Denúncia de racismo em Salvador: Mulher sofre racismo no Bairro da Paz pela Santa Casa de Misericórdia da Bahia

 

No dia 30 de março de 2011, eu, Andréa Santos Souza, integrante do núcleo do MNU (Movimento Negro Unificado) no Bairro da Paz, militante do movimento hip hop de Salvador- Bahia e participante da posse de hip hop Clã Periférico do Bairro da Paz, fomos convidados para uma apresentação em um dos projetos que a Santa Casa de Misericórdia da Bahia tem nesta comunidade, o qual é chamado de “Quartas Culturais”.

A nossa participação foi uma apresentação musical que levou aproximadamente 30 minutos, descemos do palco e ficamos na plateia para que pudéssemos prestigiar outras apresentações.

No final do evento o funcionário da Santa Casa de Misericórdia, organizador e coordenador da atividade Hélio Freitas, fez agradecimentos aos grupos e as pessoas presentes e ausentes no evento, sendo que se referiu a mim em especial com o termo “macaca de auditório”, diante do público que prestigiava as atividades.

A comunidade negra ainda sofre constantemente, em pleno século XXI, crimes de racismo e desumanização, na maioria das vezes praticados por pessoas brancas. Apesar disso sabemos que nem todos(as) brancos são racistas, mas, alguns insistem em agir de modo racista e isso é muito evidente no cotidiano da nossa cidade, indo aos bairros e nos tratam dessa forma.

O Brasil tem 511 anos e Salvador fez 462, e mesmo assim, ainda temos os nossos direitos violentados, por pessoas não negras que traz consigo todo aparato de extermínio, seja na pronúncia ou no comportamento junto aos moradores de diversas comunidades.

Um espaço que poderia contribuir para o avanço das expressões culturais do Bairro da Paz é coordenado por uma pessoa racista e homofóbica, que não conhece a história desta comunidade e disseminou em sua colocação a violência racial, estética e psicológica nos negros e negras.

Uma pessoa como essa não pode mais conviver entre moradores desta comunidade pelo fato de não respeitar a diversidade racial e cultural, a qual é tão presente no dia a dia.

Eu, Andréa Santos Souza, exijo reparação de danos pela a prática de violência racial, psicológica e a exoneração do funcionário Hélio Freitas, da sua função na comunidade do Bairro da Paz, e que a entidade Santa Casa de Misericórdia da Bahia não mais permita a sua participação no quadro funcional.

Também entrarei com uma representação junto ao Ministério Público e a Secretaria de Reparação Racial para que os meus direitos sejam de fato garantidos e a reparação de danos raciais e psicológicos seja concedida, porque não devemos mais permitir que pessoas como essas que tem ódio de negros e negras fique impune dos seus comportamentos e práticas racistas ao povo negro.

Muitos e muitas brasileiras que praticam esses tipos de crimes têm semeado o ódio e o extermínio racial todos os dias, diante da comunidade negra, e também aos homossexuais, pois basta ver o caso do estudante de história Elder dos Santos, no Rio grande do Sul, ou o pronunciamento do Deputado Jair Bolsonaro, quando relacionou mulher negra a promiscuidade e ao se referir à homossexualidade como um comportamento. Esses casos não são isolados, é a verdadeira visibilidade do ódio e da prática exterminadora de racismo contra, na maioria das vezes, nós, afrobrasileiros.

O racismo tem se manifestado em todos os espaços, vejam o que aconteceu com o cantor Marcio Vitor durante o carnaval de Salvador, ocorrido em março deste ano. Também aqui na Bahia, onde somos maioria, em ilhéus a Ialorixá Bernadete Souza foi violentada pelo braço armado do Estado. No bairro de Nordeste de Amaralina, em Salvador, Joel da Conceição foi abatido pelo racismo institucional, governamental, e tantos outros casos de racismo que vem acontecendo na cidade do Salvador, aqui no estado Bahia, nordeste brasileiro.

A sociedade junto aos poderes públicos não podem mais permitir esse tipo de situação. Estamos de cabeças erguidas e vamos lutar em combate aos crimes de racismo nesta cidade, no estado e no país.

O QUÊ: Ato de denúncia e repúdio ao representante da Santa Casa da Misericódia Hélio Freitas, por cometer crime de racismo a irmã Andrea Santos Souza, integrante da organização Clã Periférico do Bairro da Paz.

DIA: 13 de abril, quarta-feira.

HORÁRIO: às 18:00hs, no Espaço Avançar – Bairro da Paz.

Contatos: 71 86143727

 

 

Fonte:  Lista Racial

+ sobre o tema

Xenofobia na Holanda – Tem problemas com gente da Europa Central ou de Leste?

Começo com uma citação. Preparem-se porque é preciso estômago:...

Novo Código da Fifa permite que árbitros terminem o jogo em caso de racismo

Juízes poderão até mesmo atribuir a derrota ao time...

Cidinha da Silva: Ainda, Melodia. Para sempre, Melodia!

Fui à Concha acústica para ouvir a voz de...

para lembrar

Ministro israelense condena a violência contra imigrantes africanos

Por Jônatha Bittencourt   O Ministério das Relações...

Mãe diz que filha sofreu racismo em escola do Rio: ‘cabelo de pobre’

Publicação de desabafo na web teve mais de 1,3...

Policiais matam adolescente de 13 anos em Duque de Caixias

Cinco PMs são afastados após morte de adolescente em...

Tecendo a luta e a lira: Vida e morte na poesia de Dinha

(Dinha e Julia (uma das minhas meninas) Amor Teça sua teia e amorteça a morte. (Dinha) por Mariana...
spot_imgspot_img

A natureza se impõe

Mundo afora, sobram sinais — de preocupantes a desesperadores — de fenômenos climáticos. Durante a semana, brasileiras e brasileiros em largas porções do território,...

Criminalização e Resistência: Carla Akotirene e Cidinha da Silva discutem racismo institucional no Sesc 24 de Maio 

No dia 16 de outubro, quarta-feira, às 19h, o Sesc 24 de Maio promove o bate-papo Criminalização, encarceramento em massa e resistência ao punitivismo...

Violência política mais que dobra na eleição de 2024

Foi surpreendente a votação obtida em São Paulo por um candidato a prefeito que explicitou a violência física em debates televisionados. Provocações que resultaram...
-+=