Dennis de Oliveira: Ambivalências raciais e midiatização da sociedade

Ambivalências raciais e midiatização da sociedade1

Dennis de Oliveira2, Intercom

Resumo:

Este artigo traz algumas contribuições teóricas para se compreender as estratégias de relacionamento entre negros, movimento negro e mídia dentro da atual sociedade conhecida como “sociedade da informação”. Nos debates sobre mídia e racismo se depara, em geral, com a reivindicação de maior visibilidade nos produtos midiáticos. Como reação a esta reivindicação, os produtores (incluindo tanto as empresas de mídia como os seus funcionários mais graduados, entre eles, os autores e produtores de mídia) argumentam que as cotas na mídia ferem a liberdade criativa do autor e a liberdade de expressão. Estes dilemas devem ser analisados tomando como referência as particularidades do racismo no Brasil, articulando-os com os novos paradigmas da sociedade da modernidade líquida e midiatizada.

Palavras-chave: processos mediáticos e culturais; mídia e racismo; racismo midiatizado

Introdução
Este trabalho traz algumas contribuições teóricas para se compreender as estratégias de relacionamento entre negros, movimento negro e mídia dentro da atual sociedade conhecida como “sociedade da informação”.

Partimos das seguintes constatações teóricas:
1 – Vivemos em uma sociedade marcada pela midiatização que significa a penetração da lógica midiática em todas as ambiências das relações sociais – a mídia ocupa o lugar do espaço público e se transforma no novo ágora (praça pública) onde se referenciam as relações sociais e raciais.
2 – O Brasil tem uma forma de racismo marcada por ambivalências, a medida que a maioria da população admite a existência do racismo e o condena mas também a maioria se assume como racista. Isto se deve ao fato de que o racismo se perpetra contra um segmento social majoritário da população, o que dificulta a sua invisibilidade.
3 – Há uma incorporação da problemática racial por parte da grande mídia seja a cobertura de alguns eventos em que há participação hegemônica de negros ou via o lançamento de produtos segmentados destinados a um pretenso mercado de negros.

Nos debates sobre mídia e racismo se depara, em geral, com a reivindicação de maior visibilidade nos produtos midiáticos. Trabalhos como o de Araújo (2000) demonstram que ainda há uma participação pequena de negros em produtos de grande audiência, como as telenovelas. Entre as várias propostas de políticas de ação afirmativa, existe a reivindicação de cotas para negros em produtos midiáticos visando reduzir esta invisibilidade. Como reação a esta reivindicação, os produtores (incluindo tanto as empresas de mídia como os seus funcionários mais graduados, entre eles, os autores e produtores de mídia) argumentam que as cotas na mídia ferem a liberdade criativa do autor e a liberdade de expressão ao impor determinadas regras para contratação de atores. E no caso das cotas nas universidades, o argumento é sempre o de caráter meritocrático. E o mais interessante é que tais argumentos não se colocam como contraponto a existência do problema do racismo ou ainda da necessidade de combatê-lo mas que o caminho para isto é outro – é a melhoria das condições gerais da população, investir na educação básica, etc. Em outras palavras, retorna a ideia ambivalente do racismo – “ele existe mas eu não sou o responsável”.

Estes dilemas devem ser analisados tomando como referência as particularidades do racismo no Brasil, já bem delineados por autores como Moura (1998), Fernandes ( ) e Ianni ( ) e articulando-os com os novos paradigmas da sociedade da modernidade líquida (Bauman,1999) e midiatizada (Sodré, 2001).

2 – Sociedade midiatizada
A centralidade da mídia é abordada por diversos aspectos, alguns com uma tônica meramente formalista e outros de uma forma mais estrutural. Entretanto, não há quem discorde de que a mídia ocupa um lugar central na sociedade contemporânea. É no campo midiático, inclusive, que as tecnologias mais se desenvolvem.

Consideramos mais interessante destas abordagens da centralidade da mídia a proposta feita por Muniz Sodré (2001) de que há a existência de uma nova ambiência da vida humana que ele chama de bios midiático. Sodré recupera os conceitos de bios da filosofia aristotélica – esta considera que a vida humana se desenvolve em três instâncias: a política, a contemplativa e a do prazer/corpo. A estas, o autor inclui a quarta – o bios midiático.

