Demóstenes, sem mandato, responderá a processos criminais na Justiça comum

 

A cassação do mandato de Demóstenes Torres, nesta quarta-feira, por 56 votos favoráveis e 19 contra, em Plenário, no Senado, é apenas um episódio a mais na longa descida do ex-parlamentar, que chegou a ser citado como paladino da moral pública na revista semanal de ultradireita Veja. Os representantes da publicação, dificilmente, escapam do chamado à explicação quanto as ligações mantidas com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, enquanto Demóstenes tende a encontrá-lo, no banco dos réus, em alguma corte da Justiça comum, no Estado de Goiás.

Ao defender a cassação do senador Demóstenes Torres (ex-DEM- GO) nesta manhã, durante a sessão do Senado destinada a julgar o pedido, o relator do processo no Conselho de Ética, Humberto Costa (PT-PE), enfatizou que Demóstenes mentiu em plenário para esconder sua relação com o empresário goiano Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Segundo Humberto Costa, além de participar da organização criminosa, Demóstenes atuou para proteger Cachoeira das investigações que estavam sendo feitas pela Polícia Federal.

– O senador participou inclusive do processo de proteção de Carlinhos Cachoeira. Há um diálogo que é o mais grave de todos. Vossa excelência diz que tem uma informação privilegiada e diz que vai haver uma operação. Essa operação não aconteceu porque era uma simulação – destacou o relator que reforçou que a atitude de Demóstenes ao avisar Cachoeira poderia ter custado a vida de policiais que estavam trabalhando na investigação. O senador ainda enumerou os presentes a Demóstenes dados por Cachoeira.

Humberto Costa reclamou de ter sido chamado de ficcionista, nos discursos feitos por Demóstenes na semana passada e nesta semana, para tentar se defender. Demóstenes adotou a estratégia de desqualificar o relatório aprovado de forma unânime pelo Conselho de Ética e pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

– São inúmeros os fatos que comprovam que lamentavelmente, tristemente, o senhor quebrou o decoro parlamentar. O senhor deixou de agir como um senador da República – disse Humberto Costa.

Logo após o discurso de Humberto Costa, o relator do processo na CCJ, senador Pedro Taques (PDT-MT), reforçou a legalidade do relatório que pede a cassação do mandato. “Ficou claro que o senador Demóstenes quebrou o decoro parlamentar, ferindo de morte a dignidade do cargo, conforme a robusta representação apresentada”, disse Taques.

A sessão destinada à votação do pedido de cassação do mandato começou às 10h no plenário do Senado. Os dois relatores tiveram 20 minutos para apresentar seus votos e, logo após essa fase, teve início a discussão do processo, fase em que todos os senadores poderão discursar por dez minutos.

Terceiro parlamentar a falar, o senador Mario Couto (PSDB-PA) também condenou as atitudes de Demóstenes e afirmou que a “Casa está desmoralizada”. O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), em seu discurso, destacou que não seria possível o senador desconhecer as atividades ilegais de Carlos Cachoeira. “O que está em jogo não é apenas o mandato de um parlamentar, mas a reputação de todo o Senado federal”, afirmou.

Veja complicada
A revista que, a exemplo de Demóstenes, manteve relações de proximidade com um dos principais líderes do crime organizado no país, se vê em face de uma nova denúncia. Em setembro de 2010, o ex-governador José Roberto Arruda, que havia perdido o mandato no início do mesmo ano, foi procurado pela revista Veja para uma entrevista. A publicação, da Editora Abril, prometia a capa, se Arruda decidisse quebrar o silêncio sobre sua queda. O repórter escalado foi Diego Escosteguy. Sem qualquer motivo aparente, no entanto, a revista engavetou uma entrevista. A razão por desviar de um assunto perseguido pela mídia, na época, no entanto, aparece em um grampo da Operação Vegas, da Polícia Federal, a qual revela o jornalista Paulo Henrique Amorim, do site Conversa Afiada.

Leia a transcrição da conversa, captada no dia 20 de março de 2011, quando a entrevista foi publicada por Época, levada pelo próprio Escosteguy, que, desiludido, saiu da revista Veja:

Cachoeira – Fala doutor, não falou nada, não?
Demóstenes – Não, tenho que analisar com isso aí o que é que faz. Vamos pensar, amanhã você tá aí?
Cachoeira – Tô, precisava falar com você, o Chiquinho achou ruim, não me atendeu mais não.
Demóstenes – Fez bem. Chegar o porrete nele mesmo, sujeito safado.
Cachoeira – Tô pensando de ele fazer alguma coisa.
Demóstenes – Não, eu falei pra ele, nada, eu falei é a verdade, não tem nada de mentira não. Tá tudo certo.

Cachoeria – Esse trem do Arruda aí… Você leu a reportagem? O Diego Escosteguy trabalhava na Veja, fez a reportagem em setembro, a Veja não publicou, pediu que queria soltar agora, ele pegou e soltou. Mas você viu que na Época ele deu uma recuada, né?
Demóstenes – Aquilo, se sai em setembro, ia fuder com meio mundo, né.

Cachoeira – É, mas eu vi um negócio, o Policarpo ajudou também, viu. Ia fuder mesmo. Mas você viu que ele ficou com medo e recuou. Tenho certeza que ele recuou foi por causa do seu nome.

Demóstenes – É, sujeito à toa. Vamos ver o que a gente vai fazer.
Cachoeira – Fosse você não fazia nada não. Deixa esse homem pra lá, tá mais do que na cara, isso é retaliação dele, você bateu tanto nele. Tem que virar as costas pra isso aí.
O fato constrangedor na entrevista, ainda segundo o relatório da PF, era uma acusação de José Roberto Arruda contra Demóstenes Torres. Arruda disse ter sido perseguido por Demóstenes, embora ambos fossem do mesmo partido, porque o senador goiano tentou emplacar, como fornecedora do governo do Distrito Federal, uma determinada empresa, possivelmente ligada a Carlos Cachoeira.

 

 

 

Fonte: Correio do Brasil

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