De Lyndon.Johnson@edu para Obama@gov

Por: ELIO GASPARI

No seu governo já morreram 577 americanos no Afeganis-tão; quando assumi, haviam morrido só 195 no Vietnã

 

Presidente Obama,
O ideal seria que você encarcerasse o pessoal do WikiLeaks que entregou à imprensa 90 mil documentos da Guerra do Afeganistão. Como isso não é possível, encare os fatos. Sua situação parece-se com minha quando assumi a Presidência, em 1963, e herdei a Guerra do Vietnã. Você sabe que temos que ir embora daquele fim de mundo, não sabe como, e tem medo de parecer frouxo. Foi o que aconteceu comigo e desgracei minha Presidência.

Quando o Kennedy foi assassinado, aquela guerra havia custado a vida de 195 americanos. No seu governo já morreram 577 no Afeganistão e 192 no Iraque. Em 1975, quando abandonamos Saigon, haviam morrido mais 57 mil garotos. Os militares dizem que eu os manipulei, mas eu é que fui manipulado por eles, pensando que os manipulava.

O que está acontecendo contigo é pior. Os teus generais acham que são artistas de cinema e descobriram que lidam com um presidente indeciso.

Essa catarata de documentos da WikiLeaks é mais venenosa que a dos “Papéis do Pentágono”, que destruíram a credibilidade da Guerra do Vietnã. Aqueles eram estudos, análises. O que temos agora são as vísceras de operações militares. Se fizéssemos isso na Segunda Guerra Mundial, o marechal Montgomery seria levado a uma corte marcial por ter perdido uma divisão de paraquedistas em Arnheim, e Douglas MacArthur teria sido remetido para Hollywood pelas suas palhaçadas nas Filipinas.

Obama, em abril de 1964, quando eu mal completara seis meses de governo, perguntei ao senador Richard Russell o que ele achava que deveria ser feito no Vietnã. Dick Russell foi um dos maiores congressistas do meu século. Racista como um banheiro de brancos, juntava a discrição dos sulistas ao sentido de missão dos Confederados. Sua resposta acabou associada a um anedotário cínico: “Temos que conseguir um sujeito que nos peça para ir embora. Assim teremos uma desculpa e voltamos para casa”.

Ao longo de sua vida, Dick nunca teve um momento de cinismo. Deus poupou-o do desastre do Vietnã, levando-o em 1971, e sempre que vou ao Capitólio passo um bom tempo admirando sua estátua. Você precisa ouvir todos os dias os dez minutos da conversa do Russell comigo. Felizmente, grampeei os meus telefones e preservei momentos de grande valor histórico, inclusive alguns que me deixam mal. Ouça a reposta do Dick quando perguntei que importância tinha o Vietnã: “Nenhuma”. E a do Afeganistão?

Lady Bird manda um abraço para Michelle e agradece pela horta que ela plantou no nosso jardim.
Do seu companheiro


Lyndon

Serviço: Minha conversa com Russell, muito bem editada, pode ser ouvida no seguinte endereço: http://whitehousetapes.net/clip/ lyndon-johnson-richard-russell- lbj-and-richard-russell-vietnam

a minha com o assessor de segurança nacional, McGeorge Bundy, no dia 14 de abril de 1964. Combinávamos o texto de uma mensagem de felicitações ao marechal Castello Branco pela sua posse na Presidência.

Bundy estava preocupado com as prisões decorrentes da queda daquele presidente esquerdista que fugiu para o Uruguai:
http://whitehousetapes.net/clip/lyndon-johnson-mcgeorgebundy-lbj-latin-american-dictators

Fonte: Folha de S. Paulo

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