Nesta formulação, Sodré trabalha com a idéia de que existe uma lógica midiática que perpassa toda a ambiência humana. Mais: que esta lógica vai crescendo e retraindo as outras dimensões da vida humana.

O que importa reter aqui é que a medida que tal lógica vai contaminando as performances da vida humana, cria-se não só uma identificação do público com a mídia, mas também, e principalmente, uma midiatização do cotidiano e das relações sociais. Isto acontece, inclusive, com as relações sociais.

A mídia ganha este espaço a medida que o atual processo de globalização vai esvaziando o espaço público na sua característica clássica, conforme vimos no item anterior – a mídia se transforma no novo ágora do atual processo de globalização. Assim, definimos o locus onde se desenvolvem parte significativa das relações raciais – a mídia.

“A mídia funciona, no nível macro, como um gênero discursivo capaz de catalisar expressões políticas e institucionais sobre as relações inter-raciais, em geral estruturadas por uma tradição intelectual elitista que, de uma maneira ou de outra, legitima a desigualdade social pela cor da pele.” (SODRÉ, 1999: 243)

Em artigo que apresentamos no Congresso da Intercom de 2004, estudamos as tipologias raciais e os modelos de relações inter-raciais apresentados na novela Da Cor do Pecado, exibida pela TV Globo no primeiro semestre daquele ano. A novela suscitou inúmeros debates em função de ter sido apresentada como a primeira novela da Globo tendo uma atriz negra (Taís Araújo) como protagonista e que tinha nos conflitos raciais contemporâneos um dos principais ingredientes da trama.

Na análise que realizamos, identificamos três tipologias comportamentais afrodescendentes – passividade/vitimação, auto-identificação/confrontação, submissão ao lado de três tipologias brancas – racismo exacerbado, racismo mitigado ou cordial, solidariedade paternalista. No final da trama, as duas posições que apontam para a explicitação do racismo e a confrontação – autoidentificação/confrontação e racismo exacerbado – são derrotadas. O interessante é que as duas personagens que sintetizam estes dois comportamentos pontualmente se aliam e são postas no campo dos “vilões” da trama. Há uma valorização das posturas de vitimação e solidariedade paternal que são postas no campo dos “heróis” e se apresentam como elementos “civilizadores” das demais posturas tidas como inadequadas pela trama.

Muniz Sodré (1999) afirma que as representações dos conflitos étnicos na mídia seguem três tipos de modelos: a negação do racismo propriamente dito, a valorização de determinadas características tidas como positivas dos grupos etnicamente subalternos e .No caso da Segunda assertiva, temos que a mídia individualiza os aspectos raciais ao colocar a solução dos conflitos no plano individual. Assim, há uma deturpação do problema pois as classificações raciais ou étnicas são socialmente criadas por mecanismos de poder e atendem a manutenção de sistemas de poder e não são naturalmente dadas. Desta forma, a solução dos impasses e conflitos étnico-raciais passa por intermediações sociais e não individuais.

No caso do exemplo dado da telenovela, há a apresentação de tipos de negros que seriam socialmente aceitos e, assim, poder-se-ia pela assimilação individual destes comportamentos superar o racismo. O mesmo ocorre com os antagonistas brancos – há uma condenação de determinados comportamentos racistas dos brancos. Entretanto, o racismo como mecanismo social de poder passa longe de tudo isto.

3 – Da cidadania ao indivíduo
Bauman (2000) lembra que o atual período que vivemos, chamado por ele de modernidade líquida transfigura o sujeito-cidadão em sujeito-indivíduo.
“A apresentação dos membros como indivíduos é a marca registrada da sociedade moderna. Esta apresentação, porém, não foi uma peça e um ato é uma atividade reencenada diariamente” (p.39)

“Como Tocqueville há muito suspeitava, libertar as pessoas pode torná-las indiferentes. O indivíduo é o pior inimigo do cidadão, sugeriu ele. O cidadão é uma pessoa que tende a buscar seu próprio bem estar através do bem estar da cidade – enquanto o indivíduo tende a ser morno, cético ou prudente em relação à causa comum ou bem comum” (p.45)

Em uma sociedade de indivíduos e não de cidadãos, o racismo passa a ser considerado com um problema dos “negros que sofrem a discriminação” e não uma anomalia da sociedade. A sociedade midiatizada opera por meio da lógica da individualização dos problemas de cidadania. Este discurso encontra certo eco entre parcela da população afro-descendente brasileira por uma série de motivos.

