Discurso polêmico de Lula no Maranhão

“Meus queridos companheiros e companheiras do estado do Maranhão,


Eu estou indo um pouco rápido, aqui, porque eu estou com um problema crônico de horário. Eu tenho um jantar ainda hoje, com o Presidente do Peru, em Lima e, daqui para lá são cinco horas de viagem. Se fosse olhar o horário do Peru seria fácil, porque lá está duas horas a menos do que o horário nosso. Mas, se eu chegar lá nove horas da noite do meu horário, já são 11 horas da noite… Ou seja, se eu chegar às 9 do horário de lá já serão 11 horas da noite do meu horário.


Então, eu vou ser muito breve, porque também seria repetitivo, depois do que falaram as pessoas que me antecederam, e também porque o ato principal foram as assinaturas feitas entre o governo federal, estadual, prefeitos e empresários sobre os contratos que nós estamos firmando aqui.


Eu queria apenas dizer para o povo do Maranhão que nós ainda temos um outro programa para lançar. E queria lembrar aos prefeitos das cidades com menos de 50 mil habitantes que, talvez, ainda este ano, vai depender da minha agenda, ou no começo do próximo ano, a gente vai ter que juntar, lá em Brasília, pelo menos 1.500 prefeitos, para discutir o início do programa habitacional nessas cidades, e vamos começar com R$ 1 bilhão, para construir casas nas cidades com menos de 50 mil habitantes. Portanto, não terminou ainda todo o processo de firmar acordo com prefeitos.


A segunda coisa que eu queria dizer para vocês é que o Brasil, depois de tanto tempo mal gerenciado, o Brasil, depois de tanto tempo privilegiando, cada vez mais, as regiões mais ricas do País, o Brasil encontrou o seu caminho e o melhor jeito de governar o País. Não era possível a gente continuar vendo o Brasil tendo uma parte do Brasil cada vez mais rica e outra parte do Brasil cada vez mais pobre.


Se a gente pegar os dados da área da saúde, do IBGE, do Ministério da Saúde, da Unicef, das Nações Unidas, a gente vai constatar uma coisa muito grave no Brasil: você pega a região Sul e Sudeste, é a região que tem mais doutores, é a região que tem mais mestres, é a região que tem mais pesquisadores, é a região que tem mais dentistas, é a região que tem mais médicos, é a região que tem mais tudo. E se você pega a parte do Nordeste e do Norte, você vai constatar que é exatamente o contrário. Era no Nordeste e no Norte que a gente tinha menos pesquisadores, menos mestres, menos doutores, menos hospitais, menos médicos… O que a gente tinha mais? Mais analfabetos, mais desnutrição infantil, mais desemprego, mais mortalidade infantil. É nesse paradoxo que vivia o Brasil.


Uma outra coisa grave é que, se você pegar o grosso do dinheiro orçamentário da União, a maioria do dinheiro já ia para quem já tinha, e a minoria vinha para quem não tinha. Era uma inversão de valores total e absoluta. E aqui tem senadores do Maranhão, e tem deputados do Maranhão. Muitas vezes, a classe política do Nordeste contribuía para que isso acontecesse. Muitas vezes. Muitas vezes, nas votações, e eu lembro na Constituinte, a gente perdia votações importantes porque algumas bancadas de companheiros do Nordeste votava contra o Nordeste, para atender à pressão do Centro-Sul do país.


Bem, nós, agora, resolvemos inverter esse quadro. Não é uma tarefa fácil, não é uma coisa simples, como um passe de mágica. É um trabalho, que tem que ter um tempo, leva… tem um processo, e tem que ir subindo degrau por degrau. Qual é o prazer que eu tenho? Eu vi os números que o ministro das Cidades falou de saneamento básico aqui no estado do Maranhão. Ele falou, me parece, que quase R$ 1 bilhão. Começou com 400, depois foi para 800, e depois chegou a 800.


