A dororidade e a dor que só as mulheres negras reconhecem

“Boa noite, Vilma. Seu livro mostrou meu não lugar… não tenho a branquidade de Schuma Schumacher (escritora e feminista), nem a vivência das Pretas. Na mente o conceito está registrado, no emocional vou descobrir minha história. Quanto aos feminismos, dororidade se soma aos esforços da sororidade. Bom trabalho. Parabéns e obrigada. Forte abraço….”

Por Mônica Francisco, do Jornal do Brasil 

Com esse comentário, Ângela Fontes, feminista histórica, economista e doutora em geografia, fala sobre a obra produzida por Vilma Piedade , em uma carinhosa mensagem  dividida comigo em um misto de alegria quase adolescente e um ar de responsabilidade aumentando nível mil.

Vilma Piedade, mulher negra, pós-graduada em literatura brasileira e português, e uma ferrenha lutadora dos direitos das mulheres negras, fala com pulmões plenos e uma força no olhar, que “dororidade” é a cumplicidade entre mulheres negras, pois existe dor que só as mulheres negras reconhecem , por isso a sororidade não alcança toda a experiência vivida pelas mulheres negras em seu existir histórico.

Vilma espreme o conceito da sororidade, palavra derivada do termo em latim  “sóror”, que significa irmã.  A sororidade que significa uma relação de solidariedade, cumplicidade e cuidado entre mulheres, segundo ela, não dá conta das vicissitudes das mulheres negras.

A nossa sociedade não consegue absorver de modo natural a presença dos corpos negros femininos fora dos lugares cultural e historicamente destinados para elas, e sua dor é completamente invisibilizada. As mães e mulheres que vivenciam a perda ou encarceramento dos seus filhos, maridos, irmãos ou companheiros, que sofrem as agruras afã violência obstétrica, são um bom exemplo disso.

Segundo a escritora e coordenadora da Rede de Desenvolvimento Humano (Redeh), Schuma Schumacher, o feminismo precisa assumir abertamente a luta antirracista; e dororidade é um passo importante no entendimento dessa necessidade que a autora evidencia em sua escrita.

Não há democracia plena sem a inclusão das mulheres negras embutida a estrutura da sociedade.

* Colunista, Consultora na ONG Asplande e Membro da Rede de Instituições do Borel 

 

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