Em primeiro lugar, porque os afrodescendentes se constituem em um grupo historicamente situado na zona de exclusão da sociedade brasileira. Caracteriza-se como o que Sodré (in Paiva e Barbalho, 2005) chama de minoria que ele caracteriza como um “grupo não institucionalizado pelas regras do ordenamento jurídico vigente e que por isto pode ser considerado vulnerável diante da legitimidade institucional e diante das políticas públicas.”(p. 13)

Um outro aspecto é também em função da característica do segmento como grupo minoritário que para Sodré (in Paiva e Barbalho, 2005:13) tem uma “condição de uma entidade em formação que se alimenta da força e do ânimo dos estados nascentes”.

4 – Estratégias diante do ágora midiático
Porém, o mais interessante desta caracterização dos afrodescendentes como grupos minoritários na visão de Sodré está no fato dos mesmos desenvolverem uma luta contra hegemônica e operarem por estratégias discursivas particulares. Por luta contra-hegemônica, entendemos como uma forma de rebelião contra sua condição de subalternidade que, em uma sociedade midiatizada, significa não ter “voz” no ágora midiático. Diante disto, podem operar-se duas estratégias discursivas distintas;

A primeira é o que Raquel Paiva (in Paiva e Barbalho, 2005) chama de ação flutuante, isto é, atuar por meio de ações de impacto que visam repercussões na mídia.
“Já vimos que os grupos minoritários agindo em sintonia com o ambiente midiático produzem formas de atuação em que o objetivo é muito freqüentemente o aparecimento na mídia. E esse jogo de aparecimento/ocultamento que determina sua ação social flutuante.” (p. 17).

A efeméride de 20 de novembro – que tem um caráter simbólico pois é uma data imposta pelo movimento negro em oposição ao oficialismo do 13 de maio – garantiu uma previsibilidade neste jogo de aparecimento dos afrodescendentes do ponto de vista político-ideológico. Do ponto de vista cultural, o carnaval historicamente tem este papel, embora perceba-se já uma nítida “daltonização” deste evento.

Outra estratégia na busca da “voz” no ágora midiático reside na construção de modelos, de figuras olimpianas negras que “representariam” este segmento no ágora. Esta estratégia é cooptada pela mídia e, em geral, reforça a idéia de uma guetificação de espaços permitidos aos afrodescendentes – o espaço lúdico. Ao lado disto, estas figuras são apresentadas como “vencedoras”, como pessoas que superaram suas barreiras e estas qualificações servem tanto para a mídia legitimar-se como um simulacro de uma sociedade multi-étnica quanto para atender as expectativas do grupo subalterno de encontrar representações suas no ágora midiatizado.

Esta é uma distinção importante que se deve fazer entre projetos de comunicação alternativos elaborados por organizações negras, como o jornal Djumbay, do Maranhão; o jornal do MNU, do Movimento Negro Unificado, o jornal Legítima Defesa, da Unegro ou mais anteriormente, o Voz da Raça (da Frente Negra Brasileira) e toda a experiência da imprensa negra do início do século XX que se preocupavam e se preocupam em discutir o negro no âmbito do racismo em todas as suas manifestações – portanto são publicações negras e anti-racistas na acepção política do termo; e as publicações voltadas para negros produzidas pela indústria cultural, como a revista Raça Brasil (Editora Símbolo), o TV da Gente (do empresário e compositor Netinho) que se colocam como propostas mercadológicas visando organizar a população negra como um nicho específico de mercado. Em termos de estratégias discursivas, enquanto na primeira proposta se percebe um direcionamento para propostas de superação do racismo; na segunda há uma evidente tentativa de exaltação das qualidades estéticas que seriam típicas da população negra.

Em entrevista a revista Carta Capital, o empresário Netinho afirma que entende o discurso do seu amigo Mano Brown, dos Racionais MC´s (famoso grupo de rap) mas que, diferentemente dele que é pelo confronto, ele é da “paz”. A auto-atribuição de “pacifista” por parte de Netinho é sintomática pois é uma admissão de que o projeto que ele dirige não se confronta com o sistema e pode ser tranqüilamente absorvido por ele.