Eu vou contar porque aqui tem o Lobão, que é senador, tem o João Castelo, que já esteve lá por Brasília, tem mais um senador e tem deputado. O que nós estamos investindo no Maranhão este ano e até 2010 em saneamento básico é mais do que tudo que o governo antes de mim investiu no Brasil inteiro. Sabe, por que, gente? Você pega uma cidade maravilhosa como Florianópolis, que tem praias exuberantes, parece uma cidade milionária e não tinha um metro de esgoto, porque a classe política brasileira, historicamente, não gostava de fazer saneamento básico. Tem muita gente que fala que é enterrar dinheiro. Por que o que é saneamento básico? Cavar um buraco, colocar umas manilhas, pegar os dejetos humanos que nós fazemos, canalizar para um lugar, tratar e devolver parte deles, bem-tratados, para não poluir os rios e o mar.


Mas isso custa caro, e isso ninguém vê. Não dá para ninguém colocar o nome da mãe, do pai, do avô, em uma manilha embaixo da terra, ninguém vê. Então, as pessoas preferiam fazer uma ponte, mesmo que não soubessem para onde ela vai, para aonde ela vem. Eu lembro que na minha cidade, em São Bernardo do Campo, onde era o prédio do meu sindicato, em 1974, desapropriaram o prédio, fizeram uma ponte e passaram 15 anos depois da ponte pronta discutindo o que essa ponte ia ligar a que rua. Até que inventaram uma rua para poder dar razão à ponte.


Ora, o que eu acho que está mudando no Brasil? É que as pessoas estão percebendo que em vez de a gente colocar uma placa em uma ponte, homenageando um parente da gente, é muito melhor a gente colocar uma fotografia de uma criança bebendo água decente e não pisando em esgoto a céu aberto, é muito mais digno e muito mais decente porque significa que a gente está tratando da saúde daquela pessoa. Quem é médico sabe que cada vez que a gente investe em saneamento básico, a gente está investindo, na verdade, em saúde, que a gente está evitando que as pessoas fiquem doentes como deveriam ficar se não tivesse o tratamento de esgoto.


Então, nós temos consciência de que nós estamos fazendo no Brasil o maior investimento da história deste país em saneamento básico, em todas as cidades brasileiras. Eu não quero saber se o João Castelo é do PSDB, eu não quero saber se o outro é do PFL, eu não quero saber se é do PT. Eu quero saber se o povo está na merda e eu quero tirar o povo da merda em que ele se encontra. Esse é o dado concreto.


Para falar… É lógico que eu falei um palavrão aqui. Amanhã os comentaristas dos grandes jornais vão dizer que o Lula falou um palavrão, mas eu tenho consciência de que eles falam mais palavrão do que eu todos os dias e tenho consciência de como é que vive o povo pobre deste país. E é por isso que nós queremos mudar a história deste país. Mudar a história deste país não é escrever um novo livro. É escrever, na verdade, uma nova história deste país, incluindo os pobres como cidadãos brasileiros. Então, essa é uma coisa extraordinária.


A outra coisa extraordinária que está mudando no País é que – vejam que coincidência, minha querida Governadora, meu prefeito e meus ministros – exatamente eu – é ironia do destino -, exatamente eu, que não tenho diploma universitário, vou passar para a história do Brasil como o presidente que mais investiu em universidades neste país. É uma ironia, porque eu conheço gente que era da “fina flor” e que não fez uma, não fez uma, exatamente porque ele já tinha estudado e já tinha aprendido. Para que pobre aprender? Pobre? Pobre tem mais é que capinar. Pobre, se arrumar emprego de pedreiro já está bom. Isso é o que eles pensavam, mas nós não queremos que pobre seja apenas pedreiro. Queremos que ele seja engenheiro, queremos que ele seja médico, queremos que ele seja dentista. E é essa coisa que está mudando no Brasil.


