Discriminação contra a mulher sacode Israel

Milhares de israelenses foram às ruas na noite de terça-feira 27 para protestar contra a segregação de mulheres imposta por judeus ultraordoxos em Beit Shemesh, cidade ao oeste de Jerusalém. No meio da massa lia-se em um cartaz: “Beit Shemesh não será uma nova Teerã”. Tzipi Livni, líder da oposição, disse aos manifestantes: “Estamos lutando pela imagem de Israel”.

Na tarde de terça, Shimon Peres, o presidente de Israel, havia encorajado o povo a se manifestar. “A nação inteira deve protestar para salvar uma maioria das mãos de uma pequena minoria”, declarou Peres.

Por maioria leia, como diz Peres, “todos nós”, ou seja, religiosos e seculares. A minoria é representada por judeus ultraortodoxos de Beit Shemesh que nos dois dias anteriores haviam enfrentado a polícia, ou, como os próprios manifestantes os alcunham, os “nazistas”. Os ultraortodoxos, diga-se, podem ser uma minoria – 10% da população – mas seus poderes são vastos visto que os partidos deles fazem parte da aliança governamental.

Portanto, os ultraortodoxos não impõe os princípios do judaísmo ortodoxo somente em Beit Shemesh. Em outras cidades espalhadas pelo país placas indicam calçadas separadas para homens e mulheres. Mulheres usam os bancos traseiros nos ônibus desde o final dos anos 80. Cartazes ordenam às mulheres a se vestirem “modestamente”. Ou seja, os braços devem ser inteiramente cobertos.

Merav Michaeli, colunista do diário israelense Haaretz, diz que a “exclusão da mulher” não é nenhuma novidade em Israel.

Segundo Merav, reina a discriminação contra mulheres nos ônibus, outdoors, na tevê e mídia em geral, e no trabalho, incluindo no exército. A colunista fala, por exemplo, do reduzido número de mulheres a integrar o Knesset, o Parlamento, e o governo. Juízes são sempre juízes.

Pior: fala-se pouco, segundo Merav, de mulheres estupradas ou assassinadas por maridos na mídia. Um ex-presidente, vale lembrar, foi recentemente condenado por estupro.

Em Beit Shemesh os confrontos tiveram início por conta de um documentário a envolver uma menina de 8 anos chamada Na’ama Margolese. A menina contou para a reportagem que no caminho para a escola ultraortodoxos cospem nela e a empurram. A ira dos homens a terrorizá-la seria motivada pelas suas roupas “modernas”.

Portanto, a mídia passou a não ser bem-vinda em Beit Shemesh. No domingo uma equipe de reportagem do Canal 2 foi atacada ao filmar ruas onde mulheres são proibidas de parar em frente a sinagogas. Na segunda, outra equipe, desta feita do Canal 10, foi filmar policiais a remover placas ordenando a segregação em Beit Shemesh. Resultado: centenas de ultraortodoxos jogaram ovos e apedrejaram integrantes da reportagem e policiais.

Peres acredita com razão que essa minoria de ultraortodoxos (a maioria dos ultraortodoxos condena essa violência) “rompe nossa solidariedade nacional”. E na nota acrescentou: “Ninguém tem o direito de ameaçar uma menina, uma mulher, ou qualquer outra pessoa”.

A segregação de gênero ganha força quando o povo vai às ruas para se manifestar por uma melhor qualidade de vida. Também não ajuda o fato de o país encontrar-se cada vez mais isolado num quadro incerto de Primavera Árabe.

 

Fonte: Carta Capital

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