Donos do poder revivem darwinismo social para justificar mortes na pandemia

A pandemia do coronavírus fez ressuscitar o discurso que norteou a concepção do liberalismo: o darwinismo social. É isso que explica as afirmações de Bolsonaro e de um grupo de empresários que, sem rodeios, consideram a morte de idosos e pessoas frágeis perdas colaterais, menos importantes do que manter os negócios. A análise é de Silvio Almeida, advogado e doutor em filosofia e teoria geral do direito, em entrevista ao TUTAMÉIA (acompanhe no vídeo acima e inscreva-se no TUTAMÉIA TV).

Por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, do Tutaméia

“Historicamente no capitalismo, nas pandemias geralmente surge esse discurso de descarte de corpos. Na gripe espanhola aconteceu a mesma coisa. Não é novo na história colocar uma escolha entre a fome e a peste. Agora isso está muito evidente. Não dá para sustentar a vida e o sistema ao mesmo tempo. Ele precisa inventar uma maneira de falar que nem todas as vidas importam. É preciso hierarquizar as vidas. É uma grande contradição. Mais do que uma imoralidade, é uma tentativa desesperada de preservar o funcionamento do sistema tal como ele é hoje”, declara.

Concebida por Herbert Spencer (1820-1903), a teoria do darwinismo social capturou sem a autorização de Charles Darwin conceitos da evolução biológica para defender que os mais ricos e poderoso eram os mais aptos na competição social. “A vida social faria com que, de forma quase que natural, os mais fortes e mais aptos ocupassem os lugares de destaque na sociedade. É o discurso que vai fundar o liberalismo”, explica Almeida. A teoria traz consigo a ideia de indiferença social, que “os pobres não souberam fazer, não conseguiram se adaptar. Por isso são fadados à morte, ao desaparecimento, à destruição”.

Professor da FGV, Almeida é presidente do Instituto Luiz Gama e atualmente dá aulas na Universidade de Duke (EUA). De lá, falou ao TUTAMÉIA sobre os impactos da pandemia naquele país, fez comparações entre Trump e Bolsonaro e identificou similaridades no debate no interior das burguesias norte-americana e brasileira. Tratou da resistência e da necessidade de ampliação do debate, que não pode ficar restrito a uma divisão entre o bem e o mal, mas ao funcionamento de todo o sistema capitalista.

“Com a manutenção desse modo de vida é aguardar a próxima epidemia na próxima esquina. Isso vai acontecer de novo. E não se sabe o quanto pior pode ser”.

MARTINHO LUTERO

Depois da entrevista com Almeida, TUTAMÉIA fez uma homenagem ao trabalho e à memória da regente Naomi Munakata, morta neste 26.03 aos 64 anos, vítima do cornavírus.

E dedicamos o programa ao maestro Martinho Lutero, criador da Rede Cultural Luther King, que morreu nesta quarta-feira, 25.03, também em consequência de infecção provocada pelo coronavírus.

Dedicou sua vida à arte, à cultura e a luta por um mundo melhor, mais justo e solidário, sempre compromissado com a defesa da liberdade, da igualdade e do respeito à dignidade humana.

No comunicado em que anunciou a morte do maestro, sua companheira, Sira, escreveu: “Que toda a música e todo o amor que dividiu conosco nos consolem”.

+ sobre o tema

Macaé Evaristo manifesta preocupação com exposição excessiva às bets

Recém-empossada no Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania,...

Liderança deve ir além das desgastadas divisões da esquerda e da direita

Muitos líderes preferem o caminho da enganação ao árduo...

Desigualdade salarial: mulheres ganham 11% a menos no DF, mesmo com lei de equidade em vigor

A desigualdade salarial entre homens e mulheres no Distrito...

No Brasil, 4,5 milhões de crianças precisam de uma vaga em creche

Em todo o país, 4,5 milhões de crianças de...

para lembrar

Na direção da reparação para afrodescendente

Fonte: Memória Lélia Gonzalez Senado debate reparação para afrodescendente...

Petrobras assina contrato para promover igualdade racial; Nordeste será foco

Por: Vanessa Silva     RIO DE JANEIRO...

Calero rebate Geddel: ‘Eu posso ser doce, mas sou honesto’

Após sair do ministério da Cultura devido a pressões...

Política: O que é ser esquerda, direita, liberal e conservador?

Nas eleições presidenciais e estaduais de 2014, o Brasil...

Nordeste e Norte elegeram mais prefeitas mulheres nos últimos 20 anos

Mossoró, município de 265 mil habitantes no interior do Rio Grande do Norte, teve prefeitas por cinco vezes desde 2000, a maior marca brasileira entre cidades...

Candidatos ignoram combate ao racismo em debates em SP, 2ª capital mais desigual do país

As políticas de combate ao racismo foram praticamente ignoradas até agora nos debates dos candidatos à Prefeitura de São Paulo. Os encontros ficaram marcados por trocas de acusações,...

Direita invisibiliza mulheres, negros e LGBTI+ em seus planos de governo, dizem especialistas

Violências, falta de políticas públicas, dificuldade para acessar direitos e preconceitos que aparecem de diversas formas. Mulheres, pessoas negras e a população LGBTI+ enfrentam...
-+=