E se eu chegar aos 35 sem estar com a vida resolvida?

É o princípio do fim?

Já ouvi falar que a crise dos 30 é pior do que a crise dos 40. Não sei, por enquanto vou lidando com as crises dos 27. Mas sinto que há realmente algo de estranho no ar. As pessoas fazem 30 e alguns anos e parecem começar a achar que estão automaticamente com a corda no pescoço. Acham que já deveriam ter formado família, já deveriam ter ficado ricos (ou pelo menos construído um bom patrimônio) e resolvido qualquer outro penduricalho da vida.

Por Ruth Manus, do Estadão 

Parece que os 30 deixaram de ser a linha de largada para a vida e passaram a ser uma espécie de reta final, como se os 40 fossem o princípio do fim.

Ontem conversava com uma colega do doutorado de 33 anos, que se julgava atrasadíssima na vida, por não estar plenamente satisfeita com a carreira e por ter terminado há uns meses o relacionamento no qual ela apostava todas as suas fichas. Nós temos 6 anos de diferença e ela se referia a mim como uma jovem na flor da idade e a ela como alguém já quase sem esperanças. Os 6 anos subitamente se transformavam em 20.

É engraçado como as pessoas aceitam que os tempos mudaram para muitas coisas: tecnologias, carreira, viagens, planos. Mas ainda se cobram um ritmo de vida semelhante ao de seus pais. Quantas vezes ouvimos “na minha idade, meus pais já tinham 2 filhos e 10 anos de casados…”. Lindo, gente. Mas é a história deles, não a nossa.

Outro dia, a amiga mais bonita que tenho, do alto dos seus anciões 34 anos, me perguntou “Rú, mas você sinceramente acha que um dia eu ainda vou encontrar alguém?”. Amigos normais diriam “Claro! Lógico que vai!”. Eu só consegui dizer “Vá à merda.”. Deus do céu! Ela é deslumbrante, ridiculamente inteligente, ganha rios de dinheiro, divertida e, depois de um divórcio e de ver os 35 anos se aproximando, parece ter se colocando num posto de derrota e ceticismo. Duas semanas depois ela encontrou um engenheiro bonitão estrangeiro e estão felizes da vida. Fiquei satisfeita por tê-la mandado à merda.

O lance é que as pessoas só sabem se comparar com os amigos que formaram a vida de propaganda de margarina. Não se comparam com o amigo divorciado e sem grana, com a colega de trabalho que tá rica e nunca sai com ninguém, com o primo que tem uma família linda que não consegue sustentar, com a chefe que tem um casamento feliz, mas que não está nada feliz com a carreira… Enfim, com os pobres mortais, como todos nós.

E muita gente nem pára para se questionar se quer mesmo a vida de propaganda de margarina. Se realmente quer formar família, comprar um Corolla prata e trabalhar de roupa social. Se quer, beleza, vá atrás. Se não, vá atrás do que te faz feliz. Mas acima de tudo: vá com calma.

Eu sei que tem preocupação com o relógio biológico, com as demandas do mercado, com as expectativas dos que nos cercam… Mas eu peço aos meus amigos trintões que simplesmente parem de achar que estão velhos, atrasados, devedores do tempo. Vocês estão no auge, no início da caminhada, são credores da vida.

E pode até ser que eu aos 35 tenha essa mesma crise. Mas espero lembrar que 35 é pouco. Que 38 também. E que os 40, definitivamente, não são o encontro com a morte, à beira do abismo. Espero lembrar que a vida não é para ser uma corrida contra o tempo. Que a gente tem que ir andando, dando umas reboladas, umas tropeçadas e tal. E vai rindo, vai pensando, vai vivendo. Vivendo. Porque enquanto futuro tá lá, a vida tá rolando aqui.

 

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