A cultura como ferramenta de resistência negra no Brasil

A história dos negros no Brasil mostra o quanto o país escravizou de forma extrema os afrodescendentes tornando-se um dos países mais escravistas do mundo. Com uma herança de violência e total desrespeito a qualquer direito que a pessoa humana poderia ter.

Por Teddy Falcão, do CEERT

O Brasil é um país de negros, índios e mestiços negro-indígenas. Primeiro os índios, depois os negros foram maioria na sociedade brasileira.

O Brasil nasceu escravizando e nem mesmo após a “abolição” o negro foi realmente livre. Pois da escravidão do Brasil colônia até hoje, o negro é impedido de viver a sua liberdade, sempre sendo posto à margem. Condenado à separação movida essencialmente por causa da sua cor.

A contribuição histórica, social e cultural dos afrodescendentes para a formação da sociedade brasileira é inegável. Mesmo com a tendência que a história tem de apagar ou esconder o negro, ainda há a resistência quase natural da negritude brasileira.

Em contrapartida a uma literatura em que não existem as “pessoas de cor”, há a música e sons que ecoam o “ser negro” de forma que ao ouvir, brancos, asiáticos, todos conseguem ter a dimensão do que significa fazer parte de um povo que precisa se reinventar sempre para continuar existindo, sobrevivendo.

Nas artes então, estão muitos elementos que formam e mostram a identidade do negro brasileiro.

A cultura afrodescendente mostra, por meio dos mais diversos segmentos, essa história, na história do Brasil. A religião, a dança, as artes plásticas, mais que cultura, ferramenta para a sobrevivência de um povo.

Estas questões são mais que identitárias, são políticas. O negro guerreiro não é só o capoeirista, o dominador das formas de luta. Mas também o artista, o intelectual, o político.

Uma roda de capoeira, um culto de candomblé transforma-se em algo a mais: um ato político. Fazendo nascer as articulações e organizações para lutar por direitos básicos para o afrodescendente do Brasil. Isso num contexto histórico em que o Brasil começa a desenvolver sua identidade como nação. Um país com muitas faltas para com os seus, seguindo adiante sem nenhuma pretensão de ao menos amenizar toda a situação criada através dos anos desde a chegada dos portugueses. O Brasil de tantos erros, mesmo após tanta história de violência contra o seu próprio povo ainda se mostra indiferente com a população negra.

Infelizmente o Brasil ainda é um dos países que mais matam negros. O racismo carregado de história, repercute em 2017 muito da violência que os negros sempre sofreram no país onde sociedade e estado continuam colocando o negro à margem.

O afrodescendente é herdeiro de uma história que o Brasil já deveria ter revertido. Uma história que deveria ser lembrada para que não voltasse a se repetir. Mas que apenas tomou novas formas, fazendo nascer novos personagens através das idades. Pessoas que nascem em desvantagem em uma sociedade minoritariamente branca, forçadas a dar continuidade à história de exploração dos negros no Brasil.

A formação da Sociedade Brasileira de forma desordenada, aconteceu até hoje sem se preocupar em reparar erros e atrocidades que não deveriam ser deixados de lado. E assim, permitiu-se que o negro continuasse a ser escravizado, explorado, seja pela herança da escravidão, pelo racismo, formas que continuam a repercutir na história do Brasil sem que haja quaisquer impedimentos.

A identidade cultural do negro brasileiro é sua principal arma de luta contra tudo o que a sociedade sempre lhe impôs.

O negro no Brasil não é apenas cor. É quilombola, capoeirista, candomblecista, musicista, artista. A sociedade negra brasileira se forma com o passar dos tempos com base na sua própria história, que está contida na história do Brasil. É triste o fato de que há essa separação. Separação que o Brasil impôs desde a colônia, República, ditaduras, golpes.

Preencher as lacunas que a história do Brasil deixou, só será possível quando a sociedade brasileira se perceber como multicor que é. Isso leva tempo, e é preciso disposição política e principalmente social e cultural.

O Brasil precisa se descobrir como país indígena e afrodescendente que é.

*Teddy Falcão é realizador audiovisual e cineclubista acreano, mestrando em educação, arte e história da cultura na Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), membro do Conselho Nacional de Cineclubes e do Cineclube Opiniões, e pesquisador do Laboratório de artes cinemáticas e visualização – LABCINE.

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