Diversidade, emoção e conquista: primeira formatura de Licenciatura Intercultural Indígena da UFSC

O juramento na colação de grau da primeira turma de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica da UFSC, na noite de quarta-feira, 9 de abril, falava de cultura, liberdade, autonomia, luta pela terra, autodeterminação, alegria e crianças sadias. Os discursos reiteravam a preocupação com o futuro e com manter tradições e costumes para os filhos. Pois eles estavam lá. Mais ainda do que a média habitual das formaturas, a cerimônia estava repleta de crianças, famílias e amigos, muitos dos quais vieram de longe para a ocasião: os formandos – das etnias guarani, kaingang e laklãnõ/xokleng  são provenientes do Mato Grosso do Sul (MS), Espírito Santo (ES), Rio de Janeiro (RJ), Santa Catarina (SC) e Rio Grande do Sul (RS).

Do UFSC

Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC

 

Adelino Gonçalves foi o primeiro formando da noite. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC
Adelino Gonçalves foi o primeiro formando da noite. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC

Pouco antes do início da cerimônia, o kaingang Armandio Bento, 48 anos, (“21 deles como professor”, faz questão de ressaltar) não aparentava nervosismo. “Estou tranquilo e muito feliz. Agora poderei trabalhar com turmas mais avançadas, e podemos aprimorar as escolas indígenas na minha cidade”, comemorava. A cidade a que ele se refere é Redentora, no Oeste do Rio Grande do Sul (RS), com população de pouco mais de 10 mil pessoas. “Nossas principais atividades lá são o artesanato e a agricultura, e queremos continuar com essas coisas, mas também levar mais saúde e valorizar cada vez mais o estudo”, prevê.

Adelino Gonçalves foi o primeiro formando da noite. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC
Adelino Gonçalves foi o primeiro formando da noite. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC

Familiares e amigos que vieram com os formandos já se reuniam nos arredores do Centro de Cultura e Eventos desde o meio da tarde. Os trajes de formandos e convidados mostravam a diversidade também no estilo.

Com 11 pessoas na “torcida”, o xokleng Woie Patté, de José Boiteux, era um dos mais animados, tanto na hora de subir ao palco para tomar o lugar na cerimônia quanto na hora de receber o diploma: entrou, acenando para a família; abriu os braços; inclinou-se para agradecer; quando pareceu que ia sentar-se, caminhou de volta em direção à plateia e foi aplaudido à altura. “É uma noite de muita alegria, estou emocionado mesmo”, diz. Ele trabalhava como agente de saúde e resolveu aproveitar a oportunidade de fazer uma graduação e iniciar uma carreira acadêmica agora, os planos incluem mestrado e doutorado.

Woie Patté comemorou com entusiasmo o recebimento do diploma. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGCUFSC
Woie Patté comemorou com entusiasmo o recebimento do diploma. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGCUFSC

O discurso dos oradores ressaltava a importância das tradições culturais e da demarcação de território indígena. “Não importa o povo ou etnia a que pertencemos, somos todos irmãos, filhos desta terra”, lembraram. A voz chegou a falhar por causa da emoção quando dois colegas foram lembrados: Natalino e Eduardo, que são parte da turma, mas faleceram antes de terminar o curso. A paraninfa Maria Dorothea Post Darella prestou uma homenagem especial à formanda Maria Cecilia Barbosa, que se tornou bisavó enquanto fazia o curso. O presidente da Funai, Flávio Chiarelli Vicente de Azevedo, também compareceu à cerimônia.

Foi o cuidado com a família e seu povo que impulsionou o primeiro formando da noite, o guarani Adelino Gonçalves, a completar o curso, após quase haver desistido. Morador de Biguaçu (SC), conta que a rotina de trabalho e estudos ficou forçada demais, e ele quase largou a graduação pela metade. “Mas eu sei que isso vai fazer uma diferença para nós. Tenho que espalhar esse conhecimento, temos que mostrar as coisas que aprendemos e valorizar o que ensinamos. A experiência de convivência foi muito importante; um dos motivos para os não índios não respeitarem nossa cultura como deveriam é porque não a conhecem”, observa.

Maria Cecilia Barbosa, que se tornou bisavó enquanto fazia o curso, recebeu homenagem especial. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC
Maria Cecilia Barbosa, que se tornou bisavó enquanto fazia o curso, recebeu homenagem especial. Foto: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC

Fábio Bianchini/Jornalista da Agecom/DGC/UFSC

Claudio Borelli/Revisor de Textos da Agecom/DGC/UFSC

Fotos: Henrique Almeida/Agecom/DGC/UFSC

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