É por isso que nós vamos entregar 14 universidades novas e 104 campi avançados neste país, levando extensões universitárias para o interior, porque essa meninada que está aí vai ser mais qualificada do que os pais deles, e os filhos deles vão ser mais qualificados do que eles. E aí, quando isso acontecer, o Brasil entrará no rol dos países de primeiro mundo porque não estará exportando soja ou minério de ferro estará exportando conhecimento, inteligência, tecnologia, valor agregado. É isso que está mudando no Brasil.


Ora, vocês acham que se não fosse eu na Presidência, se não fosse o Lobão, que é do Nordeste, alguém ia lembrar de levar uma refinaria para Pernambuco, para o Rio Grande do Norte, para Natal, para São Luís, para Fortaleza? Acham? Nem a Petrobras queria fazer, porque a Petrobras acha que as que ela tem já atendem aos interesses da Petrobras. Ora, mas os interesses da Petrobras são importantes, mas não são maiores do que o interesse do Estado brasileiro e do povo brasileiro.


Agora, que nós encontramos muito petróleo, nós não queremos vender petróleo cru, nós não queremos entrar na OPEP. Não. Nós não queremos entrar na OPEP, não. Nós queremos é exportar derivados de petróleo, é fazer gasolina premium. É tão chique, que nós vamos exportar a gasolina premium para os Estados Unidos, para a Europa, para o Japão. Porque, se eles fossem mais espertos, eles fariam como nós, colocariam 25% do nosso álcool na gasolina, a gente produziria álcool à vontade para eles, eles iriam despoluir o Planeta e não estariam tão preocupados com a reunião de Copenhague que nós vamos ter agora, para discutir a questão do clima.


Então, esta é uma coisa. O Nordeste entrou numa fase de desenvolvimento que não tem mais retorno. Uma refinaria aqui vai trazer uma quantidade de empresas, uma quantidade de empregos que eu penso que o Maranhão não viu, em toda a sua história. Porque, se a gente não cuida disso, quem leva esses investimentos são os estados mais ricos, que têm melhor mão de obra formada, que têm mais engenheiros, que têm mais estradas, que têm mais ferrovias, que têm mais pontes, que têm os portos perto da produção, e nós, aqui, vamos ficando esquecidos.


Ora, não é porque eu fui para São Paulo e aprendi tudo o que eu sei na vida em São Paulo, que eu vou esquecer de onde eu vim, que é o Nordeste brasileiro, e esquecer o que nós passamos quando eu era pequeno, no Nordeste.


E, veja que engraçado, eu estava conversando com a companheira Roseana, e estava lembrando o seguinte: só o estado do Maranhão, só o estado do Maranhão… O Maranhão tinha, historicamente, quatro escolas técnicas. Tinha uma em Imperatriz, tinha uma em Maracanã – é a de São Luís? -, tinha uma em Codó e tinha uma em Monte Castelo, historicamente, historicamente. Ou seja, de 1909, quando Nilo Peçanha era Presidente, que fez a primeira escola técnica, até 2003, em todo o Brasil, em cem anos, foram construídas 140 escolas técnicas. Nós, em oito anos, vamos construir um uma vez e meia o que foi construído em cem anos, em oito anos. E aqui no Maranhão nós já temos funcionando, nova, Buriticupu, já temos aqui no centro histórico de São Luiz, já temos (incompreensível) funcionando, está funcionando, mas ainda está quase pronta a (incompreensível) de Santa Inês. E até dezembro de 2010 nós vamos inaugurar Timon, Alcântara, Bacabal, São Raimundo das Mangabeiras, Pinheiro, São João dos Patos, Barra do Corda, Barreirinhas e Caxias. Até o final do ano estarão todas entregues – não deste ano, do ano que vem -, estarão todas prontas.


Dia 15 de dezembro agora eu vou participar de um ato com o Ministério da Educação, em que, no ano de 2010 [2009], nós fizemos 100 escolas técnicas profissionais neste país. E por que nós estamos fazendo isso e por que, coincidentemente, isso acontece em um governo de um presidente que não tem diploma universitário, mas que tem um curso técnico? É porque eu vivi na pele coisas que eu não quero que vocês vivam. E eu acho que o grande papel de um governante é fazer para o seu povo mais do que ele recebeu da sua nação. E fazer, sabe, não como se fosse um favor, mas como se fosse obrigação.


