Os ricos são mais perfumados: o que gastam apenas em perfume – 13 bilhões por ano – daria para instalar rede sanitária no mundo todo
Por:Wanda Sily
Ana deixou a pátria amada e virou imigrante clandestina nos States, indo trabalhar na mansão de Paola, também imigrante brasileira, mas dona de invejável fortuna. Apesar dessa pequena diferença, Paola e Ana eram amigas, até pegavam um cineminha vez ou outra, sessão da tarde, quando ninguém mais queria ver o filme que Paola queria. Como não poderia deixar de ser, a filha de Ana, Karla, também tinha um ótimo relacionamento com o filho de Paola, Rick.
Não foi surpresa para ninguém, exceto para Paola, quando os dois comunicaram que estavam apaixonados e queriam se casar. E também não foi surpresa para ninguém, exceto para Ana, a reação de Paola ao romance. “Meu filho e a filha da faxineira? Jamais!” exclama do alto de seu estileto italiano. “Graças a esse empreguinho de faxineira minha filha fez faculdade e tem um ótimo emprego nesse país!” retruca Ana, decepcionada e ofendida.
O que há de original nessa história? As novelas e os filmes se mantêm exatamente por explorar as diferenças entre as classes financeiras. Embora Paola pertença à erroneamente chamada classe alta, Ana não se considera classe baixa, “O mundo tá cheio de casamentos entre ricos e pobres, e pra mim é tudo igual, minha filha é tão boa quanto seu filho. Dinheiro não faz a diferença”.
Paola ironiza a ingenuidade da outra, “Dinheiro é a diferença!” Os ricos são mais perfumados – o que gastam em perfume em um ano – 13 bilhões de dólares – daria para instalar rede sanitária no mundo todo. Os ricos são mais bonitos – os americanos consomem oito bilhões por ano em cosméticos; apenas dois bilhões a mais do que seria preciso para prover educação básica para toda a população mundial.
O mundo dos ricos é mais doce – os europeus gastam 11 bilhões por ano em sorvete (e olha que só tomam sorvete no verão). Essa irrisória quantia é apenas dois milhões a mais do que seria necessário para prover água potável e rede de esgoto para toda a população mundial. Os ricos vivem melhor – 20% das pessoas mais ricas consomem 86% de todos os bens e serviços do mundo, enquanto que 20% dos mais pobres consomem apenas 1.3%.
Ana não se deixa abater, “Então seu filho não pode se casar com a filha do Bill Gates, pois a soma dos bens dos três homens mais ricos do mundo (Bill entre eles) é maior do que o PNB somado dos países mais pobres do planeta”. Paola esnoba, “Pode sim, sou até amiga da Melinda”. Mesmo se realmente conheceu Melinda Gates em algum evento social, Paola está longe de pertencer a esse círculo seletíssimo em que a esposa do Bill gravita.
Os sete homens mais ricos do mundo (incluindo Bill mas não o marido de Paola) poderiam acabar com a pobreza mundial sem deixar de ser ricos, desembolsando apenas ¼ de seus bens. As 225 pessoas mais ricas do mundo (onde não está Paola) têm um patrimônio de mais de um trilhão – igual à renda anual de 50% da população do planeta. “Desculpe dizer, querida, mas você também não chegou ao topo!” arremata Ana, triunfante.
Indiferentes a esses debates econômico-filosóficos em que as duas se digladiavam, Karla e Rick se casaram e foram muito felizes… até que o divórcio os separou. Acontece com ricos e pobres, embora mais frequentemente entre os ricos. Além de perder uma ótima faxineira, Paola ficou um pouco mais longe do seleto mundo de Melinda Gates – perdeu nos tribunais uma parte de seus bens para a filha da faxineira.
Fonte: Seculo Diário