Douglas Belchior: debate racial no Brasil é a pólvora da luta de classes

Em entrevista à TV 247, o professor, fundador da Uneafro e uma das mais respeitadas lideranças do movimento negro, Douglas Belchior, defende que “não é possível discutir um projeto para o Brasil que não parta do debate racial”; “Todo problema social no Brasil tem origem no racismo”, diz; editor do blog Negro Belchior, ele comenta o caso William Waack e afirma que “a Globo, como maior educadora da nação, é o principal motor de massificação da ideologia racista”; ele fala sobre a importância da representatividade em cargos de poder e na mídia, mas alerta que “não basta ser negro, é preciso carregar a elaboração do movimento”; ele também fala de cotas e cita dados da violência contra a juventude negra no País: “nós vivemos no Brasil não é uma guerra, não, é um massacre, é genocídio”; assista

Do Brasil 247 

Um dia depois da realização de manifestações organizadas em vários locais do Brasil em celebração ao Dia da Consciência Negra, no último dia 20 de novembro, o professor e militante do movimento negro Douglas Belchior explicou o significado deste dia em entrevista à TV 247. (Reprodução/Brasil247)

“O Dia da Consciência Negra é o dia da tomada de consciência étnica, racial, de que nós somos um povo historicamente oprimido”.

Para Belchior, que edita o famoso blog Negro Belchior, hospedado no site da revista CartaCapital, “o debate racial no Brasil é a pólvora da luta de classes”. “Não é possível discutir um projeto para o Brasil que não parta do debate racial”, defende.

Todos os problemas sociais no Brasil, como desigualdade, moradia, saúde, cita ele, têm como origem o problema racial. “Não é possível falar de nenhum grande problema nacional ignorando o fato de que nós somos um país com histórico colonial, escravocrata e que essas condições permaneceram na pós-escravidão”.

Douglas Belchior comenta o recente caso em que o jornalista William Waack, flagrado fazendo um comentário racista, foi afastado da Globo, e afirma que a emissora, “como maior educadora da nação, é o principal motor de massificação da ideologia racista” no Brasil.

Questionado sobre o que pensa de uma eventual candidatura à presidência do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, respondeu:

“É óbvio que a gente acha importante que figuras negras ocupem espaços de poder, espaços na mídia, mas nós que somos de movimentos queremos mais do que uma figura negra. Precisa ser alguém que carregue contigo a elaboração do movimento, e o Joaquim não é. Não basta ser negro”.

Belchior traz números da violência contra a população negra, especialmente os jovens, e constata que “nós vivemos no Brasil não é uma guerra, não, é um massacre, é genocídio”.

Ele também condena os retrocessos do governo Temer, cujas consequências afetam principalmente a população negra: “A população vítima da terceirização é a população negra. E já era antes”, destaca.

E faz uma observação importante a respeito do racismo: “o racismo não é a ideia de que o negro é inferior. Racismo é a ideia de que o branco, anglo-saxão, é superior a todos os outros. O racismo é uma doença dos brancos que, coitados, se acham superiores”.

Assista à íntegra:

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