Afinal de contas, quando nós criamos o ProUni, nós tínhamos um problema sério de fazer o ProUni. A UNE teve um papel extraordinário de contribuição. O que era o ProUni? A gente não tinha prédio; era preciso colocar os pobres na escola. Então, o que nós fizemos? Fizemos um convênio com as universidades privadas. Fizemos uma isenção de impostos e transformamos o equivalente ao imposto em bolsas de estudos. E nós colocamos as pessoas das escolas públicas da periferia. Hoje nós temos 695 mil jovens no ProUni, ou seja, pobre da periferia deste país fazendo universidade. E aqui no Maranhão, Roseana, aqui no Maranhão, só para ter ideia, o ProUni, aqui em São Luís, são praticamente quase 8 mil jovens, e no estado do Maranhão o ProUni são praticamente 70 mil jovens. Em uma demonstração…vocês estão lembrados quando nós criamos o ProUni? Teve muita gente que escreveu nos jornais que eu estava nivelando a educação por baixo. Era preconceito. Porque eles achavam que, colocar pobre na escola, a gente ia baixar o nível da escola. O que aconteceu três anos depois? Quando o Ministério da Educação fez o senso, os melhores alunos eram exatamente os do ProUni, dos quais, dos 695 mil alunos, 40% são meninos e meninas negros deste país, que antes não entravam na universidade.


Criamos o Reuni, vocês estão lembrados. O que era o Reuni? Eu não me conformava de que, dentro de uma sala de aula, a gente tivesse, em média, 12 alunos por professores, nas universidades federais. A média era 12 alunos por professor. E eu achava que era preciso colocar mais alunos. Fizemos um acordo com reitores, para colocar, em média, 18 alunos. Houve muita briga, teve gente que não queria, quebraram reitoria, porque os “filhos de papai” que já estavam na universidade não queriam que os pobres entrassem na universidade. Eles já estavam lá. Para que pobre ir lá? Para atrapalhar? O dado concreto é que em apenas um ano e meio nós dobramos as vagas ofertadas pelas universidades federais. Nós saímos de 113 mil alunos por ano, que era a renovação, para 227 mil alunos este ano, nas universidades federais brasileiras.


Ora, o que isso vai fazer? Isso vai fazer com que daqui a dez anos a gente tenha uma nova geração de jovens, de mestres e de doutores neste país. E que a gente tenha a ofertar, a quem queira vir investir no Maranhão, não apenas uma ferrovia, ou um porto, que a gente tenha mão de obra qualificada, para que as nossas meninas e os nossos meninos não ganhem apenas um salário mínimo, mas que possam ganhar dez mínimos, oito mínimos, 15 mínimos, porque é assim que a gente vai melhorar a vida das pessoas.


Por isso, eu quero me despedir de vocês dizendo para vocês o seguinte: falta apenas um ano para eu terminar o meu mandato, falta apenas um ano para terminar o mandato. Para mim, falta muito pouco, para quem está concorrendo falta muito ainda. Ou seja, o dado concreto que eu quero dizer para vocês é o seguinte: eu penso que vai ganhar as eleições quem eu penso que vai ganhar. Eu não posso falar nome, eu não posso. Agora, eu quero dizer uma coisa para vocês, podem escrever e anotar: não tem volta. Quem quer que ganhe as eleições, neste país, está comprometido, por uma simples razão: nenhum doutor que ganhar vai poder fazer menos do que eu fiz, ele vai ter que fazer muito mais, ele vai ter que fazer muito mais. E eu sei quem é que vai fazer muito mais. Eu sei quem é que tem competência e, no momento certo, eu vou dizer para vocês.


Um abraço e até outro dia, de Deus quiser.”


Fonte: Luizmuller’s Blog


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