Na última quarta-feira (17) ocorreu a nona edição da premiação Woman’s Music Event Awards, focada em homenagear o trabalho das mulheres brasileiras na indústria musical. Este ano, a vencedora da categoria “Artista Revelação” foi a rapper Ebony.
A artista, que lançou seu primeiro EP em 2020, aproveitou a oportunidade de discursar para questionar quantos anos de trajetória uma mulher negra do rap precisa para ser reconhecida: “admito que eu evitei dar visibilidade para essa indicação, pois desde o primeiro momento eu senti que não era muito justa. Eu faço música há 8 anos e hoje estou aqui, com milhões de seguidores, 3 álbuns, 300 milhões de streams e há anos tenho diversas músicas no chart. Então isso me trouxe um questionamento: quanto uma mulher negra do rap precisa conquistar para ser revelação? Será que essa régua seria a mesma para artistas de outros gêneros, com agências e empresários influentes?”
Há muito tempo, Ebony tensiona o modo como as lentes do racismo e sexismo moldam a capacidade das pessoas reconhecerem a intelectualidade, a genialidade e a legitimidade de mulheres negras na cena Hip Hop.
Em Bratz (2019) ela canta: “quer falar que não é trap só porque eu sou mulher, vê se tu me respeita”. No ano de 2023, Ebony escalonou suas críticas com o lançamento da diss “Espero que entendam”. Nesta composição, provoca vários artistas do rap e do trap. De forma muito crua e direta, ela aponta as desigualdades existentes na cena, o que fez com que os artistas mencionados começassem a gravar vídeos reagindo à primeira vez que escutaram a diss. Alguns reagindo com tranquilidade. Outros, ressentidos. Mas o resultado foi que, rapidamente, a faixa virou debate público.
Em 2025 a Baddie Ebony lançou o disco “KM2”. Na obra, aborda dinâmicas próprias do território que cresceu, relações pessoais e sociais, desigualdades de raça e gênero, vulnerabilidades, sexualidade e aspectos da sua história. Na faixa “Roubando livros”, diz: “Muitos falam muito, mas não arriscam como eu me arrisco / Agora fala alto, pra eu ouvir que esse é o melhor disco / Quando a linha bate, tu começa a ver verdade nisso / Consigo ver os bofe tudo em choque, olhando pros amigo /
Com cara de, Deus, vai ser difícil por defeito nisso /
Eu sei que é confuso, uma garota é o melhor rapper vivo”
A canetada, termo muito utilizado entre compositores do rap, traz pontos muito pertinentes sobre as desigualdades de gênero e evidencia o modo como os homens do rap percebem e se posicionam sobre o trabalho das mulheres da cena. A grandeza e excelência do disco KM2 são inegáveis, é um trabalho impossível de ser apequenado pela misoginia.
Ebony é um grande nome da juventude de mulheres no enfrentamento das desigualdades raciais e de gênero e uma porta-voz da ética Hip Hop, que como Ajuliacosta também mandou o recado: “Se Hip Hop é sobre igualdade, essa porra que vocês fazem nunca foi rap”.
Vida longa às mulheres que carregam a cena nas costas e não deixam o Hip Hop morrer.