Depois que o deputado estadual Anísio Maia (PT) ocupou a tribuna hoje de manhã para enaltecer o Ministério da Educação e Cultura pela realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), criticando o que chamou de “fundamentalistas religiosos” contrários a alguns conceitos citados nas provas, acabou provocando seu colega de parlamento, Jutay Meneses, a assumir sua discordância com o MEC e também com o teor dos testes aplicados no fim de semana.
Anísio declarou que os críticos do Enem “não têm coragem de dizer claramente, mas defendem a submissão da mulher porque são fundamentalistas religiosos” e acrescentou seus parabéns ao Ministério. “Eu quero dar os parabéns ao Enem pela abordagem, pela prova de alto nível e pela defesa aos direitos femininos. A cultura universal vai chegar ao Brasil com muito mais força. Não seremos quintal do obscurantismo. Vamos respeitar os direitos fundamentais de homens e mulheres. Parabéns ao Ministério da Educação!!”, disse o petista.
Na sequência, Jutay confessou que não pretendia discursar, mas reconheceu ter sido provocado pelo teor do pronunciamento do petista, ressaltando que não aceita a pecha de “fundamentalista religioso”. “Ele acha que gritando e esbravejando na tribuna, vai convencer as pessoas de seus ideais”, protestou. Mas, o que mais chamou a atenção no que disse Jutay foi a crítica dele ao Enem: “Não posso aceitar que o Enem e o MEC sejam os senhores da verdade. Fundamentalistas são os que fazem as provas do Enem. O que tem a ver a prova do Enem com a música do candomblé? Eu respeito, mas não tem nada a ver. Nunca se viu no Enem a música evangélica e nem católica. Pregamos o estado laico, mas na Assembleia logo se vê o crucifixo. Na Câmara, o presidente não tem coragem de tirar a imagem da padroeira da cidade. Eu tenho o direito de dizer o que eu penso”.
A questão apontada por Jutay foi Yaô, uma composição de Pixinguinha e Gastão Viana da década de 30. Para esclarecer o que ela tem a ver com o Enem, o professor Eduardo Calbucci, supervisor de português e redação do Anglo, explicou que o Enem gosta de trabalhar com gêneros variados e um deles é a canção popular brasileira. “Ao fazer uso do iorubá na composição do autor, o aluno deve tentar entender por que isso foi citado. Se pensarmos na origem do samba e do choro, está muito ligada à cultura negra e aos morros do Rio de Janeiro. É um tom de homenagem. As palavras foram incorporadas em tom de homenagem. A resposta que a banca esperava é a letra B”, comentou, numa alusão à alternativa que citava a marca da cultura africana na música brasileira.