Hoje, estudantes da reserva de vagas preferem Direito e Medicina
por Maria Luisa Barros
Mais da metade da primeira geração de estudantes que ingressaram na Uerj pelo sistema de cotas para negros e alunos da rede pública trabalha atualmente em carreiras ligadas à Educação. Os pioneiros optaram por cursos menos concorridos, como Pedagogia e História, e com aulas à noite, para poderem trabalhar. Há oito anos, poucos se atreviam a disputar as graduações mais concorridas e em horário integral como Medicina e Odontologia. Essa situação começa a se inverter: no último vestibular, a preferência dos candidatos cotistas é por Direito e Medicina.
“Quero conciliar a carreira de magistério com a estabilidade de um emprego público”, Levi Batista, historiador e cotista em Direito e servidor da FioCruz | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Levantamento feito pela (Uerj) mostra que entre os cinco cursos mais procurados por eles estão também Engenharia Elétrica, Psicologia e Engenharia Civil. Entre os não-cotistas a preferência é Medicina, Direito e as engenharias Civil, Elétrica e Química, cursos onde ainda há resistência à reserva de vagas.
“Os cotistas estão concorrendo às carreiras de maior prestígio, talvez influenciados pelo desempenho dos que já se formaram e pela garantia de que terão o apoio de material didático”, avalia a sub-reitora de Graduação da Uerj, Lená Menezes.
Mais confiantes
Estudo inédito da Uerj, publicado ontem por O DIA, mostra que de cada 10 ex-cotistas, nove estão no mercado de trabalho. Um deles é o historiador Levi Jefferson Batista, 28 anos, que atualmente cursa o 5º período de Direito na Uerj, de olho nos concursos públicos. Levi deu aulas até ser aprovado no concurso para técnico em Gestão de Saúde, na Fiocruz, que exige diploma universitário: “Antes de fazer História, queria fazer Publicidade mas bateu a insegurança de não passar. Hoje me sinto confiante e capaz”.
Alunos sofreram preconceito em entrevistas de emprego
A Uerj foi foi a primeira a adotar cotas, reservando 20% das vagas para negros e indígenas, 20% para alunos de escolas públicas e 5% para pessoas com deficiência e filhos de policiais e bombeiros mortos em serviço. Das 5.316 vagas, 2.923 são para cotistas.
No curso de Direito, alunos cotistas denunciaram o preconceito nas entrevistas de emprego. Segundo a sub-reitora Lená Menezes, foi preciso recorrer à Ordem dos Advogados do Brasil para intervir junto aos escritórios de advocacia.
“A universidade tem o compromisso de alterar as desigualdades sociais. As cotas cumprem esse papel”, acredita Lená.
As regras nas outras públicas
Outras quatro instituições do Rio adotam cotas em suas seleções. A UFRJ reserva 30% das vagas, em cada curso, para candidatos que cursaram todo o Ensino Médio em escolas públicas e que tenham renda familiar per capita inferior a um salário mínimo.
Na Unirio serão oferecidas para este ano 120 vagas para professores que estejam em atividade na rede pública de ensino. Docentes têm direito a 20% das vagas nos cursos de Licenciatura da UFRRJ (Rural).
A UFF concede bônus de 20% na nota final dos candidatos que concluíram, em 2011, todo o Ensino Médio em escolas públicas de qualquer estado, excluídos os colégios federais, militares e de aplicação.
Fonte: O Dia