Aos 24 anos, Nilzanir Torres Martins foi a primeira da família a ter um diploma e também é a única nutricionista da aldeia Buritizinho, terra indígena Limão Verde, no município de Aquidauana. Com jaleco e cocar, a índia terena voltou para comemorar fazendo festa na aldeia. Criada comendo o que se planta e colhe dentro de casa, ela desde sempre soube que sua cultura tinha nas raízes a alimentação saudável.
Por Paula Maciulevicius, para Campo Grande News
Ao lado dos pais na aldeia Limão Verde, segurando o diploma.
“Consumir o mais saudável é comer o que a gente planta e a importância que isso tem na nossa saúde, desde pequena na aldeia a gente dá preferência ao que tem no quintal de casa”, compara.
Na aldeia não tem sinal e foi o amigo e fotógrafo Dionedison Terena quem levou as perguntas do Lado B até Nilzanir e nos trouxe as respostas. Criada na Limão Verde, a terena sempre quis fazer um curso na área da saúde por sentir na pele a necessidade da aldeia.
“Do nosso povo são poucas pessoas formadas e essa área precisa de profissionais capacitados e que também conheçam a realidade da comunidade. Escolhi Nutrição porque não tem ninguém na área e a gente vê que tem crescido, não só na nossa aldeia, o número de hipertensos, diabéticos e obesos”, explica.
De jaleco e cocar, nutricionista quer trabalhar o que aprendeu dentro da aldeia
Nilzanir quer atender seu povo cuidando e fazendo todo acompanhamento da alimentação, principalmente para com os idosos, que são a faixa etária em que ela percebe que tem crescido mais o número de doenças.
“Também quero trabalhar com palestras no processo de educação alimentar, orientar sobre esse controle mesmo. Tenho muito o que contribuir e fazer isso de perto, é o que falta, desde a gestação às, adolescentes, jovens e mais idosos”, enfatiza.
Durante os quatro anos de curso na Uniderp, em Campo Grande, Nilzanir teve auxílio dos pais, de toda aldeia e ainda vendia o artesanato aprendido na infância para os colegas de faculdade. Hoje a festa na aldeia é comemorar junto a vitória diante das dificuldades.
“Tem muitas pessoas que saem para estudar, mas poucas voltam formadas. Desde o começo sempre tive o incentivo de toda comunidade, para a gente, a comunidade é como se fosse tudo uma família. Foi gente que sonhou junto, trabalhou junto e sempre estiveram me apoiando. Eles ficaram muito felizes por eu conseguir concluir. É difícil sair da aldeia para estudar”, afirma.
Com a avó e o cacique, orgulhosos.
Como na foto ao lado do cacique, a nutricionista ouviu dele o quanto a comunidade estava orgulhosa. “Ouvi muito essa palavra: ‘orgulho’, por eu sair da aldeia e me preocupar em voltar e querer ajudar aqui. Eles sentem isso, que eu estou preparada para estar aqui dentro da comunidade”, explica.
Na semana que se inicia, Nilzanir tem uma seleção para o departamento da secretaria de saúde indígena que não conta com nenhuma nutricionista terena ou de qualquer outra etnia. A expectativa é que ela entre, embora a seleção seja aberta a índios ou não.
“Eu esperava ter um espaço mais aberto para entrar depois de formada. Minha expectativa é conseguir essa vaga e fazer parte da equipe que cuida da saúde indígena”, comenta.
O sonho da terena sempre foi este, desde muito antes de receber o diploma e fazer festa.
Criada comendo o que se planta e colhe dentro de casa, ela desde sempre soube que sua cultura tinha nas raízes a alimentação saudável.