Existiu um tempo na minha vida em que sonhei de maneira desavergonhada. Quando estudante de Cinema, sonhava que seria uma das mais brilhantes diretoras de filmes do Brasil. Depois, ao escrever meu primeiro romance (até hoje inédito) sonhava que ele seria um marco na literatura nacional.
O fato é que me projetar com sucesso era natural em mim. Não eram só devaneios. Estudei e trabalhei fundo para conquistar vitórias – acreditando minhas por direito. Nos meus anos de escritora de romance, pulava da cama às cinco e ia para o ringue com as palavras.
Eu ainda sonhava com parágrafos perfeitos dando conta da justa mensagem. Assim como idealizava leitores dispostos a trabalhar duro para merecerem o prazer do texto. Hoje, reconheço que fui uma máquina de acreditar. Talvez – lá se foram robustos anos – por então saber tão pouco da vida. Não que agora saiba muito mais.
Vindos os dissabores e as frustrações, decidi matar a sonhadora que insistia em mim. Lenta, mas aplicadamente, fui me tornando uma pragmática. Ou, melhor imagem, uma Santa Tomé. Tinha que acontecer primeiro para eu crer depois. É claro, foi uma forma de reagir à dor das ilusões perdidas.
Mas de uns meses para cá, ando reorganizando o olhar para mim mesma. Tenho percebido que sem sonho não há vida, do mesmo modo que sem água não há barco. O sonho não precisa ser desvairado ou imenso. Ele pode ser como a esperança. Algo que raciocinamos que pode dar certo ou não, mas sonhamos que dê.
Tenho feito o exercício de levantar a cabeça. Espichar o olhar para o outro lado do rio. Perguntar e perguntar o que haverá na outra margem. Porque sempre existirá alguma coisa além do que enxergamos. Essa coisa não precisa ser nada fabulosa, como um unicórnio ou um dragão. Nem carece ser colorida ou perfumada.
Necessita apenas que bagunce de forma boa meu mapa mental. Algo que faça valer a pena pôr o barco a navegar. O que é igual a voltar a sonhar. Afinal, o que nos alegra é atravessar. É o movimento que nos mantêm respirando.
Fonte: Yahoo