Dia Internacional da Mulher Negra ganha evento de beleza

Clube Renascença apresenta ‘Encrespando’, com objetivo de valorizar a beleza negra e incentivar a libertação dos fios

Em 1982, ao cantar ‘Olhos Coloridos’, Sandra de Sá profetizou: “Meu cabelo enrolado, todos querem imitar.” Se os fios no melhor estilo black power fizeram a cabeça de homens e mulheres na década de 70, agora eles voltam com força total. Prova disso é que as madeixas da atriz Taís Araújo, a Verônica da novela ‘Geração Brasil’, estão na terceira posição da lista de preferências do público, de acordo com a Central de Atendimento ao Telespectador (CAT). “Isso mostra que, finalmente, estamos nos amando, valorizando o que é genuinamente brasileiro. Estou orgulhosa”, analisa Taís.

Meninas Black Power, grupo formado por Jana Guinond (de óculos) e, da esquerda para a direita, Karine Vieira, Jéssyca Liris, Jaciana Melquiades, Fabíola Oliveira, Maria Fernanda e Tainá Almeida

Esse resultado não poderia aparecer em um momento melhor, na semana em que a baiana Lília de Souza causou polêmica ao enfrentar dificuldade para tirar o passaporte por conta do tamanho de seu cabelo afro. Na próxima próxima sexta-feira, comemora-se o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. Na data, o coletivo Meninas Black Power — grupo formado por Jana Guinond, Maria Fernanda, Karina Vieira, Jéssyca Liris, Tainá Almeida, Fabíola Oliveira, Natália Regina e Jaciana Melquiades — realiza, com entrada gratuita, no Clube Renascença, o ‘Encrespando’. O evento tem como objetivo valorizar a beleza da mulher negra e incentivar a libertação dos fios.

Dia Internacional da Mulher Negra ganha evento de beleza
Dia Internacional da Mulher Negra ganha evento de beleza

‘Me orgulha saber que o meu cabelo praticamente natural está sendo cobiçado’, Taís Araújo

“A gente sempre diz que, quando você olha para uma mulher de black, vê uma pessoa livre”, diz Jana Guinond. No espaço, além de outras atividades, haverá oficina de turbantes, palestras ensinando a cuidar dos fios crespos e bate-papo para que as crianças aceitem o cabelo natural desde a infância. “É importante que os pequenos vejam que o cabelo deles é bonito, sim. É uma questão de identidade”, comenta Fabíola Oliveira. Sobre o ‘Encrespando’, a atriz e poetisa Elisa Lucinda é só elogios: “Ações afirmativas como essa são importantes para a autoestima negra.”

Dia Internacional da Mulher Negra ganha evento de beleza
Dia Internacional da Mulher Negra ganha evento de beleza

‘Estamos provando que somos lindas e capazes. Aceitar a sua imagem é impor respeito’, Lica Oliveira

Para a atriz Jéssica Barbosa — a Neidinha da segunda fase da novela ‘Em Família’, que teve cabelo liso até os 17 anos — enfrentar a transformação foi difícil. “O meu padrão de beleza era a Xuxa. Eu queria ter os fios escorridos. Mas, depois que assumi o black, me tornei referência para as meninas negras. Isso é muito importante para mim”, diz ela. Já a atriz Lica Oliveira e a dançarina Adriana BomBom sempre tiveram uma certeza: quanto mais volume melhor. “O cabelo cheio modela o rosto muito bem. Sempre tem aquela pressão para alisar. E, às vezes, ela não é falada. Sentimos pelo olhar. O segredo é não ceder”, aconselha Lica.

Outro ponto criticado pelas Meninas Black Power é a dificuldade em achar produtos de maquiagem. “Muitas de nós já recorremos ao velho truque de misturar três pós diferentes para chegarmos ao tom que desejamos. Em pleno ano de 2014, é um absurdo isso ainda acontecer”, diz Tainá Almeida. Quem também já passou pelo mesmo problema é a atriz Cacau Protásio: “Quando me maquio, ou eu fico branca ou fico cinza. É como se a mulher comum, aquela que não pertence à ditadura da beleza, que não está nos padrões, não existisse.”

Dia Internacional da Mulher Negra ganha evento de beleza
Dia Internacional da Mulher Negra ganha evento de beleza

‘As indústrias ignoram pessoas como eu que, além de negras, são gordinhas’, Cacau Protásio

Mas nem tudo está perdido. Prova disso é a eleição da atriz Lupita Nyong’o como a mulher mais bonita do mundo pela revista ‘People’. “As pessoas só enxergaram o óbvio: a Lupita é lindíssima e o mais bacana é que ela tem a estética da mulher negra”, diz Jéssyca Liris.

Cientes de que a jornada é longa, o coletivo Meninas Black Power garante que muito já foi conquistado, mas algumas questões ainda podem melhorar. “Realizamos esse encontro com o nosso coração. Queremos alcançar as pessoas. A minha esperança é que os meus filhos, netos talvez, vivam algo próximo de uma paz racial plena. A minha luta é para isso”, diz Fabíola.

PROGRAMAÇÃO

16h – Abertura dos portões
17h – Palestra: A autoestima da mulher negra com a Associação de Mulheres Ação e Reação
18h – Workshop de cabelo crespo
19h – Dança Afro – Valéria Monã
19h30 – Dança – Femme Beats
20h – Show do rapper Mr. Ronney
21h – Show – Consciência Tranquila

Clube Renascença fica na Rua Barão de São Francisco, 54. Andaraí. Mais informações no e-mail [email protected].

 

Fonte: O Dia

+ sobre o tema

Eventos promovem feminismo negro com rodas de samba e de conversa

"Empoderadas do Samba" ocupa espaço ainda prioritariamente masculino e...

Dandara: ficção ou realidade?

Vira e mexe, reacende a polêmica sobre a existência...

Michelle Obama está farta de ser chamada “mulher revoltada de raça negra”

“Uma mulher revoltada de raça negra”. Michelle Obama está...

A banalização da vida diante da cultura do abandono e da morte

O ano de 2017 expondo as vísceras da cultura...

para lembrar

Mortalidade materna de mulheres negras é o dobro da de brancas, mostra estudo da Saúde

Assim como outros indicadores de saúde, a mortalidade materna é...

Racismo institucional e ensino da cultura africana são debatidos entre governo e movimento negro

 A presidenta Dilma Rousseff recebeu nesta sexta-feira (19),...

Igreja continuará satanizando direitos das mulheres? por Fátima Oliveira

O papa Francisco, num mesmo dia, 20 de setembro,...
spot_imgspot_img

Ela me largou

Dia de feira. Feita a pesquisa simbólica de preços, compraria nas bancas costumeiras. Escolhi as raríssimas que tinham mulheres negras trabalhando, depois as de...

“Dispositivo de Racialidade”: O trabalho imensurável de Sueli Carneiro

Sueli Carneiro é um nome que deveria dispensar apresentações. Filósofa e ativista do movimento negro — tendo cofundado o Geledés – Instituto da Mulher Negra,...

Comida mofada e banana de presente: diretora de escola denuncia caso de racismo após colegas pedirem saída dela sem justificativa em MG

Gladys Roberta Silva Evangelista alega ter sido vítima de racismo na escola municipal onde atua como diretora, em Uberaba. Segundo a servidora, ela está...
-+=