Educação e cultura: combinação ideal para transformar o país

Ambiente mesclado promove reencantamento da escola e conecta alunos

Além das questões urgentes e estruturais, os novos governos terão, no campo da educação, o desafio monumental de buscar equidade e alinhar o ensino público a uma economia cada vez mais pautada pela inovação, pela criatividade, pela tecnologia e pelo pensamento crítico.

Um dos caminhos mais promissores para alcançarmos esse objetivo é apostar na combinação de educação e cultura na formação dos estudantes brasileiros, tornando o aprendizado mais amigável, colaborativo, estimulante, acolhedor e conectado ao ambiente contemporâneo.

Essa abordagem tem base científica consolidada. Vários estudos internacionais apontam para o impacto positivo da cultura no aprendizado. Alguns destes trabalhos foram reunidos pelo Itaú Social no documento “Artes e Esportes – Relação com o desenvolvimento integral” e mostram que estudantes expostos à dança, à música, ao teatro e às artes visuais, entre outras atividades do gênero, têm melhor desempenho na leitura, escrita e matemática em comparação com aqueles que seguem apenas o currículo tradicional.

Os estudos indicam ainda que o ensino das artes melhora a motivação dos alunos para se envolverem em projetos de diferentes temas e disciplinas e que a análise de obras de arte e peças visuais fornece estímulo à metacognição (pensar sobre o que se pensa), além de apoiar os processos de aprendizagem em qualquer área do conhecimento.

De forma geral, a cultura traz elementos transversais que contribuem decisivamente para o desenvolvimento integral, o que inclui não só a dimensão intelectual, mas também a emocional e social, que são importantes para crianças e adolescentes construírem de forma autônoma os estilos de vida que desejam e sua atuação na sociedade. Como preconiza o Nobel de Economia Amartya Sen, mais do que nunca precisamos resgatar o valor e o foco no desenvolvimento humano.

Esse ambiente de formação escolar mesclado à cultura está em sintonia com os novos modelos de análise de desempenho de estudantes no mundo. Em 2022, o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), por exemplo, passou a avaliar a dimensão do pensamento criativo dos estudantes, considerada competência chave para o futuro.

A cultura reúne ainda elementos importantes para promover o reencantamento da escola e reconectar os alunos com as salas de aula, especialmente nesta fase de retomada, depois de constatarmos o crescimento acentuado dos índices de evasão em todo o país durante a pandemia de Covid-19.

Como se não bastassem todos esses argumentos, a aproximação de educação e cultura tem o condão adicional de promover o bem-estar e a saúde mental dos alunos e de suas famílias. Pesquisa do Itaú Cultural realizada em parceria com o Datafolha, em 2022, mostrou que o consumo de atividades culturais resulta, para cerca de 50% dos indivíduos, em melhora da qualidade de vida e do convívio em casa, além de diminuir o estresse, a ansiedade, a sensação de solidão e de tristeza.

Há muitas possibilidades para a aproximar a cultura da educação. Essencialmente, precisamos ampliar com qualidade a oferta de escolas de tempo integral, com currículos que incorporem os saberes das organizações da sociedade civil, da comunidade, dos movimentos e equipamentos culturais dos estados e municípios, com oportunidades para os alunos conhecerem seus territórios, com vivências promovidas por museus, centros culturais, bibliotecas e outros espaços de arte e cultura. Esta, inclusive, é uma demanda dos próprios estudantes: jovens ouvidos pela pesquisa Atlas das Juventudes 2022, apoiada pelo Itaú Educação e Trabalho, apontam a ampliação das atividades culturais na escola como uma das prioridades.

Já existem experiências dentro e fora do Brasil que podem apontar caminhos e inspirar os esforços do poder público e da sociedade nessa jornada de melhoria do ensino. Investir em políticas públicas que articulem arte e educação certamente nos ajudaria a avançar mais rapidamente e com mais qualidade, garantindo as bases que precisamos para superar os desafios da formação e do futuro dos nossos estudantes e do país.

+ sobre o tema

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...

para lembrar

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...
spot_imgspot_img

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro no pé. Ou melhor: é uma carga redobrada de combustível para fazer a máquina do racismo funcionar....

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a categoria racial coloured, mestiços que não eram nem brancos nem negros. Na prática, não tinham...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira (27) habeas corpus ao policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, réu por assassinato de Guilherme Dias...