessor de direitos humanos da Anistia Internacional, Maurício Santoro, as pesquisas apontam que em muitas nações houve aumento da homofobia, nos últimos anos. Um deles é a Rússia, onde o problema também é agravado pelos fundamentalismos religiosos. (Veja artigo do Blog sobre o aumento de leis homofóbicas na Rússia e em países da África)

“Lá a homossexualidade é legal, foi permitida em 1993, quando houve a transição da União Soviética para a Rússia. Mas, desde então, foram aprovadas leis que restringem muito a liberdade de expressão e a liberdade de associação dos grupos LGBT. As paradas de orgulho foram proibidas e as pessoas sofrem agressões nas ruas e não conseguem registrar queixas na polícia”, afirma Santoro.

A situação dos países africanos tem chamado atenção. Hoje, é o continente com maior quantidade de leis homofóbicas. “O caso de Uganda é particularmente chocante porque aprovou, há algumas semanas, uma lei muito dura, que criminaliza totalmente a homossexualidade e que prevê, inclusive, a pena de morte para as pessoas que forem presas pelo chamado crime de homossexualidade agravada, seja lá o que isso significa”, critica o representante da AI.

A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), divulgou a estatística dos homicídios motivados pela homofobia, no Brasil: são aproximadamente 300 pessoas assassinadas por ano. Ainda que a legislação brasileira tenha melhorado nos últimos 5 anos.

Houve a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) a favor da legalização da união (casamento civil) entre pessoas do mesmo sexo e outras pacificações judiciais, pelas cortes superiores, sobre a concessão de benefícios de saúde e de previdência social aos parceiros e parceiras, mesmo antes do casamento “no papel”.

Para impulsionar o cenário brasileiro, a Anistia Internacional propõe leis mais duras no combate à homofobia, além dos debates e a melhor aceitação do tema dentro do Congresso Nacional, ou nas escolas, na imprensa, e nas forças de segurança.

Essa (re)educação de “tradições” e estereótipos patriarcais machistas, sob alcunhas “socioculturais”, é urgente. Até mesmo pela auto-estima da imensa maioria da população. Para acabar, de fato, com o tal do complexo de vira-lata. Pois, não é a maioria formada por mulheres, por diversidades raciais e étnicas, e também por um contingente imenso de pessoas LGBT? Serão 15 ou 20% da sociedade brasileira os gays? As mulheres – negras, pardas, brancas ou indígenas – somam mais de 50%, não?

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Rose Marie Muraro, 83 anos, morreu no dia 21 de junho, vítima de câncer na medula. Ela é considerada uma das mais influentes feministas brasileiras, autora de 40 livros e também editora de outros 1600 títulos, quando foi diretora da Editora Vozes, ao lado do teólogo e escritor Leonardo Boff. Os dois trabalharam juntos por 17 anos. Ela lutou, ainda, pela teologia da libertação. Formada em física e economia, a feminista inaugurou, em 2009, o Instituto Cultural Rose Marie Muraro. 

 

 

LINKS RELACIONADOS:

 

Violência machista, racista, homofóbica e pedófila no Brasil:

http://www.dzai.com.br/igualdade/blog/blogdaigualdade?tv_pos_id=107939

http://www.dzai.com.br/igualdade/blog/blogdaigualdade?tv_pos_id=149508

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http://www.dzai.com.br/igualdade/blog/blogdaigualdade?tv_pos_id=121708

Os BRICS da Desigualdade Social

Notas sobre Violência de Gênero e Escravidão)

http://www.dzai.com.br/igualdade/blog/blogdaigualdade?tv_pos_id=114253

Trabalho Infantil é crime vergonhoso

São 250 milhões de crianças sem futuro no mundo

E mais de 200 milhões de meninas “desaparecidas”/assassinadas)

http://www.dzai.com.br/igualdade/blog/blogdaigualdade?tv_pos_id=137778

Aqui, acolá, em todo lugar!

Devaneios sobre garis e Igualdade

… nas faixas, nos rótulos e na lixeira)

http://www.mapadaviolencia.org.br/

http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=21849&catid=8&Itemid=6

http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-09-25/ipea-lei-maria-da-penha-nao-consegue-reduzir-homicidios-de-mulheres

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2013/09/25/interna_brasil,389940/por-dia-mais-de-15-mulheres-morrem-de-forma-violenta-no-brasil.shtml#

(Mais de 15 mulheres morrem de forma violenta no Brasil, diariamente)

Média salarial dos negros é 36% menor, aponta pesquisa do Dieese

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2013/11/13/internas_economia,398553/media-salarial-de-negros-e-36-menor-aponta-pesquisa-do-dieese.shtml#.UoPTD0aFl2g.facebook

Estupros superam casos de assassinatos, diz Segurança Pública

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2013/11/05/interna_brasil,397156/estupros-superam-os-casos-de-assassinato-diz-seguranca-publica.shtml#.UnkkKglEZFg.facebook

 

Mulheres violentadas sofrem com o trauma e com a falta de assistência

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2013/11/10/interna_brasil,398029/mulheres-violentadas-sofrem-com-o-trauma-e-com-a-falta-de-assistencia.shtml#.Un-XEPlPbV0.facebook

http://www.rollingstone.com/culture/news/the-world-cup-of-dirty-dreams-inside-brazils-most-infamous-brothel-20140626

Jornal britânico The Guardian com infográfico dos 77 países homofóbicos: http://bit.ly/1sXOgM7

http://www.queerty.com/12-year-old-transgender-boy-granted-historic-new-birth-certificate-20140617?utm_source=bb82&utm_medium=social&utm_campaign=birthcertificate

http://www.huffingtonpost.com/2014/06/02/obama-pride-month_n_5431801.html?utm_hp_ref=tw

Anistia alerta que governos ainda toleram a homofobia

http://noticias.terra.com.br/brasil/anistia-alerta-que-governos-ainda-toleram-a-homofobia,f0010600ca906410VgnCLD200000b0bf46d0RCRD.html

Exposição fotográfica marca mês internacional contra homofobia

SP: 18ª Parada LGBT cobra a criminalização da homofobia

https://www.youtube.com/watch?v=M9WoZ2CzZ9Y

Nós gays podemos tudo… exceto ser gays

http://www.brasilpost.com.br/max-milliano-melo/nos-gays-podemos-tudo-exceto-ser-gays_b_5326351.html

http://g1.globo.com/fantastico/index.html

Sobre a Blogueira:

Sandra Machado é jornalista e professora universitária. Doutora em História – Estudos de Gênero, Cinema, Multiculturalismo e Transnacionalismo, pela Universidade de Brasília (UnB). É Master of Arts em Cinema e Video pela The American University, Washington, D.C, EUA. Repórter e produtora para mídias audiovisuais e impressas – Correio Braziliense, Jornal do Brasil, TV Globo e o Caderno Livros de O Globo. Sua tese de doutorado está em edição em livro, intitulado Câmera Clara – Tela Obscura: Estereótipos Femininos e Questões de Gênero nos Cinemas. 

 

 

Fonte: Blog do Igualdade

 

 

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