Derrota escancara dissonância na esquerda

Martin Schulz (Source: AP)

Após falharem para capitalizar eleitoralmente a crise econômica que se apresentou como terreno fértil para expressão de eleitores descontentes, os socialistas europeus buscavam consolo na noite passada.

Por JOSHUA CHAFFIN, da Folha de S. Paulo 

Em vez de ganhar espaço das siglas de centro-direita, os socialistas -o maior grupo do Parlamento Europeu- foram punidos nas urnas em países-chave como o Reino Unido, onde houve avanço nas extremas esquerda e direita.

“Foi uma noite difícil”, afirmou Martin Schulz, líder do grupo socialista em Bruxelas. “Em alguns dias ganhamos, em outros perdemos”, acrescentou ele, exortando seus correligionários para que mantenham apoio à plataforma do grupo.

Lideranças do bloco tentaram atribuir o desfecho a uma mescla de baixo comparecimento -que tende a distorcer os resultados em favor de siglas minoritárias- com contextos nacionais particulares.

Reservadamente, porém, alguns adotaram um tom mais direto à direção da campanha. “Se os socialistas foram incapazes de ir bem agora, quando eles conseguiriam ir bem?”, reclamava um militante socialista, insatisfeito com o fato de o grupo não ter conseguido tirar proveito nas urnas da crise financeira global.

Os socialistas também externavam preocupação com a chegada em Bruxelas de 50 a 60 eurodeputados céticos quanto ao fortalecimento da União Europeia, oriundos de partidos de extremas direita ou esquerda. Acreditam que tais representantes farão pouco mais que discursos inflamados -pois provêm de quadros fragmentados que seriam muito pequenos para afetar o processo legislativo de forma significativa.

 

Nova campanha

Antes mesmo de a eleição europeia terminar, ontem à noite, um punhado de candidatos se organizava para outra campanha: tendo em vista a Presidência do Parlamento Europeu.

Os principais concorrentes são o polonês Jerzy Buzek e o italiano Mario Mauro, do centro-direitista Partido Popular Europeu (PPE), o socialista alemão Martin Schulz, além do azarão britânico Graham Watson (líder dos liberais).

Indicar o presidente será uma das primeiras missões do novo Parlamento, quando se reunir em 14 de julho. A despeito do título, o vencedor terá poder limitado para influenciar o processo legislativo do órgão, de acordo com analistas.

Se for aprovado o Tratado de Lisboa -que pretende consolidar a integração das instituições europeias- o presidente terá de entregar o cargo, como resultado de uma turbulenta negociação que envolve os países-membros do bloco.

Ainda assim, como face visível da instituição, o presidente desfruta de exposição midiática bem superior à de seus pares, além de acesso aos principais líderes mundiais -algo que notadamente agradou o atual dono do cargo, Hans-Gert Poettering, quando a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, visitou Bruxelas no último mês de abril.

Tradicionalmente, o PPE e os socialistas, na condição dos maiores partidos do Parlamento, dividem o cargo entre si -o mandato presidencial dura dois anos e meio, metade do prazo da legislatura.

Mas, desta vez, o acordo pode não ser repetido. Watson levantou uma objeção, que pode ganhar corpo entre seus pares. Para o britânico, a definição da Presidência não pode mais ser resultado de um acordo firmado nos bastidores.

 

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