Entretanto, esta estratégia discursiva aderente ao sistema por parte de alguns negros não está isenta de sofrer preconceitos. Isto porque ela aponta para a possibilidade de uma divisão do lugar topologicamente destinado aos brancos. Gera-se, assim, um conflito não mais entre aliados/adversários mas entre conhecidos/estranhos.

“Existem amigos e inimigos. E existem estranhos. Amigos e inimigos colocam-se em oposição uns aos outros. Os primeiros são o que os segundos não são e vice-versa.
(…) Aparentemente há uma simetria: não haveria inimigos se não houvesse amigos e não haveria amigos se não fosse pelo largo abismo da inimizade exterior.” (Bauman, 1999: 62)

E ainda:
“Contra este confortável antagonismo, contra essa colisão conflituosa de amigos e inimigos, rebela-se o estranho. A ameaça que ele carrega é mais terrível que a ameaça que se pode temer do inimigo. O estranho ameaça a própria sociação, a própria possibilidade de sociação. Ele desmascara a oposição entre amigos e inimigos como o compleat mappa mundi como diferença que consome todas as diferenças e portanto não deixa nada fora dela. Como essa oposição é o fundamento no qual se assenta toda a vida social e todas as diferenças que a constroem e sustentam, o estranho solapa a própria vida social. E tudo isso porque o estranho não é nem amigo e nem inimigo – e porque pode ser ambos. E porque não sabemos nem temos como saber qual é o caso.” (idem, p. 64)

Bauman avança no conceito de estranho ao colocá-lo na categoria dos “indefiníveis”, proposta por Jacques Derrida, na qual se incluem também o pharmakon (que inclui tanto os remédios – vida – como os venenos – morte); o hímen (que representa tanto a virgindade quanto casamento – ou o seu rompimento) e suplemento (que pode significar adição ou substituição).

“Os indefiníveis não são uma coisa nem outra o que equivale a dizer que eles militam contra uma coisa ou outra. Sua subdeterminação é sua força – porque nada são podem ser tudo. Eles põem fim ao poder ordenador da oposição e, assim, ao poder ordenador dos narradores da oposição. As oposições possibilitam o conhecimento e a ação: as indefinições os paralisam. Os indefiníveis expõem brutalmente o artifício, a fragilidade, a impostura da separação mais vital. Eles colocam o exterior dentro e envenenam o conforto da ordem com a suspeita do caos.” (p.65)

Bauman vai além na sua definição conceitual de estranheza ao lembrar que ela é controlada quando há uma separação territorial entre familiares e estranhos, mantendo-os distantes e, no limite, estabelecendo contatos pontuais. Esta separação pode ser também virtual – quando lembramos a noção de espaços permitidos e espaços proibidos em termos das clivagens raciais, vem a tona a permissão para que os negros usufruam e sejam até hegemônicos numericamente falando nos espaços lúdicos e vetados nos demais espaços (como o político, econômico, acadêmico, etc.).

Uma situação que demonstra bem isto é o estado da Bahia, onde há uma nítida visibilidade da população negra no território cultural e uma total proibição no espaço político e acadêmico, tanto é que, em determinados momentos, houve mais parlamentares negros em estados do Sul e Sudeste que neste estado em que se concentra a maior população negra do país. O negro como não familiar é admitido no espaço lúdico, além da fronteira do espaço do poder.

Este negro não familiar torna-se estranho quando reivindica a participação em outros espaços para os quais “não foi convidado”. Assim, para Bauman, “o estranho entra no mundo real e se estabelece aqui tornando-se relevante, ao contrário daqueles meramente não familiares” (p. 68) e, contrariamente ao inimigo, perturba por não estar do outro lado da linha de batalha e sim próximo, reivindicando o direito de ser um objeto de responsabilidade, atributo do amigo. (Bauman, 1999: 69).

Ainda Bauman: “o estranho solapa o ordenamento espacial do mundo, a batalhada coordenação entre proximidade moral e topográfica, a união de amigos e a distância de inimigos. O estranho perturba a ressonância entre distância física e psíquica: ele está fisicamente próximo mas permanece espiritualmente distante.” (idem, p. 69)

Esta ambivalência da estranheza perpassa a percepção do problema racial no país entre a maioria dos brasileiros que admite a existência do racismo e do preconceito do país mas não se considera racista ou preconceituoso. Tem-se, assim, uma noção nebulosa de onde se situa o racismo, uma certa dificuldade de materializar as ações preconceituosas e discriminatórias que não sejam aquelas percebidas nos indicadores sócio-econômicos. É por esta razão que há uma dificuldade imensa em se pensar políticas específicas de combate ao racismo pois a medida que o problema é visto apenas nas suas manifestações mais gerais, a tendência é se pensar em saídas genéricas ou ainda reduzir a dinâmica do racismo com a afirmação de que se trata de um problema social e não racial.

