Filme de Claudia Alves foi vencedor na categoria o prêmio especial do júri no 45º Festival de Gramado
Por Gabriel Rosa Do O Globo
Moradora da Barra há sete anos, a cineasta Claudia Alves, de 29, acaba de levar um Kikito de ouro (premiação do tradicional Festival de Cinema de Gramado) para casa. O curta documental “Cabelo bom”, dirigido por ela e por Swahili Vidal, venceu na categoria Prêmio Especial do Júri e já está selecionado para a Mostra Geração do Festival do Rio.
Com três mulheres negras de gerações diferentes como protagonistas, o filme de 15 minutos aborda a relação delas com seus cabelos crespos. São histórias de preconceito vividas por elas enquanto percorrem um trajeto de aceitação de suas identidades, sintetiza Claudia.
— As opiniões e posições hoje estão muito polarizadas e extremistas. Receber este prêmio é uma espécie de selo de que estamos no caminho certo. Não se trata de dar voz a essas mulheres, porque voz elas já têm. A questão é abrir espaços — afirma Claudia.
Inicialmente, “Cabelo bom” trataria das it girls da periferia. No entanto, ao entrevistar as personagens do filme, Claudia percebeu que elas não se identificavam com o rótulo e que a questão do cabelo era muito mais importante para elas.
— Como trabalhei para a L’Oréal, reparei que há muitas dificuldades para se tratar do cabelo crespo. Há uma ideia de que um cabelo crespo arrumado tem que ter menos volume. E isso gera muitos problemas de identidade. Por exemplo, quando meu irmão era pequeno, ele chegou em casa um dia e se queixou com a minha mãe que o cabelo dele não balançava — relata.
O olhar atento para questões sociais foi cultivado desde que Claudia era pequena. A agora vencedora de um Kikito de ouro é nascida e criada na Tijuca, onde frequentou escolas construtivistas. Esse tipo de educação foi “fundamental para que desenvolvesse um olhar mais humano”, afirma. A vontade de cursar a faculdade de Jornalismo surgiu do desejo de contar histórias, que cresceu dentro dela após ler o livro “Abusado”, do repórter da TV Globo Caco Barcellos.
Logo após o processo de pré-produção de seu filme, Claudia teve outra experiência transformadora. Ela passou uma temporada de sete meses na África, gastos entre um curso realizado pelo Amani Institute, no Quênia, e uma viagem pela África do Sul.
— Este tempo na África ressignificou a minha vida, fez com que eu enxergasse as muitas semelhanças entre nós e eles. Assim como aqui, as mulheres lá têm uma autoestima muito baixa por conta dos seus cabelos. É uma coisa também incentivada por uma sociedade patriarcal. No Quênia, os homens dizem que o cabelo das mulheres é puffy (duro) e por isso, muitas acabam raspando a cabeça. — conta. — Na África do Sul, por outro lado, vi de perto os ensinamentos de Nelson Mandela, que sempre pregou igualdade de oportunidades acima de tudo.