Dieese ressalta racismo brasileiro no mercado de trabalho

 

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou nesta quarta-feira (13) a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) com o tema Os Negros no Trabalho. Esse é o 13º ano consecutivo que o PED analisa questões referentes ao desenvolvimento do mundo do trabalho no país. “A dinâmica do mercado de trabalho expressa padrões vigentes das relações raciais que se apresentam na sociedade brasileira”, diz trecho da apresentação do estudo.

Marcos Aurélio Ruy

Na apresentação foi explicado que essa é uma pesquisa contínua, ou seja, feita todos os dias, pelas quais são entrevistadas cerca de 600 mil pessoas. Como este levantamento refere-se ao biênio 2011-2012, dá um total aproximado de 1,2 milhão de entrevistados, o que por si só apresenta a dimensão da situação dos cidadãos e cidadãs brasileiros no mercado de trabalho.

Os Negros no Trabalho (veja pesquisa completa aqui) derruba o mito de que essa parcela da população brasileira tem salário menor por possuir menos escolaridade. O estudo constatou justamente o contrário, pois quanto maior a escolaridade a diferença salarial entre negros e não negros cresce.

No período avaliado, comprovou-se que com o aumento dos anos de estudo, cresce o fosso salarial entre os brasileiros de cores diferentes. Na indústria de transformação a desigualdade de rendimento por hora entre negros e brancos era de 18,4% no ensino fundamental incompleto e 40,1% para as pessoas com ensino superior completo. Já no setor do comércio, os índices ficaram em 19,7% para os que não completaram o fundamental e 39,1% para aqueles com diploma universitário. Na construção civil, onde a presença de negros é muito maior do que a de brancos, a diferença salarial registrada foi de 15,6% sem fundamental completo e 24,4% para quem já saiu da universidade.

Também comprovou-se que os trabalhadores negros têm menos escolaridade. Entre 2011 e 2012, 27,3% entre os negros ocupados não tinham ensino fundamental completo e somente 11,8% contavam com diploma universitário. Já na parcela dos não negros os índices eram 17,8% e 23,4% respectivamente. Outro dado fundamental refere-se à diferença salarial entre negros e brancos. Já entre a sete regiões metropolitanas pesquisadas, Salvador apresentou a maior disparidade. A capital baina lidera o ranking onde os negros recebem 40,14% a menos do que os brancos, seguida por São Paulo (38,95%) e em último vem Fortaleza onde os negros ganham 24,34% a menos. No total da pesquisa, o negro brasileiro ganha salário 36,11% menor do que os brancos no país.

A pesquisa do Dieese ressalta a dissimulação do racismo brasileiro. Mesmo com a Abolição aos negros couberam os cargos de menor remuneração no mercado de trabalho, os ex-escravos foram jogados à própria sorte, abandonados pelo Estado. Essa realidade se reflete na pesquisa no sentido pelo qual, “a questão racial interfere par designar lugares para trabalhadores negros na estrutura produtiva, passíveis d serem traduzidos por situações de discriminação não determinadas pelos critérios objetivos da produção, que acarretam desvantagens aos afro-brasileiros”, concluem os responsáveis pelo levantamento.

A uma semana de se comemorar o Dia da Consciência Negra – quarta-feira que vem (20) -, os dados da pesquisa mostram o traço racista da sociedade brasileira – que vem desde o Brasil colônia -, onde os empresários contratam seus funcionários com base na aparência física, levando menos em conta a capacidade de trabalho apresentada pelo candidato. Com esse critério e com um padrão europeu de aparência, aos negros ficam os trabalhos de menor prestígio e de menos rendimentos. Esse estudo pode subsidiar os setores do movimento sindical interessados na luta pela igualdade de direitos para todos os brasileiros.

 

Mercado paga salário 36,11% menor a negros, apura Dieese

 

Fonte: Portal CTB

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