A participação do negro na grande mídia, seja nos grandes meios ou seja nas propostas de mídia segmentada que ainda timidamente se apresentam revela este caráter ambivalente. Se, por um lado, esta participação decorre de uma percepção de invisibilidade do negro no ágora midiático dado pelos mecanismos sociais de seleção racial e, portanto, implica em certa contestação a forma hegemônica de reconstrução da realidade operada pelo aparelho midiático, por outro, o aspecto mercadológico de tais aparecimentos não revela um discurso de contestação sistêmica e sim de co-participação, ainda que minoritária, dentro do mesmo sistema e inclusive incorporando a sua lógica.

A atriz Taís Araújo, quando entrevistada do seu papel de protagonista na novela Da Cor do Pecado afirmou que o fato da maior emissora do país veicular uma telenovela com uma atriz negra no papel principal era “tudo de bom” e que a Globo estava, assim, “avalizando nossa luta”. Em outro momento da entrevista, a atriz afirma que quando criança tinha problemas com sua auto-identificação como negra em virtude da totalidade das apresentadoras de programas infantis ser loira.

Considerações finais
Apontamos, com estas rápidas reflexões, que a midiatização da sociedade impõe novas formas de conceituar a problemática do racismo no Brasil. A admissão da existência do racismo no país (que implicou no desmonte do mito da democracia racial brasileira) e a sua criminalização tanto jurídica como moralmente em função das pressões dos movimento social de negros foi incorporada pelo novo ágora midiático apresentando-o como uma relação de ambivalências.

Há uma dissociação entre discurso negro que aponta a valorização “natural” de algumas características deste segmento social que o referenda como hegemônico exclusivamente em determinados espaços permitidos e discurso anti-racista que se centra na percepção dos mecanismos socialmente criados que excluem a população negra e aponta para a superação dos mesmos.

Diante disto, o racismo na mídia é medido não apenas por uma maior ou menor visibilidade de negros mas fundamentalmente nas propostas que são hegemonicamente apresentadas de tipologias de ser negro e de se relacionar inter-etnicamente.

A visibilidade maior de negros no ágora midiático apresenta-se como possibilidades oferecidas pelo atual sistema de ascensão. Por isto, tal reivindicação aparece com certa força entre grupos negros que desenvolvem atividades artísticas ou lúdicas, pois tais atividades se legitimam socialmente no ágora midiático. Entretanto, a medida que se midiatiza a sociedade, outras atividades também buscam espaços neste ágora e há uma pressão considerável sobre o movimento social de negros para se comportar como uma minoria flutuante, utilizando um conceito de Raquel Paiva. Podemos perceber esta estratégia discursiva em determinadas experiências organizativas, como o Movimento pelas Reparações, a ação de algumas organizações não governamentais negras, grupos de hip-hop, entre outros.

Referências bibliográficas
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999
BAUMAN, Zygmunt. O mal estar da pós modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001
OLIVEIRA, Dennis; PAVAN, Maria Angela. Identificações e estratégias nas relações étnicas na telenovela Da Cor do Pecado (trabalho apresentado no Congresso da Intercom de 2004)
PAIVA, Raquel; BARBALHO, Alexandre (orgs) Comunicação e cultura das minorias. S. Paulo: Paulus, 2005
SODRÉ, Muniz. Antropológica do Espelho. Petrópolis: Vozes, 2001
SODRÉ, Muniz. Claros e escuros. Petrópolis: Vozes, 1999

1 Trabalho apresentado no NP Comunicação e Culturas Urbanas do VI Encontro de Núcleos de Pesquisa da Intercom
2 Professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e coordenador do curso de Jornalismo da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba). Doutor em Ciências da Comunicação pela ECA/USP. Coordenador do CELACC (Centro de Estudos Latino Americanos de Cultura e Comunicação) – E-mail: [email protected]

 

 

Fonte: Maria Frô

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