“Minhas obras são como uma bola de lã. Pego o fio pela ponta, mas elas saem correndo e se desdobram pelo espaço”, explica a artista Rosana Paulino, que abre neste sábado (8) sua maior mostra individual, na Pinacoteca de São Paulo. Costura da Memória ocupa três salas no 1º andar, nas quais serão exibidos cerca de 140 trabalhos.
A organização do conjunto não obedece à cronologia, mas sim à identificação de assuntos que se destacam na produção da paulistana. “O que é ser uma mulher negra no Brasil?” é a primeira questão que surge em trabalhos históricos como Parede da Memória (1994-2015) e Bastidores (1997).
Esse último é uma série na qual Rosana imprime fotografias de mulheres da própria família em retalhos de algodão. Depois de esticá-los em estruturas circulares, ela intervém com linha preta e agulha, fazendo uma espécie de tarja em regiões como a dos olhos e a da boca.
A interdição, construída insistentemente com o vaivém dos fios, remete ao emudecimento da população negra e a sua incipiente representatividade, por exemplo, na história da arte.
Essa falta reverbera também em Geometria à Brasileira (à dir.; 2018), obra presente em um núcleo dedicado à elaboração de novas leituras sobre o Brasil. Formas geométricas do concretismo — que, na visão da autora, negligenciou contribuições de negros e indígenas — são extrapoladas por personagens e plantas